Thea Edgren - Capítulo I - Ato 1 - Full Moon, No Shadow.

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19 de Janeiro de 2008 - 08:00 p.m. - Toronto Don Valley Hotel & SuitesToronto - Distrito de East York - Toronto

Thea Edgren - Capítulo I - Ato 1 - Full Moon, No Shadow. Toront10

A fraca luz das lâmpadas postadas à cabeceira da cama iluminava quando a noite chegava. Mais forte que a iluminação artificial daquele cômodo, era a brilhante lua cheia que despejava seu esplendoroso brilho. O quarto parecia mais iluminado que o comum, havia um carniçal de seu Senhor de nome Roger, que era o responsável durante o dia para cuidar de Yolai e sua estimada prole.

Você sentia o frio e aquilo lembrava muito de sua terra natal, os ventos eram gélidos e pequenas camadas de neve se aglomeravam logo abaixo da janela. O clima familiar lhe despertava da melhor maneira possível, o ambiente era ameno com cores completamente neutras. Era o gosto de seu Senhor, você há conhecia-o a tempo suficiente para reconhecer suas expressões e sentimentos, embora ele tentasse sempre ocultar mas sem surtir efeito em comparação as suas habilidades.

Ao levantar-se da cama, seus olhos lentos ainda do despertar cuidadosamente vislumbravam tudo no quarto e além do buraco retangular na parede do quarto, resultado de um espelho removido por Roger, percebia um bilhete ao lado de seu telefone em cima do criado mudo.

Em seu telefone, haviam três mensagens de contatos conhecidos da agenda: Timothy Andrews, Roger e Briggs Murray. Antes de abri-las, verificou o conteúdo do bilhete que estava inteiramente escrito em russo:

"Boa noite minha querida, assim que pronta para mais uma de nossas infinitas e sombrias noites, por favor, encontre-me em meus aposentos.

Yolai"

O despertar podia ser uma das horas mais sombrias das noites, porém sempre havia a luz da cabeceira da minha cama a me fazer companhia, aquela noite porem havia algo mais. A luz do luar era forte, assim como o frio que invadia meu quarto pela janela aberta.

Meu corpo ainda dormente sorria diante da sensação única do frio, o clima me lembrava bem o clima único de minha infância, então durante o tempo que meu corpo levava para despertar completamente eu me permitia sorrir ao observar a luz do luar e sentir o frio.

“Deve estar nevando na minha terra...”

Era meu primeiro pensamento enquanto todo o processo de despertar seguia seu próprio ritmo, esticando-me na cama era com calma que me sentava apenas para observar a minha volta. O quarto de hotel com seus tons claros era uma das pequenas exigências de Yolai, assim como um de seus cuidados disfarçados.

Ao lado de meu celular era o bilhete que mais me chamava a atenção, embora uma olhada rápida pela tela do aparelho me indicasse as mensagens e seus donos, com o papel em mãos eu logo reconhecia a caligrafia de Yolai, assim como seu idioma natal usado de forma impecável.

“Algo está acontecendo... A noite mal começou e já parece que será movimentada.”

Ainda sentada eu usava minhas mãos para pentear meus cabelos apenas para então amarra-lo em um rabo de cavalo simples, saindo de vez da cama minha mão pegava o celular para olhar as mensagens enquanto seguia até o banheiro, por mais que eu amasse o frio, um banho quente me ajudaria a despertar completamente.

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Enquanto se despia e caminhava em direção ao banheiro, visualizava as mensagens em seu celular na ordem de recebimento das mesmas:

- Roger: Boa noite Senhorita Edgren, como de costume, é um prazer servi-la. Tomei a liberdade de abrir a janela a pedido do Sr. Kirienko, ele disse que você entenderia este gesto. Estou a seu dispor.

- Andrews: Oi dançarina, estamos muito fudidos.

- Murray: Olá, quando souber de tudo, me ligue.

Andrews era um Lasombra que estava na cidade antes de sua chegada e de Yolai, o mesmo era um fiel defensor da Espada de Caim e vocês se conheciam de vista durante os poucos e escassos festivais que tiveram. Lembrava-se que ele havia lhe elogiado muito após sua performance na Dança do Fogo.

