King Narrador
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| Assunto: Re: Personagem do Lugo 6/1/2018, 23:46 | |
| História - Primeira Parte – Infância:
Meu nome é Frank Montarani, eu nasci em Nova Orleans em março de 1919 e fui o primeiro e único filho dos meus pais, além de também parte da geração que comandaria o futuro da família Montanari. Ah sim, deixe-me falar de minha família, afinal eu não seria nada sem ela! Minha família veio da Itália para os EUA por volta dos anos de 1840 em busca do “novo mundo” para se estabelecer e dar início ao sonho do meu tataratataravô Alfeo. Entretanto, com o passar do tempo esse sonho foi ficando corrompido e foi dai que a família realmente marcou o seu nome nessas terras.
Quando eu nasci a família já estava muito bem estabelecida, contando com algumas linhagens e uma boa quantidade de membros, e tendo uma reputação sólida que foi conquistada com muito esforço e trabalho. Entretanto, aquilo não era o suficiente. O dinheiro ainda não era o suficiente e todos estavam cegos pela ambição de serem ainda maiores e mais ricos. Foi então que, um ano depois do meu nascimento, a família entrar integralmente no ramo da ilegalidade com o surgimento da lei seca. Essa lei foi, de fato, um grande marco para o crescimento da família e deixou a todos muito contentes enquanto o dinheiro entrava aos montes, porém, existiam alguns membros que não era a favor e não queriam tomar partido dessas atitudes criminosas. E veja bem, meu pai era um desses.
Eu não tiro a razão do meu pai, afinal iniciar uma família, como ele e minha mãe estavam fazendo, era um processo complicado e era ainda mais complicado quando os tios e tias do seu filho estão constantemente trabalhando em situações perigosas e até mesmo trocando tiros na rua por conta de brigas, dívidas e rixas por toda a cidade. Essa era uma coisa que meu pai, Federico, e minha mãe, Natale, se preocupavam muito, porque eles não queriam que seu filho fosse um mafioso como quase toda sua família estava sendo. Por conta disso somente alguns poucos familiares foram me ver quando eu nasci e até os seis anos de idade eu tive um contato muito restrito com o resto da família.
Longe do lado criminoso, eu cresci em um ambiente diferente dos meus primos, com muito afeto e boa educação para que eu fosse um homem de caráter correto. Assim eu fui a escola desde pequeno, tive aulas de piano com minha mãe e passava algumas horas do dia acompanhando meu pai em seu trabalho, quando podia. Um verdadeiro mauricinho que andava todo engomado e que era a chacota dos primos nas reuniões mais importantes da família. E foi em uma dessas reuniões que eu conheci Attilio, meu primo que era um ano mais velho, e me envolvi pela primeira vez em um “trabalho” da máfia.
Estávamos todos na reunião e tudo corria bem. Meus pais, sempre muito protetores, haviam conseguido me dado uma folga, e também a si mesmos, para aproveitar o momento com a família, porém foi nesse momento de descuido que eu recebi, na surdina, uma missão do meu tio Thadeo. Ele havia pedido para que eu e Attilio, seu filho, fossemos na padaria de um senhor para quebrar as vidraças de lá por que ele nós devia dinheiro. Como eu era um garoto que sempre fazia tudo certinho e era considerado o chato e correto da família, vi naquela missão uma oportunidade de mostrar que eu também era “digno” de ser chamado Montanari! Afinal, o que poderia dar de errado?
Bom, o que poderia, e o que deu de errado, foi que havia uma patrulha policial próxima do local que nos prendeu pouco depois de termos quebrado a primeira vidraça. Por muita sorte, e pelo peso de nossos sobrenomes, não fomos fichados e voltamos para casa com apenas uma surra. Entretanto, eu não sabia que chegar em casa naquele estado havia sido muito pior! Assim que minha mãe me viu chegando com as roupas surradas, ela e meu pai praticamente se transformaram diante dos meus olhos. Nunca em toda minha vida eu havia visto o meu pai gritar com alguém, nem mesmo comigo, mas naquele dia ate socos ele trocou com o próprio irmão e ameaçou toda a família. A partir desse dia, minha relação com o resto da família nunca mais foi o mesmo.
