Primeiro Arco de Icaro: Ato II - O quão alto estamos?

Lado a lado com Valentina, você atravessa a larga área gramada localizada ao fundo da grande mansão central, onde os "bunkers" individuais residiam. Era uma silenciosa e breve caminhada acompanhada por uma brisa morna daquele prelúdio de madrugada. O ventos traziam consigo o perfume que só os campos da Toscana poderiam ter, seus olhos encontravam os detalhes daquela maravilhosa mansão, a propriedade dos Ulfilia era enorme e poderosa!

Passo a passo, em um ritmo lento por causa de sua perna debilitada, vocês dois seguiam a atravessar a planície. Valentina estava muito distante, com os olhos quase fechados. Algo estava a fazendo forçar a própria memória, todavia, seus olhos não encontravam nela a mais fascinante das imagens. Mas sim no mais alto dos telhados da mansão. Pois ali existia uma antena, algo que você nunca havia reparado totalmente e parecia ser muito novo. Uma antena de frequência extremamente baixa.

Assim vocês passavam por um pequeno portão escuro de aço, abrindo-o lateralmente para subir um curto lance de escadas e ter acesso a varanda dos fundos. Haviam então três caminhos, o mais fácil seria seguir em frente e adentrar a varanda central da mansão. Logo abaixo, estava o caminho que os levaria à cozinha da mansão. Finalmente, o mais distante de todos era o da piscina. E para lá foi Valentina, sem nenhuma pressa e ajustando as luvas. Afinal, ao sair de sua casa, ela se certificou de pegar o casaco e as luvas.

Já na beira da piscina, a jovem encontrava abrigo em uma das cadeiras abaixo daquelas proteções solares. E ali sentava-se cruzando as pernas, levando os olhos na sua direção pela primeira vez des do começo da caminhada.

-Já pensou que em algum momento, isso poderá ser totalmente nosso? Sei que talvez esse dia possa nunca chegar, já que nossos antigos apenas se fortalecem, mas eu gosto de sonhar com essa possibilidade entende? O que você faria, Icaro, se fosse anunciado como novo patriarca da família?!

A brisa fria da noite, o perfume dos campos trouxe um suspiro baixo para o peito de Icaro, de olhos fechados o cainita se permitiu seguir sua prima, deixando que Valentina o guiasse sem nenhum medo ou impedimento.

Os olhos claros do cainita estudavam com cuidado o caminho seguido sem pressa, tomando a iniciativa de abrir o portão e ferro para que Valentina passasse, pequenos cuidados que Icaro fazia sem se dar o trabalho de pensar.

Colocando a mãos dentro do bolso do casaco, Icaro sorriu ao ver que sua prima os guiava até as piscinas, ir para a varanda principal e encontrar outro membro da família era uma ideia que não o agradava naquele instante, estar confortavelmente a sós com Valentina o deixava relaxado e calmo.

Enquanto sua prima se sentava em uma das cadeiras, Icaro se abaixou pegando algumas folhas da grama sobre seus pés, levando a matéria verde até o nariz o cainita forçou seus pulmões a exalarem aquele cheiro vivo, levantando com cuidado Icaro ainda carregava as folhas na mão ao se sentar na cadeira a frente de Valentina.

Ouvindo as palavras de sua primar, Icaro brincava com as folhas verdes na mão enquanto sorria de leve, aquelas eram palavras interessantes e estranhamente gostosas de se ouvir, afinal ambos eram Patrícios e a ideia de reger lhe era nata ao sangue.

- Me tornar Patriarca... Se fosse nesta noite eu entraria em pânico devido a situação.

Comentou o cainita rindo ao deixar as folhas caírem ao chão, coçando a barba de leve Icaro divagou por seus pensamentos antes de encarar sua prima.

- Eu entendo esse pensamento, ainda somos jovens mas não nos custa sonhar. Eu acho que começaria com uma trégua política, entre nossa família e a torre. Por teoria apoiamos a torre mas impedimos que a Toscana tenha um príncipe. Algo que não nos deixa em bons olhos, não é? Talvez eu expandisse um pouco mais os negócios, criasse contas de segurança com alguns investimentos, mas acho que meus pensamentos terminam aí, provavelmente eu não seria um bom patriarca.