Murray era um Nosferatu esquisito e com ar de culto. Ele parecia saber tudo que aconteceria e falava muito e com muita velocidade, era uma matraca. Você sempre podia reconhecê-lo pela cicatriz que adotava em seus disfarces ilusórios, fazia questão de mostrá-la, seus companheiros contavam história de que havia sido feita por lupinos em Montreal. Embora muito falante, era o mais novo dos Membros do Bando BloodAngels, conhecidos pela extrema violência.

Não demorava sequer um segundo até que a água quente jorrava do chuveiro e banhava seu corpo frio. O hotel contava com um excelente aquecedor de água, você lembrava que em sua terra natal, a água levava muito tempo para sair do chuveiro, pois passava por um processo de descongelamento antes de chegar a sair morna.

As mensagens lidas ainda no caminho do banheiro me davam o que pensar, já que Roger era o carniçal mais velho de Yolai, e de certa maneira sua iniciativa me agradava, além de dar indícios claros sobre o humor de meu senhor.

“Será que ele voltou a estar saudoso?!”

As outras duas mensagens porem me deixavam inquieta, algo estava acontecendo e mais rápido que o normal, já que tanto Andrews quanto Murray eram conhecidos meus, embora a figura de Andrews fosse mais distante do que presente.

“Será que algum ataque mais pesado foi feito? Não adianta perder tempo pensando, qualquer coisa que tenha acontecido Yolai já deve estar a par... Essa noite será bem longa”

Diante da água quente eu sorria, aquele era um luxo se comparado aos encanamentos de minha infância, uma clara passagem do tempo que eu havia presenciado desde meu abraço.

“A cidade não se tornará Roma por uma segunda vez, mas todo o cuidado será pouco. É melhor eu ficar em alerta.”

Tomando o cuidado de não lavar os cabelos, eu me banhava com calma aproveitando um pouco daquela água quente disponível sem maiores problemas, no final do banho a simples ação de me enxugar e escolher uma roupa quente o suficiente para não chamar a atenção mortal tomava seu caminho natural, embora eu a fizesse cantarolando uma velha canção sueca, ainda cantarolando eu seguia em direção ao quarto de Yolai.

“Agora a noite começa.”

Modelo da roupa:

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Ao sair o quarto o frio começava a diminuir, uma vez que o corredor do hotel não possuía janelas, uma porta corta-fogo posicionada às costas do elevador que dava para as escadas seria a única entrada de ar externo. O corredor era bem iluminado, tanto de cima quanto das laterais onde a breves intervalos existia uma luminária presa a parede.

O quarto de Yolai era no final do corredor, ficando a poucos metros da entrada do seu. A porta era muito branca, semelhante a mármore, era maciça e muito resistente. Em símbolos grandes mostrava o número "701" em grafia impressa, logo acima do olho mágico.

Você lembrava-se de ter passado por vários andares deste Hotel desde que havia chego à cidade, apesar de andarilho, Yolai era muito exigente com suas acomodações e o sétimo andar era "seu" a mais dois meses, na sua opinião, era um verdadeiro recorde.

No andar de baixo, sempre ficava Roger, o carniçal de feições européias. Uma simples ligação fazia com que o mesmo chegasse em poucos minutos ao seu quarto ou ao quarto de Yolai. Ele não falava muito, mas comentários que você ouviu entre ele e seu Senhor, sugeriam que ele ainda era ou havia sido ligado a máfia Russa.

O corredor mais quente do hotel me fez suspirar, afinal era o frio da noite que me lembrava da Suécia e seu clima único, porém haviam coisas a serem feitas, e o mais importante atender ao chamado de Yolai, algo que era sempre mais seguro se fazer com presteza.

Tomando o caminho conhecido, meus olhos se voltavam para o corredor do hotel que usávamos como refúgio, o sétimo andar já me era bem conhecido já que Yolai tinha um gosto peculiar pelo número, embora diversos outros andares do hotel já tenham me servido como morada.

“As ovelhas só percebem os lobos disfarçados quando já é tarde demais.”

Apesar da incomoda mudança que acompanhava as trocas de quartos, morar em um hotel tinha suas vantagens, ainda mais quando se tratava de nossa alimentação, ou da complicada restrição que eu tinha com isso, embora muitas vezes os sorvos da Espada de Toronto fossem utilizados para isso.