Me encontrar com meus primos e sair para brincar tinha se tornado uma tarefa quase impossível depois do que havia acontecido, porém, em contra partida, meus pais haviam decidido me colocar em uma escola particular onde eu passava a maior parte do dia estudando e participando de aulas de arte e estudos complementares. Esse estudo intensivo durou até o ano de 1928, último ano de operação da fábrica, que fechou devido a crise. Financeiramente falando foi uma época muito difícil para toda minha família, mas quem mais sofreu com essa crise foram meus pais. Como eles não participavam da parte ilegal da família, a única renda deles era a fábrica e, por serem os únicos responsáveis por tal, eles viram sua companhia falir em menos de um ano.
- Segunda Parte – A Dor da Perda:
Antes de ser definitivamente decretada a falência financeira da fábrica, meus pais passaram dias e noites em claro tentando arrumar as contas e salvar o máximo de dinheiro possível e isso, é claro, também me tirava o sono. Ver como eles estavam exaustos física e mentalmente me deixava aflito por não conseguir ajudar em nada e foi então que eu tive minha primeira visão.
Em uma dessas noites eu tive um sonho muito diferente. Estava em uma sala mal iluminada com um piano de cauda belíssimo no centro desta. Nesse piano, alguém, que eu não conseguia ver, tocava “Prelúdio em E menor” de Chopin. Cativado pela música, tentava me aproximar, mas por mais que eu tentasse, parecia que eu não conseguia sair do lugar. Desistindo eu fechava meus olhos e ficava apenas a ouvir a música até o fim, porém, no lugar da última nota o som que se fazia presente era o da partitura caindo no chão. Abrindo novamente os olhos, o músico havia sumido e a partitura se mostrava rasgada no chão. O sonho se encerrou com um calafrio percorrendo todo meu corpo e me fazendo acordar de supetão e com uma sensação horrível indecifrável!
Sem saber o significado daquele sonho eu não o contei para ninguém por que provavelmente seria uma besteira ou algo do tipo. Só que mal sabia eu que ele teria um significado tão forte. Porém não demorou muito para que eu finalmente entendesse o que significado daquele sonho e quem era o pianista, ou melhor, a pianista. Sim, minha mãe era quem tocava e o motivo da última nota não ter sido tocada significava o suicídio dela!
Na noite que ela se suicidou eu e meu pai havíamos saído de casa para ir até a casa de minha avó pedir por ajuda, entretanto quando voltamos para casa ela, minha mãe, não estava lá. Ficamos a noite toda procurando por ela até que voltamos, novamente, para casa na esperança de encontrá-la, mas tudo que vimos foi somente um agente da polícia sentado a frente de nossa porta. E foi assim como soubemos que ela havia se jogado na frente de um trem. A notícia foi avassaladora para mim e para meu pai, tanto que por muito pouco ele não teve um infarto na mesma hora.
Após aquele fatídico acontecimento nada foi do mesmo jeito. Sem a minha mãe para iluminar nossos dias, meu pai se perdeu em meio a bebida e, pouco a pouco, abandonou sua vida. Sem trabalho ele passava o dia todo bebendo e não falava mais nada, deixava eu me virar sozinho durante o dia todos. Essa situação perdurou por uma semana até minha avó intervir e me levar para casa do meu tio, que era a casa dela também, e assumir a responsabilidade de me criar. Entretanto meu pai já não tinha interesse nenhum na vida e pouco tempo depois a bebida cobrou o preço em seu corpo e o levou a óbito pela cirrose.
Assistir ao meu pai cavar a própria cova depois de minha mãe ter tirado a própria vida não me fez bem. Eu fiquei confuso no começo, perdido em um turbilhão de emoções e chorando todas as noites até que Thadeo veio falar comigo e transformou todo aquele sentimento confuso em ódio contra meus pais. Ele fez minha cabeça e me mostrou a sua visão de como eles haviam sido fracos, como eles havia desistido no primeiro obstáculo e o quão ruim era se afastar da “família”. E foi assim que eu desenvolvi ódio pelos meus pais e voltei a participar dos assuntos da família.