Coçando a barba o cainita sorriu de maneira suave, suspirando alto Icaro forçou seu corpo a respirar com um pouco mais de força do que normalmente fazia.

- E você, o que faria sendo nossa Matriarca?

“ Não, eu não aceitaria esse cargo. Não gosto de me sentar a frente quando fico confortável na sombra dos outros.”

-Você precisa ser mais ambicioso Ícaro...

Respondia Valentina, inclinando-se sobre a mesa que os separava para com as pontas dos dedos, remover alguns pequenos fiapos de grama que haviam ficado na sua barba sem que você sequer houvesse sentido esses resquícios ali.

Retornando para seu lugar de origem, a jovem olhava na direção da piscina e falava com um brilho diferente no olhar. Era como se você estivesse a ouvir um sonho de uma criança, contando aos pais como queria ser uma astronauta e ir até a lua.


-Eu removerei essa ideia estranha de morar em tocas, não somos hobbits! Iria prontamente remover esse título sem nexo e arcaico e proibiria o uso do vitae para a criação de novos Ulfilia. Nos afiliaria à Camarilla, todavia, suportaria outra pessoa como Príncipe. Iria fazer uma enorme reforma na mansão, abriria os documentos e mistérios para enfim, nos erguer como verdadeiros Ventrue! E comprar sapatos... os meus estão horríveis e não aguento mais nenhum deles!

Sorridente, a jovem falava fazendo vários gestos no ar, apontando para os objetos que citava e encarando os próprios pés com uma divertida expressão de reprovação.

Rindo das palavras de Valentina, Icaro observou com interesse o simples ato desta se inclinar e limpar sua barba, isso fez um sorriso calmo surgir nos lábios do cainita.

“ Existe uma diferença palpável entre nós dois... Isso se reflete em como vemos o mundo e o que queremos.”

Ouvindo atentamente Valentiva, o cainita se apoiou na mesa vendo os brilhos nos olhos de sua prima. Aquilo era algo que a jovem desejava profundamente, enquanto o próprio Icaro apenas continuava em frente sem saber ao certo como seguir.

Uma risada baixa foi solta por Icaro quando Valentina olhou desapontada para seus sapatos, coçando a nuca o cainita se recostou na cadeira brincando com sua prima.

- Hei não fale tão mal dos hobbits! Durante minha infância inteira foi meu livro favorito, e quando tenho tempo ainda o leio. Estranho né? Eu sei que deveria ser mais ambicioso, mas não consigo ver o porquê entende... Não quero estar a frente, quero servir, vejo nobreza em fazer seu trabalho e no fim poder se deitar cansado.  É uma visão diferente, mas devo dizer que concordo com a sua visão, você seria uma boa líder.

Suas palavras inicias arrancaram um sorriso divertido da face de Valentina, balançando cabeça de forma negativa ela tentava deixar claro que não havia nada de errado no seu gosto por literatura fantástica, sequer pela sua postura mais humilde dentro da família e clã. Recompondo-se a moça tirava as luvas, colocando-as sobre a mesa. Em seguida tirava os sapatos e se espreguiçava um pouco, só então ela se ajustava na cadeira, para apoiar as costas no braço desta, cruzar a perna esquerda por cima da direita e argumentar:

-Do que seriam os Reis sem seus súditos? Não há nada estranho em não desejar ser líder Ícaro e tenho que dizer, é necessário ter coragem de assumir isso dentro da nossa família. Afinal é a ganância que nos colocou nessa posição desconfortável, ao meu ver a família não precisa de um patriarca, ela precisa de uma liderança integra. Patriarcados e Matriarcados são ferramentas do passado, deveríamos ser mais meritocráticos sabe?

A jovem então se colocava de pé, olhava em volta e colocava as mãos na cintura. Virando-se para olhar diretamente na sua direção:

-Ícaro, quando foi a última vez que você realmente conseguiu se divertir? Sabe, as ameaças de guerra na região estão cada instante mais sólidas, temos essa crise em mãos e talvez essa seja nossa última janela de diversão... Então, qual foi a tua última vez e como foi?

- Fico feliz que pense assim, nem todos conseguem entender essa minha preferencia por servir. Nem todos acham isso nobre o suficiente de nosso clã, Fiorenzo deixou isso bem claro.