Afastando os pensamentos que cruzavam minha mente, eu me colocava a caminho do quarto de Yolai, batendo de leve na alva porta eu esperava por alguma resposta antes de abrir e adentrar no quarto dizendo.

– Boa noite senhor Kirienko, espero não tê-lo deixado esperando demais.

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A batida seca na porta ecoou pelo corredor claustrofóbico e singelamente a porta se abriu gradativamente. Segurando a maçaneta do outro lado, estava Roger, com a expressão séria de sempre.

Ele estendia o braço como sinal para que adentrasse o quarto, apesar da diferença enorme de tamanho entre vocês, Roger devia ter mais de 1,90 de altura, ele acompanhava-a com os olhos enquanto passava por ele e cumprimentava seu Senhor.

Yolai estava sentado em uma poltrona cinza chumbo, ele olhava para o celular como se rastreasse algo e prontamente parou a ação ao vê-la entrar. Levantou-se e caminhou em sua direção, colocando o dispositivo no bolso e parando a sua frente. Uma das mãos agarrou carinhosamente seu braço, como se fosse um pai tentando explicar algo ao filho, a mão dele era tão gélida quanto a sua e você sentia grande circunspecção vindo dele, como se fosse uma espécie de aura ao redor, como se soubesse tudo que deveria ser feito.

- Thea, boa noite. É em caráter de extrema urgência que lhe chamei aqui, outros já sabem e as informações não chegaram até você no momento, pois tentei de certa forma alterar o que deveria ser feito e por quem deveria, mas não tive sucesso.

Devagar ele retirou a mão de você, baixou os olhos, virou-se e caminhou alguns passos em direção a poltrona e continuou:

- Deve saber que um Membro importante de nossa Seita está chegando a cidade. Você e outros dois Membros foram escolhidos para a tarefa de recepcioná-los no aeroporto.

A voz de Yolai assumia um tom preocupado e enfático, presenciado poucas vezes por você. Sabia que de todos que você havia conhecido, ele era uma das únicas pessoas que zelava fervorosamente por sua segurança. Os anos juntos, fizeram com que um laço de confiança mútuo fosse criado e fortalecido ao longo deste mais de meio século.

- Sabe ao mesmo tempo, que ambos os aeroportos desta cidade, não ficam em nosso território...

Imagem - Roger:

Imagem - Yolai:

O eco do meu bater na porta foi ouvido com calma, já o abrir de porta feito por Roger me fazia cumprimenta-lo de leve, afinal nós não trocávamos muitas palavras, já que não havia uma real necessidade e eu preferia assim, porém o pequeno gesto feito mais cedo merecia seu reconhecimento.

Adentrando nos aposentos de Yolai, meus olhos claros logo procuravam por sua figura, e ali ainda de pé eu esperava por suas palavras e reações. O gesto de guardar o telefone e andar até minha direção, faziam com que eu o encarasse curiosa, porém seu toque em meu braço e palavras esclareciam o teor da conversa.

Atenta aos movimentos de meu senhor, logo se tornava claro a frustração que Yolai carregava, já suas palavras elucidavam em muito o teor das mensagens recebidas antes mesmo de meu despertar, ainda assim era com calma que esperava Yolai terminar de falar.

“Ah então é isso... Quem Yolai irritou para que meu nome estivesse nessa lista?”

Procurando por uma das cadeiras do quarto eu me sentava apenas para dobrar as pernas e concordar com um breve aceno, ponderando sobre o assunto com calma, era com educação que respondia a Yolai.

– Sim lembro-me bem que este foi um dos motivos que nos fez viajar até aqui de carro. Ainda assim seria arriscado para a Camarilla atacar na chegada de um membro importante do Sabá, ainda mais em um lugar tão movimentado.

Comentava enquanto meus pensamentos se organizavam com calma, os indícios das mensagens deixavam a entender que meus parceiros seriam Brigs Murray e Timoty Andrews na pequena incursão até ao aeroporto.

– Posso estar errada, mas recebi mensagens dos senhores Murray e Andrews, nenhum de nós tem uma geração muito baixa e isso pode nos ajudar a não chamar tanta atenção. Mas quem está a chegar na cidade? E o mais importante, quais seus receios com essa figura? Imagino que a localidade do aeroporto não foi seu único motivo para tentar tirar minha presença desta tarefa.