- Terceira Parte – Juventude:
Agora com 16 anos eu havia me mudado para a casa principal da família e foi ai que eu comecei a me envolver ativamente com no negócio da família. Entretanto eu era diferente dos meus primos graças a educação que eu recebi quando ainda era criança. Por isso, em vez de ir para as ruas e me arriscar como os outros, me colocaram para trabalhar na fábrica ilegal de armas, que a família havia criado após a falência da fábrica do meu pai, onde eu aprendi o ofício de armeiro e descobri minha aptidão para a mecânica. Comecei a trabalhar reparando e limpando armas, porém rapidamente fui evoluindo ao mesmo tempo que aprendia mais e mais do ofício.
Por causa da minha dedicação com os estudos e com o trabalho, eu acabei não sendo um jovem como os outros, que aproveitava os fins de semana para sair, e sempre tive poucos amigos, sendo a maioria deles meus primos. Assim a vida no ensino médio foi ralada por que a maioria dos garotos pegam no meu pé por ser fraco e nerd e nisso eu me aproximei muito de meu primo Attilio. Ele sempre fora um irmão mais velho para mim e nessa época ele reafirmou isso ao me proteger inúmeras vezes. Meu primo era como o pai, um jovem de mão pesada e dominante e, por isso, ninguém na escola ou na região ousava brigar com ele, afinal, ele era filho da porra do chefe da máfia!
Assim eu dividia meu dia entre trabalhar na oficina, estudar o máximo que eu podia e tocar piano como uma atividade complementar para conseguir uma bolsa na faculdade. Pode-se dizer que conseguir a bolsa ainda foi a parte fácil de ir definitivamente a faculdade, por que a parte difícil foi justamente convencer minha família a me deixar ir para lá. Entretanto, eu tive uma pequena ajuda da minha avó e do meu primo Attilio para convencer Thadeo a me liberar e com o aval dele, eu obtive minha primeira conquista que foi entrar na Tulane University.
- Quarta Parte – Universidade:
A universidade foi, de longe, o local que mais me fez bem durante toda minha vida! Foi aqui que eu aprendi muito mais do que conhecimento, aprender a perdoar e a ser uma pessoa de verdade. Enfim as aulas começaram e eu, ansioso, cheguei o mais cedo possível sedento por conhecimento, porém, não foram as aulas que me chamaram a atenção na sala e sim uma garota! Uma moça chamada Gianna Accardi, italiana que havia se mudado a pouco tempo para a cidade, foi a responsável por livrar o meu coração das sombras que o envolviam logo na primeira aula.
Desde então, ir a faculdade ganhou um significado maior, algo que eu não conseguia entender no começo e que me fez até mesmo procurar ajuda do meu primo Attilio para saber lidar com aquela situação. Meu primo além de zoar com a minha cara, ele me deu coragem para me aproximar dela e começar a conversar. Assim iniciamos um grupo de estudos depois que “ocasionalmente” fizemos um trabalho em grupo e após dois meses de conversas diárias e algumas bebidas em um bar perto da faculdade, finalmente nos demos a primeira e única chance para um grande romance.
Ao lado dela, a vida e a faculdade haviam ganhado um novo propósito e eu finalmente aprendi a amar. Além de amar, eu consegui aprender italiano em troca de ensiná-la a tocar piano e no fim formamos um dueto incrível. Com ela eu desbravei a cidade, saindo dos domínios da máfia, e fiz coisas que não sabia nem que existiam na cidade, em outras palavras: eu vivi! Porém nem tudo eram flores. Logo minha família ficou sabendo do meu relacionamento e, novamente, meu tio não ficou feliz com isso pois ele sabia que eu já não era o mesmo! Apesar das dificuldades que ele me impunha, aumentando o trabalho na fábrica, nada conseguia nos impedir de nos encontramos e foi então que a faculdade chegou ao fim, mas não aquele amor.