Recostando-se na cadeira, Icaro estendeu a perna para a frente deixando-a solta e sem nenhum peso, ouvindo as palavras de sua prima o cainita ponderou sobre o que está mencionava de forma calma.

- Realmente existem meios mais dignos de se crescer sem criar tantas inimizades no processo. Embora eu ache que seria difícil implantar essa visão dentro da família, o que é uma pena não?

Observando Valentina descalça o cainita sorriu ao se recostar sobre o apoio da cadeira e ficar apoiado em um de seus braços, os movimentos da jovem e a pergunta desta deixaram Icaro surpreso.

“ Quanto tempo faz que eu me diverti? Acho que eles ainda estavam vivos...”

Balançando a cabeça, Icaro tentou afastar os pensamentos da figura de seu irmão e Nerea, relaxando o corpo o cainita suspirou com calma ao dizer de forma simples.

- Deve ter sido a uns três anos atrás. Maffeo foi na festa de bodas de diamante de seus avós e alguém precisava ficar com o cachorro dos pais dele. É um daqueles labradores claros bobões sabe? Passei metade da noite brigando com para que não comesse meus sapatos e a outra fiz ele cansar correndo atrás de um graveto. Depois que ele comeu o graveto dormiu como um anjo. Foi um sonho de criança que se realizou por uma noite, mas me diverti.

-Vamos lá, você gosta de café, de trabalhar, de labradores e Senhor dos Anéis... Você é fofo sabia disso?

Respondia a jovem que logo se virava para olhar a água, ela parecia considerar algo enquanto encarava a piscina, tocando com a pontinha do pé esquerdo a água  e brincando um pouco com a mesma. Posteriormente ela fazia uma divertida corrida até a sua frente, tirando o casaco e o jogando contra você.

-Você sabe nadar né? Fecha os olhos!

A linda jovem ainda estava parada na sua frente enquanto movia a mão para a lateral do vestido, abrindo o ziper que ali havia e virando-se para inciar o movimento de tirar o vestido, sem esperar para ver se você iria ou não fechar os olhos, ela já iniciava a ação de se despir.

-Eu vou nadar um pouquinho, porque você não me acompanha eim, nerd?!

Dizia a moça com um tom divertidíssimo, já andando lentamente na direção da piscina afim de mergulhar na mesma.

As palavras iniciais de Valentina arrancaram um riso suave de Icaro, ainda sentado o cainita olhava curioso para os movimentos de sua prima, ver a jovem brincar com a água da piscina era de certa forma reconfortante e diferente. Claramente os pensamentos do cainita mudaram quando esta jogou o casaco em sua pessoa.

“ Hei isso é abuso!”

Qualquer pensamento que pudesse ter cessou ao ver que Valentina começava a tirar o vestido, abaixando um pouco a cabeça Icaro não conseguiu não espiar enquanto começava a dobrar o casaco da prima. Ser chamado de nerd fez Icaro levantar o rosto em um claro protesto.

- Que culpa eu tenho?

Retirando os sapatos e as meias, Icaro não escondeu o fato de estar claramente observando o corpo de Valentina, retirando o casaco e a camisa Icaro as deixou em cima da cadeira antes de se levantar, respirando fundo o cainita baixou as calças dobrando-as com cuidado.

- Eu não nado muito bem, mas posso te fazer companhia. Vou ser o nerd que boiá, é o melhor que posso oferecer.  

Comentava o rapaz ao se dirigir para a piscina, sem pensar muito este mergulhou na água.

Parada junto a borda da piscina a mulher chegava a olhar por cima do ombro para ter certeza se você estava a olhá-la ou não. E assim que ela notava, sorria de maneira divertida e mostrava-lhe a língua:

-Um nerd que boia! Você é um fofo Ícaro!

Respondia a jovem que bastante confortável com a situação se jogava na água logo após você inciar a ação de mergulho. O choque contra a piscina aquecida foi até mais prazeroso do que o esperado! Mas enquanto seu corpo descia por dentro das bolhas e de todo aquele fluxo natural após um mergulho em uma piscina, a figura de Valentina surgia na frente da sua. Ela nadava com bastante agilidade e brincava de fazer breves voltas em torno de ti, para emergir a sua frente em uma curtíssima distância. Esticando uma mão até que essa tocasse seu tronco.