Os anos ao lado de Yolai haviam me ensinado bem, o Lasombra não deixaria que eu corresse riscos desnecessários, mas havia me dado espaço o suficiente para que eu escolhesse meus próprios riscos. A interferência direta de Yolai era rara e normalmente acompanhada de bons motivos.

“Será que é o convidado que vem atemorizando a Bispo Adelyn? Se for é melhor eu tomar cuidado.”

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Yolai acompanhava você com os olhos enquanto Roger se retirava da sala fazendo uma mesura breve para o Lasombra. Ele voltava a sentar-se na poltrona que ficava ao lado da sua e com a mão em uma têmporas lhe explicava a situação com certo pesar:

- Apesar de mais numerosa, a Camarilla e seus anciões não são imprudentes. Eles não tentariam nada em um local tão movimentado quanto um aeroporto, a exposição da preciosa Máscara deles seria muito grande. Considerando que temos dois bandos de poder militar considerável, haveria uma retaliação e a Pacificadora não gostaria disso.

Em um pequeno estalo, o corpo de Yolai retesou e acomodou-se confortavelmente na cadeira, com os ombros relaxados e pernas esticadas, ele movimentava os dedos como se escolhesse as melhores palavras para lhe explicar o que viria a seguir. O Lasombra parecia ter resolvido quebrar todo o protocolo sério que impunha a você, talvez a saída do carniçal da sala tenha feito com que ele percebesse que com você, toda a compostura necessária para uma reunião de "negócios" não se fazia necessária. Eis então que as palavras soaram mais preocupadas do que calmas:

- Edmund Blundell, internamente o alto escalão da Seita o chama de Despóta. Ele é um antigo membro do clã Ventrue, foi Príncipe de algumas influentes cidades na Europa e traiu todas elas entregando os Membros ao Sabá local ou queimando-os dentro de seus Elísios. Foi reconhecido como um Priscus em Milão e desde então atua diretamente dentro da Seita, como uma espécie de corregedoria. Ele também é responsável pelo planejamento de expansão de territórios na América.

Ele então fez uma breve pausa, pigarreou e seguiu:

- Adrian Schmidt, o Knochendrache ou Dragão de Ossos no país dele. Um templário, Membros com habilidades de combate formidáveis e destinados exclusivamente a proteção de lugares ou outros Membros importantes.

Enquanto ouvia as palavras de Yolai, seu celular vibrava dentro do bolso do casaco, apesar do perfil silencioso era possível ouvir a vibração do aparelho enquanto o momento de silêncio cortava a conversa. Seu Senhor lhe encarou seriamente e se inclinou para frente olhando diretamente nos seus olhos, como se lhe medisse a cada palavra:

- A Bispo teme esta chegada mas não quer demonstrar reconhecimento da importância. Por isso, solicitou que três neófitos fossem encontrar tais ilustres membros. Tentei da minha forma negociar este pedido e acompanhar vocês quatro, mas infelizmente ela foi inflexível. A justificativa era de que enviar um dos Bandos traria problemas com a Camarilla na chegada do Priscus, mas eu entendo que ela não quer o Priscus em contato direto com os Bandos e nem comigo, caso contrário sua própria visibilidade e influencia seria ofuscada pela chegada do outro Ventrue.

Sentada na poltrona ao lado de Yolai, meus olhos acostumados as trocas de cortesias e palavras educadas estranhavam as ações mais preocupadas e duras, algo que não parecia combinar tanto com a figura de meu senhor, embora eu soubesse que ele era capaz de demonstra-las.

“Tem algo maior...”

Vendo o cainita finalmente relaxar a postura, eu me ajeitava em minha poltrona com calma, atenta a suas palavras e informações reveladas eu me mantinha calada, ao contrário de minha mente que trabalhava com cuidado.

– Não com toda a certeza não sofremos um ataque no aeroporto, já o caminho pode não ser tão seguro, mas as retaliações seriam chamativas demais para correr este risco.