Foi então no dia da nossa colação que eu acordei decidido a levar aquela relação a um novo e eterno patamar. Assim eu peguei todas as minhas economias e saí cedo de casa para ir em uma joalheria conhecida da família e comprar um anel de noivado. Guardei em uma caixa e esperei até o fim de toda a cerimonia para pedir sua mão em casamento e, para minha alegria e tristeza do meu tio, ouvir o seu sim! Naquele momento eu fiquei tão feliz, mas tão feliz que algo inusitado me aconteceu, eu vi, no meio da multidão dos formandos, o meu pai e minha mãe olhando para mim e sorrindo. Entretanto aquela visão não durou mais do que um segundo e aquele um segundo foi o suficiente para reavivar a memória dos meus pais. Além de reviver a memória de meus falecidos pais, eu pude finalmente aceitar a morte deles e me desculpar pelo ódio que senti durante minha juventude.
- Quinta Parte – Enfim Casados:
O casamento aconteceu dois meses após o pedido em uma cerimônia simples. Os dois meses foram o suficiente para que organizássemos todos os preparativos do casamento e para que os pais dela pudessem chegar da Itália. A festa foi perfeita e, pela primeira vez, toda a minha família estava ao meu lado, ou melhor, quase todos. Meu tio ainda era um problema que não tinha fim, ele já não era contra o casamento, porém, sabia que eu também já não era mais o mesmo e eu, decidido a dar um fim naquilo, anunciei após a cerimonia que não iria mais trabalhar na ilegalidade e que estava abandonando os negócios da família.
Essa minha decisão causou uma confusão generalizada na família que praticamente se dividiu, porém, ao meu lado eu tive o apoio da pessoa mais importante para todos naquela família: a minha avó e matriarca da família. Em seus últimos anos de vida, mas ainda lucida, ela viu em mim o seu filho e se levantou para me defender, calando assim meu tio e a todos os outros que eram contra minha saída. Graças a minha avó eu pude viver como quis ao lado de minha esposa e ainda recebi apoio para comprar nossa singela casa.
Pela primeira vez em toda minha vida tudo parecia perfeito. Eu tinha uma esposa a qual amava profundamente, um emprego honesto e uma casa para construir minha família. Porém, toda essa perfeição durou apenas três anos quando um furação atingiu a cidade em 1947 e inundou boa parte da cidade, tirando de mim a pessoa mais importante de toda minha vida, minha esposa. Arrastada pelas águas ela nunca foi encontrada e levou consigo toda minha vontade de viver. Parecia até uma brincadeira de muito mal gosto, por que agora eu literalmente estava sentindo o que meu pai havia sentido. Obviamente não da mesma forma por que minha mãe havia se suicidado, mas na mesma intensidade com certeza!
As noites seguintes foram as mais difíceis, pois sempre que eu me deitava na cama para tentar dormir ainda conseguia sentir o cheiro de minha esposa nos lençóis. Sem conseguir sequer pregar o olho nas primeiras noites eu precisei usar do álcool para me anestesiar e dormir, mas, mesmo assim, quando eu conseguia, pesadelos intensos faziam questão de me fazer ficar acordado. Então, na segunda semana de noites mal dormidas eu fui até um bar para encher a cara e acabei encontrando a segunda mulher que mudaria minha vida.
- Sexta Parte – Recomeço:
Aquela foi a noite mais estranha da minha vida, afinal eu não me lembrava de nada, além do nome dela, e de ter acordado, ainda de madrugada, no sofá de uma casa que não era a minha e com um gosto diferente na boca. Eventualmente ela, Annabelle Petitti, apareceu e me contou o que havia acontecido e por que ela havia me trazido até sua casa. As revelações mostradas pela loira pareciam absurdas e vindas de uma história de cinema, porém contra fatos não há argumentos. Ver as presas dela e como as sombras se moviam ao seu redor me causou uma série de sentimentos: medo, confusão, receio e, sobretudo, curiosidade.