-Eu não acredito que você usa samba canção!

Divertindo-se com a situação ela empurrava uma boa porção de água contra o seu rosto e se entregava a uma animada e linda gargalhada.

Diante das reações de Valentina, Icaro apenas não resistia as brincadeiras da jovem que parecia disposta a se divertir ali.

- Que culpa eu tenho se é meu charme!

Comentava o cainita antes de mergulhar na água, surpreso com o toque quente Icaro não se importou em jogar todo o ar de seus pulmões para fora enquanto ainda afundava, de olhos abertos o rapaz viu Valentina nadar a sua volta com desenvoltura e graça.

“ Ela é tão viva! Tão diferente.”

Balançando a cabeça para tirar o excesso de agua, revirando os olhos quando Valentina novamente brincou sobre algo que Icaro fazia, o cainita se surpreendeu com a água atirada em sua face, sem segurar o riso o homem avançou contra a prima quase gritando com está.

- Ah é! Que tal a gente brincar de tubarão já que eu sou o nerd!

Agarrando Valentina pela cintura, Icaro usou seu peso para derruba-la na água e balançar o corpo desta de um lado para o outro, apesar da força o cainita tomava cuidado para não machucar sua prima na brincadeira.

Valentina sequer tinha tempo para reagir ou escapar, não que ela também procurasse por isso! Afinal ela se divertia bastante com a sua ação, chegando a fingir que estava de fato sendo devorada debaixo da água por alguns instantes, mas não aguentando a vontade de rir. Ela gargalhava quando finalmente escapava de você.

-Maldade eu tenho medo de tubarão e você é pesado!

Sorridente, a linda jovem a se movimentava através de alguns pulinhos dentro da água, impulsionando-se até retornar a sua frente para tocar a sua face com a mão esquerda.

-Besta, você deveria se divertir mais. Tem um sorriso contagiante! Vem cá...

Sem perguntar se podeira ou não, ela te abraçava. Não era um abraço malicioso ou com segundas intenções, mas era apertado e a falta de roupas deixava a sua mente ligeiramente confusa. Todavia, era de fato um abraço forte a carinhoso, ela apoiava o queixo no seu ombro e dizia:

-Obrigada nerd, um dia eu vou conseguir retribuir tudo isso. Prometo.

A brincadeira com Valentina arrancou boas risadas de Icaro quando este jogou a cabeça para fora da agua, balançando os cabelos para tirar o excesso de agua, Icaro ainda ria quando a jovem se aproximou.

- Que culpa eu tenho se você provocou! Alem do mais eu sou bem maior do que você, seria estranho eu ser mais leve.

Surpreso com o abraço de Valentina, Icaro demorou um pouco para reagir, o corpo feminino colado ao seu dentro da agua era estranho mas ao mesmo tempo acalentador, abraçando-a com carinho o jovem encostou seu nariz nos cabelos molhados da cainita.

[color=#4682B4]“ Por favor Valentina. Não sinta nada por mim, eu não consigo.” [/color/

Beijando de leve os cabelos desta, Icaro sorriu ao comentar de maneira simples.

- Seja grande, mais grande do que esses velhos. Então eu saberei que você terá me agradecido.

-Ícaro...

Murmurava Valentina, que se aproveitava o máximo possível do abraço entre vocês dois, trazendo o corpo dela até colar com o teu. O contato começava a ganhar conotações mais sensuais quando a jovem suspirou, para em seguida murmurar outra vez:

-Você sabe como fazer uma mulher feliz, não se esqueça disso. Quando estiver pronto, me dê algum sinal... Estarei a tua espera, tá bem? Até lá...

Sua mente era pega de surpresa por aquela confissão! Era tão inesperado que você sequer foi capaz de notar que após aquelas palavras a jovem preparava uma brincadeira divertida, afinal, ela prontamente saia do seu abraço e se impulsionava para cima, afim de afundar a sua cabeça na água. Após o fazer, ela nadava para a direção da margem da piscina, o mais rápido que podia. Sentando-se na mesma, deixando apenas as pernas na água e rindo.

-Até lá você será meu nerd favorito! Agora venha, vamos sair da água antes que nos percebam! Sorte que não pegamos resfriados né?!