Ouvir sobre as figuras que estavam chegando na cidade me fez concordar com um breve aceno de cabeça a Yolai, porém o som de meu celular tocando arrancou um suspiro de meus lábios, ainda assim eu não fazia nenhuma menção de ver a mensagem recebida, um sinal de respeito a meu senhor já que ali nossa conversa era muito mais importante do que as palavras de outra pessoa.

“Uma briga de egos, estou sendo colocada em uma briga de egos... Nada de bom pode sair disso, e se sair vai ser uma armadilha belamente produzida.”

Respondendo ao olhar de Yolai eu me atentava as suas palavras finais, ajeitando-me na poltrona eu finalmente o respondia com calma.

– Ela não está tão errada assim, você tem uma fama que o procede e qualquer movimento vindo dos bandos pode ser mal interpretado. Ainda assim é imprudência não respeitar a presença de um Priscus, ainda mais quando se aparenta ter coisas a se esconder.

Levantando-me da poltrona eu andava até a janela do quarto apenas para observar a cidade e comentar.

– Já que não tenho outra alternativa, o que você me sugere. A onde devo levar o senhor Blundell quando ele for recepcionado? A algum lugar ele deve ir, e a Bispo estaria se enforcando se não tiver preparado nada.

Virando-me para encarar Yolai eu me mantinha calma e atenta, a postura ereta também me acompanhava da mesma forma que o fazia quando escutava as palavras de minhas professoras de ballet.

“Espero que as leis da Espada sejam seguidas à risca... Caso contrário a Espada corre risco de perder três de seus membros.”

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Yolai lhe olhava fascinado, suas palavras saiam e ele se recostava cada vez mais tentando acalmar a ansiedade daquela noite. Por fim, ele levantava-se e caminhava até próximo a porta, passava suavemente a mão na mesma e virava-se para você repentinamente:

- Eu solicitei uma medida do Sabá frente a posição de Adelyn. E esta é a resposta que estou recebendo, um Priscus!! Um problema muito maior!!

Seu Senhor caminhava até próximo a você, ao lado de sua poltrona, o mesmo se abaixava, pousava a mão em seu braço e dizia em um tom de voz sério e mais baixo que o habitual:

- Há alguns membros mais tradicionais nesta cidade, que questionam a posição de Adelyn aqui. Muitos acham que ela está na Espada apenas para irritar o próprio Senhor e por mérito na destruição do antigo Senescal da cidade. Os bandos são muito poderosos, Montreal está a cinco horas daqui, esta cidade é enorme e estamos confinados a este minúsculo distrito a anos. Novos bandos não são formados, novos Membros não chegam, não há novos abraços.

A irritação dele no final da frase era grande, era como se esperasse por mais ação, por mais comprometimento, parecia se encontrar em uma causa perdida. E ele demonstrava isso a você abertamente, considerando a infinita vida cainita, passaram-se poucos anos de convívio entre você e Yolai, no entanto o Lasombra possuia uma grande fé em você, sabia que você era especial e que não o desapontaria. Ainda abaixado, ele continuava:

- Você, um Lasombra de minha confiança chamado Andrews, o Nosferatu dos BloodAngels e a Ductus do Las Noches, Sienna Castle. Estes são os Membros chamados para a recepção no aeroporto, acredito que o acesso será facilitado até lá. Não esperamos ataques da Camarilla. Dê o seu melhor e não diga nada, exatamente nada do que lhe falei hoje aqui.

Seu Senhor era um membro de respeito dentro da Seita, um Inquisidor muito conhecido dentro da Espada e de longe parecia para você leal às suas convicções.

Gentilmente lhe estendia a mão para que você levantasse e indicava a saída, mas não sem antes dizer com olhar cabisbaixo:

- A previsão de chegada do avião é às nove e meia de hoje. Já devem estar lhe aguardando no saguão.

Ainda sentada em minha poltrona era com interesse e certa curiosidade que observava os movimentos de Yolai, o sempre controlado Lasombra parecia mais ansioso do que o comum, mesmo que em minha presença ele se permitisse demonstrar seus anseios, aquela não era uma noite comum.

“Foi Yolai?! Bom se Adelyn descobriu isso coloca nossas cabeças em sua lista pessoal...”