Voltando para casa sob o nascer do sol, eu pensava sobre tudo que havia ouvido e visto, ainda duvidando se aquilo não fora um sonho muito realista, mas com o corpo renovado, sem nenhuma ressaca, me sentindo melhor do que nunca e com um desejo estranho de voltar a vê-la eu comecei a aprender sobre o que ela era e a me viciar em seu sangue.
Aquele foi o primeiro passo para o início da minha vida sobrenatural. As visitas, que no começo eram apenas uma ou duas vezes por semana, rapidamente se transformaram em diárias de acordo com a força que o laço ia adquirindo e pelos conhecimentos obscuros que eu conseguia. De fato o laço era um fator crucial, mas, acima de tudo, eu havia encontrado algo interessante o suficiente para me prender e me motivar a viver.
Foram seis anos como seu carniçal, aprendendo sobre o básico da não-vida de um cainita, sobre a história de minha senhora e seu clã, e ajudando a ela se estabelecer financeiramente na cidade. Apesar de ela já estar ali a alguns anos, foi com minha ajuda que ela conseguiu montar as bases mortais na cidade e essas bases mortais saiam justamente da minha família. Após alguns meses afastado de minha família, eu voltei a casa principal renovado e com grandes ideias para crescer e algumas propostas. Por coincidência, Attilio agora era o atual chefe da máfia depois que seu pai foi assassinado por rivais. A morte de seu pai foi algo forte, uma cena forte, e isso provocou boas mudanças no comportamento do meu primo que, por isso, também estava interessado passar para a legalidade. Sair daquele ambiente criminoso e garantir um futuro digno a seus filhos foram seus principais motivos e assim ele colocou a disposição toda a indústria ilegal de armas que ele e seu pai haviam criado.
Como naquela época eu ainda era um engenheiro importante de uma grande metalúrgica da cidade, eu tinha alguns contatos importantes e, por meio deles, consegui um jantar de negócios com alguns membros do alto escalão do exército americano. Com a ajuda sobrenatural de minha senhora, conseguimos vender toda a indústria ilegal ao exército e ainda limpar o nome da família para reinvestir o dinheiro em uma nova metalúrgica. Assim a família saiu completamente da ilegalidade, permanecendo apenas alguns poucos membros no controle da máfia mas de maneira autônoma, e transformando o dinheiro sujo em algo limpo de uma maneira legal. Com isso eu fiquei com uma parte das ações da empresa, em nome da minha senhora, e a outra parte havia ficado para meu primo e seus filhos.
Esses seis anos também foram o suficiente para comprovar algo Annabelle havia visto em mim: uma ligação sobrenatural com o abismo. Essa confirmação veio por meio do aumento de minhas visões e coisas que somente ela conseguiu compreender depois de muito observar. Essa confirmação me levou até o abraço em uma noite de eclipse lunar total no ano de 1956 e o resultado desse abraço foi completamente fora do esperado! A conexão que já era forte ficou ainda mais e logo em minhas primeiras noites eu vi e, por muito pouco, quase cai em sua obscuridade eterna.
- Sétima Parte – O Abismo:
As primeiras noites foram sofridas e necessitaram de muito cuidado para que eu conseguisse resistir ao choque que foi o abraço. Por esse motivo, minha senhora se manteve ao meu lado durante todo o tempo, como somente uma mãe poderia fazer, mas mesmo assim não foi ela o motivo de toda minha resistência. Nessas noites o abismo se mostrou e “conversou” comigo diversas vezes, mostrando-me segredos ocultos que eu não compreendia e entes queridos, assim como a imagem da minha esposa! Ver Gianna novamente foi algo verdadeiramente fortalecedor e inspirador e por ela eu soube que não poderia me afogar na imensidão do abismo e sim compreendê-lo para talvez poder vê-la de novo. Sim, mais do que nunca a memória de minha esposa havia ficado viva em minha mente e se tornado, novamente, minha bússola moral naquele novo caminho.