Se divertido com a situação, a jovem esboçava uma felicidade incrível! Era como se todo aquele desespero e peso de minutos atrás estivesse ficado no fundo daquelas águas. Revigorada ela era muito mais cativante e intensa! Além de ter um senso de humor bem provocativo.

Seu nome dito por Valentina e a forma com a qual a jovem aproximava seu corpo, deixou Icaro confuso, mas foram as ultimas palavras de Valentina que arrancaram o ar dos pulmões do cainita.

“ Oque?!”

Empurrando para água Icaro apenas conseguiu reagir quando colocava novamente a cabeça para fora forçando uma respiração longa.

“ Me esperar? Será que é isso que ela quer?”

Rindo de sua própria confusão, Icaro dava pequenos pulos na direção da borda da piscina, era inegável que Valentina era viva e intensa, algo que faltava a vida estranha que Icaro vinha levando a seu próprio modo depois do abraço.

- Sorte mesmo, mesmo assim se eu fosse você pegaria uma toalha para não estragar o vestido.

Comentava o cainita ao se erguer da piscina de costas para se sentar na beirada desta, manobrando as próprias pernas com cuidado Icaro balançou e esfregou os cabelos afim de retirar o máximo de agua que pudesse destes.

Andando até suas roupas o cainita usou o paletó para retirar o excesso de água do peito antes de vestir a camisa e começar a se prepara para vestir a calça.

Valentina olhava ao redor da piscina com um delicado sorriso no rosto, para então levar as mãos nos lisos cabelos escuros, afim de remover o excesso de água e em seguida, jogá-los para trás da nuca. Em seguida a jovem olhava para o próprio corpo e liberava uma risada engraçada.

-Sorte que eu escolhi as mais escurinhas né! Alias, me diz ai sabichão onde eu vou arrumar uma toalha agora? E pode assumir, não é errado, você nem vai se incomodar se eu ficar esperando o vento me secar, certo!?

Ela dizia a frase inteira em um tom maroto de voz, claramente implicando contigo sem se importar com qualquer outro significado ou risco que poderia estar a correr. E foi com esse divertido sorriso que ela retornou a mesa e atirou-se em uma das cadeiras, cruzando as pernas e os braços.

-Ícaro, nós temos que encontrar alguma figura superior na família em que possamos confiar, isso vai ser arriscado é claro. Mas eu estava a pensar no próprio patriarca ou... na figura da minha Senhora, minha relação com ela é uma verdadeira bagunça dramática! Mas a tua com ela é indiferente, quiçá inexistente!

Sugeria a jovem que não demonstrava nenhum tipo de incomodo em seguir apenas a usar as roupas debaixo diante seus olhos, ela parecia agora bem mais tranquila e confortável para lidar com a situação.

-Então o que o meu nerd que boia pensa do assunto?

Sem se importar se era certo ou não, Icaro acompanhou os movimentos de Valentina ao sair da água, vestindo sua calça o cainita riu quando a jovem perguntou a onde ele arranjaria uma toalha.

“ Não é porque eu sou nerd que eu tenho todas as respostas.”

Vendo-a se sentar o rapaz andou até a cadeira a frente de sua prima se sentando antes de estender o paletó.

– Use para se enxugar, é de algodão então não vai estragar. É o melhor que eu posso fazer, já que não sei onde tem toalhas por aqui. Aliás acho que quase ninguém usa essa piscina.

Comentava Icaro com calma, as palavras de Valentina o fizeram ficar pensativo, de certa forma a Patrício tinha razão no que falava, embora o rapaz não gostasse de nenhuma das possibilidades ali oferecidas.

“ Ela está certa, seria o melhor a se fazer em um caso como esse. Mas duvido que Lisandro esteja armando contra o irmão, ainda mais agora e sem nenhum motivo aparente. Porque as coisas não são mais simples?”

Penteando os cabelos com os dedos, Icaro tentou ordenar os pensamentos enquanto formulava uma resposta, talvez até um plano de ação diante da ideia dada por Valentina.