Atenta as palavras de meu senhor, era de certa maneira compreensível a irritação eu ele demonstrava, seus anos como inquisidor da espada haviam marcado sua personalidade, além de ter moldado sua lealdade com aqueles que serviam ao mesmo proposito, até mesmo a minha pessoa era depositada uma parcela de sua convicção.

Encarando os olhos de Yolai era em silêncio que o escutava, as informações contidas em suas palavras me revelavam a batalha que o Sabá de Toronto passaria nas próximas noites, uma que deveria se manter escondida dos olhos atentos da Camarilla.

“Eles não mandariam um Priscus se não houvesse indícios de algo maior acontecendo... Espero que Adelyn não esteja esperando usar o Sabá como moeda de troca para um perdão da Camarilla.”

Aceitando a mão estendida de Yolai, era com calma que me levantava apenas para encara-lo com respeito, eu tentaria meu melhor para manter o nome de Yolai intocado, ainda assim era preciso que o mesmo se mantivesse calmo diante da tempestade que se aproximava.

– Farei o melhor para que nada saia errado, e tenha certeza de que nada aqui comentado sairá de minha boca. Porém se me permite.

Segurando com firmeza a mão de Yolai, eu ainda tocava em seu ombro para então comentar.

– Adelyn esta em um jogo perigoso, seja lá o que estiver acontecendo a Espada precisará de figuras fortes quando as artimanhas forem desmanchadas. Sua lealdade é inquestionável e os mais tradicionais sabem disso, ainda assim é preciso de um pouco de calma. Alguém que se sente acuado desconfia de todos a sua volta e comete erros. Se me permite senhor Yolai, mantenha a calma e controle nas próximas noites, a simples presença de Blundell fará com que Adelyn arme sua própria forca.

Soltando Yolai era com uma suave mensura que me despedia.

– Com sua licença, eu não quero deixar os membros da comitiva de recepção esperando.

Apenas quando Yolai me desse a permissão é que me retiraria do quarto para então visualizar o celular a caminho do saguão do hotel.

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- Cuide-se Thea. Conto com você.

As palavras de Yolai, sérias e rígidas como sempre haviam sido, tratavam de encerrar aquela reunião. Ele acompanhou-a até a porta e fez o sinal para que Roger fosse com você até o saguão do hotel.

Dentro do elevador, você pegava o celular e visualiza apenas duas mensagens:

- Andrews: Você não acordou ainda? Já estamos aqui embaixo, só falta a Sienna. Não gosto de esperar.

- Murray: Chegamos.

O grande espelho do elevador ficava as suas costas e lhe causava um calafrio irritante, pois somente você sabia o que olhava para você através do próprio reflexo. Ao contrário dos Lasombra tradicionais, sua besta se manifestava através de tais superfícies e lembrar-se da última vez que se olhou, ainda lhe causava pesadelos.

O som do elevador descendo parecia não ter fim, até que o bipe e abertura das portas finalmente abriram aquele sarcófago de metal refletivo, com uma mesura Roger fez sinal para que desembarcasse enquanto retornava para os andares superiores.

Haviam dois membros lhe esperando, um deles era familiar, pois já haviam se visto em um dos ritae celebrados no Elísio e o outro completamente desconhecido.

Um deles estava sentado em um sofá de dois lugares, braços e pernas juntos ao corpo, como se fosse um boneco e o outro atirado sobre uma poltrona que ficava mais alto canto, parecia divertir-se com a própria sombra utilizando os dedos polegares e indicadores.

Presentes:

A despedida breve de Yolai apenas me fazia assentir com um breve aceno, não era necessárias mais palavras, afinal eu tinha uma tarefa a executar, uma que eu realmente não gostaria de falhar, ainda mais quando isso ecoaria sobre o Sabá local e a fama de Yolai.

“Sem pressão nenhuma... Espero mesmo que Adelyn não desconfie de Yolai, caso contrário esse será a primeira de uma série de tarefas perigosas.”

Acompanhada pela figura de Roger eu seguia até o elevador, evitando de olhar na direção de espelho que ali existia, meus olhos se concentravam na porta de metal, a única entrada e saída daquela caixa metálica, aproveitando a descida para olhar as mensagens, era com um suspiro que novamente guardava o celular no bolso.

“Seria redundância responde-los...”