Durante alguns anos eu compartilhei minha não-vida entre meus estudos e em organizar as finanças da fábrica com Attilio e seus filhos. No entanto, somente eu era imortal e não tardou para que meu primo também me deixasse. Infelizmente havia sido tarde de mais para que eu pudesse ter feito algo, além do fato dele, meu primo, não querer prolongar sua vida sofrida agora que havia deixado um bom legado a seus filhos. Lhe dar com a morte de primo-irmão foi algo complicado, não tanto quanto perder meus pais e minha esposa, mas, por causa disso, eu tomei a decisão de assumir o seu lugar e cuidar de meus sobrinhos para garantir o futuro que seu pai tanto batalhou.
Seus filhos, Vittorio e Elena, nasceram em 1941 e 43 respectivamente e já eram jovens adultos maduros, formados e que podiam muito bem cuidar de si mesmos, mas, mesmo assim, eu me aproximei dos dois e os acolhi como meus próprios filhos. Tentei ao máximo manter minha verdadeira natureza escondida, mas Elena acabou descobrindo tudo. Ela sempre foi mais esperta que o irmão, mas, depois que eu expliquei tudo ela me apoiou e manteve o segredo para si. Aquele foi um ponto crucial para o futuro de nossa, agora pequena, família.
Eventualmente Vitto acabou se casando com uma jovem e se mudou da cidade para ser professor de Geologia, profissão a qual ele havia escolhido seguir. O rapaz então decidiu por vender sua parte da companhia para mim e sua irmã e em pouquíssimo tempo partiu para sua nova vida. Sem Vitto, Elena seguiu sua vida como dona majoritária de uma metalúrgica e se permaneceu na cidade, porém, havia um problema com ela e por isso ela não conseguiu formar uma família. Por algum motivo seu corpo não era fértil e após várias vezes tentando engravidar com alguns companheiros ela havia desistido.
Essa situação nos aproximou muito e depois de mais alguns anos, passando por tratamentos médicos inovadores, ela havia quase desistido até que eu ofereci a ideia de usar o meu vitae. Não era certeza de que ela conseguiria ser fértil novamente e também havia a questão do laço, mas, ela não pensou nem duas vezes em aceitar. O meu maior medo era prendê-la totalmente em no laço de sangue, por isso eu a dava o mínimo possível para que seu organismo se estimulasse e aceitasse a gravidez, mas, mesmo assim, foi inútil. Sem conseguir ser uma mãe, aquilo refletiu muito em sua vida profissional, onde ela se tornou uma mulher muito mais forte e implacável nos negócios agora que tinha também o poder do vitae em seu sangue.
- Última Parte – O Fim:
Depois que Elena se tornou minha vassala o nome Frank Montanari agora pertencia realmente a um morto. Fazendo com que eu morresse legalmente eu passei as minhas ações da empresa para ela e para que ela pudesse gerir e organizar a empresa como se deveria. Com Elena tomando conta das nossas vidas financeiras e expandindo nosso patrimônio a cada ano, eu pude me afastar um pouco da vida mundana para me forcar nos estudos com minha senhora.
Entretanto, enquanto eu passei alguns anos um pouco distante dos estudos para organizar toda minha vida e nossa fonte de renda, minha senhora havia encontrado duas novas proles para serem seu amante e seu filho, respectivamente. Apesar de saber que meu relacionamento com minha senhora não chegava a ser de mãe e filho como eu queria, vi a partir daquele momento, uma discriminação muito mais rigorosa no modo como ela me tratava e, por mais que não quisesse admitir, eu sofria um pouco por aquilo.
Enquanto a mim ela só entregava livros e fazia cobranças, com os outros dois ela compartilhava a vida dela e eventualmente eu fui me sentindo mais e mais isolado dela e das outras proles. Aquela situação não me rendeu uma boa relação com nenhum dos outros dois, tanto que eu nem sequer me dava ao trabalho de conversar propriamente com eles. Por consequência, eu pude me concentrar ainda mais em meus estudo e também comecei a frequentar os elísios durante meu tempo livre para não ficar totalmente imerso no abismo. Foi nessas saídas que eu fiz alguns contatos com outros feiticeiros para ampliar meus conhecimentos.
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