– Sinceramente eu não sei. Veja, se procurarmos o Patriarca sem provas mais concretas, será a palavra de três neófitos contra a de Lisandro ou quem estiver envolvido nisso. Também ainda não descartamos o nome de sua Senhora da lista de suspeito e eu não sei se ela estaria disposta a nos ajudar. Consegue entender meu ponto Valentina, sei que não é a resposta que você queria, mas é a que tenho nesse momento.

-Obrigada Ícaro!

Respondia a jovem que aceitava o paletó oferecido para colocar-se de pé e usá-lo brevemente como toalha apenas para remover os excessos e enquanto o fazia, ela comentava:

-Fique tranquilo, faço essas perguntas mirabolantes para obter linhas de raciocínio e não necessariamente respostas. Afinal nenhum de nós consegue de fato ter uma resposta sobre o assunto... Todavia...

Ela olhava na sua direção, vestindo seu paletó e abrindo um sorriso maroto na face. A vestimenta ficava realmente muito grande na jovem e ela parecia ter gostado da ideia de usar uma roupa tão formal e confortável. Assim ela sentava-se outra vez na cadeira.

-Tive uma ideia, vamos a Roma! É mais fácil obter respostas acerca da minha Senhora se adentramos o refúgio dela na cidade, afinal ela está ocupadíssima por aqui e certamente trouxe os melhores vassalos consigo. E bem, sou prole dela no fim das contas, nem será de fato um crime ou algo assim!

Sentando-se de forma confortável Icaro sorriu ao ver Valentina vestida com seu paletó, a peça de roupa grande na jovem lhe caia bem apesar de tudo, era algo que surpreendia o cainita fazendo-o sorrir.

“ Fica muito melhor nela do que em mim. Ela só tiraria mais sarro se eu falasse isso em voz alta! Um dos charmes dela.”

Concordando com um leve aceno Icaro coçou a nuca ao comentar de maneira educada.

– Não se preocupe, perguntas assim podem nos dar um insith de como agir, nunca se sabe onde se vai encontrar respostas.

Vendo o sorriso de Valentina e ouvindo as palavras desta, Icaro se recostou na cadeira pensativo, fechando os olhos o cainita respirou profundamente.

– Pode ser perigoso fazer isso, mas me sinto um invalido ficando aqui de braços cruzados, ainda mais que Maffeo sabe o que fazer e como guiar Eliseo e Cleo. Pode ser que quando voltarmos tenhamos mais respostas do que perguntas.

“ Também nos tiraria do foco dos mais velhos e disfarçaria o movimento em minha casa. Pode ser uma boa ideia afinal, Mariano poderia ficar e ser nossos olhos aqui.”

-Inválido? Credo Ícaro! Não seja tão dramático... Apesar de que, você até tem razão. É algo que eu também estou sentindo, mas prefiro não deixar me devorar entende?

A jovem desviava os olhos em direção à piscina, simulando uma longa e tranquila respiração enquanto fazia uma brevíssima brincadeira de entrelaçar os dedos. Enfim, ela olhava diretamente na sua direção e exibia um calmo sorriso.

-Daqui à Roma de carro é algo em torno de três horas. Poderíamos sair hoje, mas seria estranhíssimo! Por tanto, sugiro que façamos a viagem logo no anoitecer de amanha. Que tal? Devemos passar no máximo duas três noites, contando é claro com a noite que chegaremos lá. Eu tenho acesso livre à cidade porque fui apresentada ao príncipe, vou requisitar uma autorização temporária a ti! Assim evitamos problemas e oficializamos a viagem de maneira aberta, para não levantar suspeitas. De acordo?

Comentava a jovem com uma fala bem tranquila e pausada. Como se estivessem a pensar cuidadosamente em cada passo que seria dado a seguir por vocês dois.

Rindo diante de sua prima, Icaro concordou com um leve aceno de sua cabeça, ficar ali os deixaria parados e de certa forma inúteis diante de toda a crise que se formava.

– Força de expressão Valentina, sei que não tenho muito o que ajudar ficando apenas na espera dos resultados. Maffeo é melhor do que eu nesse tipo de coisa e Cleo apesar de ser esquecida sabe bem o que faz.

Encostando-se no apoio da cadeira Icaro escutou atentamente o plano da jovem, ponderando sobre a forma limpa e clara deste.

“ Se ela fosse a Roma sozinha seria ruim, pedindo a permissão abertamente deixa claro a onde vamos estar e mais claro ainda que não estamos escondendo nada, apesar de não revelar o motivo para ir até Roma. De certa forma nos tira qualquer suspeita e não a faz parecer como traidora, porque ela não vai sozinha.”

Levando algum tempo para responder, Icaro esticou a perna esquerda deixando que os músculos desta relaxassem sem nenhum peso em cima, uma forma inconsciente de relaxamento ao qual o rapaz recorria quando queria pensar.

– Gosto da ideia, não nos manteremos afastados por muito tempo e uma visita a Roma pode ser bem vista pelos mais velhos. Aconselho que Mariano fique, ele é mais ativo do que eu e pode nos manter informados, no mais acho que temos um bom plano para se seguir. Se você tiver algum amigo em Roma sugiro usa-lo como desculpa para uma visita, simplesmente ir para lá pode alertar os mais velhos.

Respondia o cainita ainda pensativo, a viajem poderia render alguma coisa que os ajudasse, mais do que ficar parados esperando.

-Perfeito, vou sim entrar em contato com um amigo lá, mas lembre-se eu fui apresentada primeiramente na corte de Roma, logo posso entrar e sair sem problemas. Mas vou usar meu amigo para conseguir uma carta de convite aberta, nessa vou colocá-lo!

Respondia a jovem que enfim se colocava de pé, espreguiçando-se, o movimento era inesperadamente atraente para seus olhos já que a sua peça de roupa não se mantinha perfeitamente no corpo da jovem e só estava presa por um botão na altura da barriga da mesma, o que causava uma exposição quase total dos ombros e do colo da mesma. Ela ria após o espreguiçar e ajeitava o paletó para complementar.

-Bem vamos voltar então? Arrumar nossas coisas e amanhã já partimos para a viagem assim que a noite começar, ou ainda pretende fazer mais algo, Nerd?!

Ajeitando as roupas, dobrando-as apropriadamente, Valentina indicava que não pretendia devolver-lhe a peça emprestada.

-Ah, lembrei de algo. Se quiser, abro o convite para que passe a noite em meu refúgio, afinal seria mais prático e evitaria movimentações de ir e vir.

Concordando com as palavras de Valentina, Icaro não conseguiu evitar de observar a jovem se espreguiçar, a forma como o paletó deixava o corpo alvo exposto e protegido pareceu mexer com o cainita de forma agradável. Balançando a cabeça o italiano respirou funcho ao responder sua prima.

– A questão não é a permissão, mas sim como cobrir os rastros. Contar com seu amigo nos da uma base mais limpa, afinal não queremos chamar a atenção dos mais velhos. Pelo menos não da forma errada, entende?

Ver que Valentina não tinha intenção nenhuma de devolver o paletó deixou Icaro de alguma forma feliz, a roupa gigantesca para jovem lhe dava um ar divertido, aos poucos o cainita notava isso embora não entendesse por completo o que isso implicava.

– Não tenho muito o que fazer, não além de ficar sentado e esperando. Maffeo sabe bem como agir quando não estou por perto e bem ele sabe controlar a Cleo sem muitos problemas.

Ouvindo o convite de passar o dia no refugio de Valentina, Icaro franziu o cenho ponderando sobre a questão.

“Não sei como Mariano regiria a isso! Ela é contagiante e esperta, bem esperta. Evitar mais atenção desnecessária agora ainda é a melhor escolha.”

Recolhendo os próprios sapatos e as sandálias de Valentina, Icaro se levantou para estender a mão a jovem respondendo-a de forma educada.

– Eu vou aceitar o convite, pedirei que Maffeo me prepare uma bolsa de roupas, mas quero que você explique a situação a Mariano. A ultima coisa que eu quero agora é um mal entendido com ele, ainda mais dado ao fato de vocês dois terem um passado. Estamos combinados?

A jovem gentilmente aceitava a sua mão e a usava para colocar-se de pé, escutando com atenção as palavras e concordando de maneira positiva com um balançar de cabeça

-Certo, está bem. Combinados! Irei ligar para Mariano e explicar a situação, não que exista a necessidade de explicações, mas ele de fato está nos ajudando e estamos no mesmo barco no final das contas. Ele é um homem integro e é nosso parente...

Ela então buscava nas mãos de Ícaro as sapatilhas, para vesti-las antes de ambos realmente chegarem a andar. Assim, lado a lado os patrícios seguiam outra vez para a planície gramada em direção as refúgios.

-Faremos assim, vá arrumar-se e estarei a sua espera em meu refúgio. É o antigo bunker de minha Senhora então, digamos que ele seja bem grandinho sabe? Enfim, até mais Ícaro!

A jovem se despedia, levando consigo as próprias roupas e o paletó de Ícaro, ficando na ponta dos pés para beijar-lhe a face e assim, fazer uma corrida rápida na direção do próprio refúgio.

Icaro sorriu aliviado ao ver que Valentina concordava com seu ponto de vista, ajudando a jovem a se levanta o cainita concordou com a cabeça as palavras de sua prima.

– Sim estamos no mesmo barco, se não existir confiança entre nós três será bem complicado. Alem do mais Mariano vem sendo um bom amigo, eu não gostaria de perder essa amizade.

Comentava Icaro ao firmar sua mão para que Valentina pudesse levantar da cadeira sem nenhum problema com o equilíbrio, escutando sua prima Icaro avaliou a situação antes de lhe estender as sapatilhas a sua dona.

– Tudo bem, eu devo bater em seu bunker em no máximo 30 minutos. Até lá sinta-se a vontade para fazer a ligação.

O beijo em seu rosto iluminou os olhos do cainita que seguiram os movimentos de Valentina, a desenvoltura natural e o espirito livre da jovem apenas a deixavam encantadora diante do italiano.

“ Espero que as coisas se resolvam. Que Roma tenha respostas.”

Suspirando fundo Icaro vestiu os sapatos para andar até seu refúgio, sem pressa o cainita passou pela sala fazendo um sinal para que Maffeo o acompanhasse, precisava antes de tudo avisa-lo da viagem.

– Irei a Roma amanhã a noite, devo ficar fora no máximo 3 dias. Valentina acha que podemos aproveitar a oportunidade da Senhora dela estar aqui para entrarmos no refúgio dela. Deixo as coisas sob seu comando.
Enunciava o cainita enquanto andava até o próprio quarto e começava a arrumar uma pequena bolsa de viagem, ao fim da frase Icaro encarou Maffeo com cuidado para perguntar.

– Acha que consegue? Maffeo eu não duvido de você, mas preciso que a situação não piore enquanto eu estiver fora. Você consegue?

Ao adentrar a própria casa, Ícaro pode ter uma favorável e animadora visão: os mortais ali estavam a trabalhar de maneira tão dedicada que só puderam sinalizar uma recepção breve ao mesmo, não por falta de educação, mas sim por estarem verdadeiramente ligados ao serviço. Maffeo por outro lado prontamente atendia a voz de Ícaro e o seguia até o quarto, para ali já se direcionar até os armários superiores e retirar as malas, colocando uma delas sobre a cama e as abrindo enquanto falava.

-Ícaro. Nós já nos conhecemos a realmente muitos anos, acredito piamente no seu credo em minhas capacidades e é contando com este que afirmo: Sim, tenho total certeza de que conseguirei conter a situação para que nada de pior ocorra, manterei nossos amigos trabalhando e gerenciarei tudo com o máximo da minha capacidade, faça a sua viagem sem a necessidade de preocupar-se com o que acontece aqui. Nos traga algo inesperado, e é claro, faça uma viagem segura. Está bem?

O grande amigo de Ícaro se mostrava bastante tranquilo e convencido de seria realmente capaz de cumprir os objetivos, afinal, ele sempre foi verdadeiramente dedicado ao trabalho. Dessa forma, ele contentou-se em apenas ouvir as respostas de Ícaro e o ajudar a fazer a mala o mais rápido possível.

-E Ícaro, ainda lhe ofereço um conselho. Valentina é brilhante, mas tome cuidado para não cometer o erro de se queimar meu caro, tenha segurança nessa pequena aventura, ela não me parece alguém de má índole, mas é bastante intensa. Sei que você sabe se cuidar, mas ela é cativante e formosa... Formosa, quando foi que eu fiquei tão velho assim?! Enfim, acho que já falei o suficiente não é mesmo?! Boa viagem!