Sentindo a incomoda sensação que meu reflexo era capaz de me trazer, era em silencio que escutava o indicador que o elevador finalmente havia chegado ao térreo, ali diante da porta aberta que observava a mensura de Roger e sua indicação para que eu descesse, dando um passo para frente eu usava a mão para travar a porta, enquanto olhava para a frente apenas para comentar com calma:

– Faça-me o favor de agradecer a Yolai pelo detalhe das janelas. Esqueci de mencionar antes de sair do quarto.

Evitando de olhar para atrás eu finalmente saia do elevador para procurar por Andrews e Murray, achando a figura do Lasombra era com curiosidade que me aproximava dos dois, escolhendo parar ao lado da poltrona de Andrews eu o saudava de maneira breve.

– Boa noite, peço desculpas pela falta de contato, tive uma breve reunião com Yolai. Ainda estamos à espera da senhora Sienna?

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Saindo do elevador, atrás de você vinha apenas a voz de Roger com o que você já esperava:

- Sim senhora, levarei até o Senhor Yolai o agradecimento. Boa noite.

Caminhando até os presentes, você absorvia aquelas figuras distintas enquanto via o Nosferatu levantar-se de onde estava e caminhar a passos rápidos até você:

- Não precisa pedir desculpas, estamos adiantados no tempo. Ainda mais qu...

O Nosferatu foi cortado pela voz grave e forte do Lasombra sentado a sua frente, embora os dois fossem altos, provavelmente de pé Andrews fosse maior que Murray. Ele parecia entediado e impaciente com tudo aquilo:

- Querem nos mandar para a forca, até aceito. Mas não quero ser o último a chegar para precisar esperar a minha vez.

Ele levantou-se devagar, como se os movimentos fossem todos calculados e confirmou sua suspeita de que era maior que o outro presente. Um movimento leve de Murray apontou para a rua como indicativo para que aguardassem lá fora, apesar da neve, todos estavam com casacos e não haveria nenhum impedimento, restava aguardar a chegada da outra Lasombra.

Enquanto caminhavam, Andrews continuava:

- Queria entender que diabos passava na cabeça da Bispo quando pensou "Ah, vou mandar aquele Lasombra fortão pra receber o figurão da Seita... faz todo sentido". Que loucura isso! O Murray aqui, representando o bando dele, a Sienna representando o dela, seu Senhor é um cara muito conhecido dentro da Espada e eu? Não tenho nada de especial para estar neste grupo de suicídio. Essa noite ta literalmente fodida

Seu irmão de clã estava muito aborrecido por aquilo e provavelmente não tentou questionar o pedido da Bispo como fizera Yolai. O som de pneus derrapando na esquina ao lado do hotel fez com que todos ficassem alertas, a enorme pickup preta parou em frente ao prédio com um forte solavanco, suas portas laterais do carona se abriram para vocês três e logo atrás uma modesta limousine também preta parou levemente.

Veículos:

Era em silencio que eu concordava com Roger, o breve movimento de minha cabeça se realizava assim como o fechar da porta do elevador. Andando até os outros membros daquela missão, era com calma que escutava as palavras de Murray, palavras que eram prontamente interrompidas por Andrews.

“Os ânimos já estão em alta. Nossa forca foi preparada com esmero, disso não posso reclamar.”

Observando por alguns instantes a diferença de altura entre os dois cainitas eu abria espaço para que ambos fossem a frente quando Murray nos indicava o lado de fora, seria melhor esperar ali pela presença de Sienna, talvez a cainita mais experiente entre nós.

“Atacar a Ductus de um dos bandos é uma declaração de guerra... Espero mesmo que a Espada lembre-se disso!”

Seguindo os dois cainitas minha mente divagava sobre as palavras que Andrews continuava a dizer, sua indignação era palpável e até compreensível, porém não mudaria em nada a situação a qual haviam nos enfiado.

– Você pode levar suas palavras a própria Adelyn, porém duvido que ela vá aceita-las, ainda mais se algo acontecer com a figura que estamos indo receber.

Comentava com suavidade para Andrews, afinal justamente por ser prole de alguém importante era crucial que eu não falhasse, seria uma mancha a fama de Yolai e eu o conhecia bem para saber que, meu senhor, não saberia lidar com isso.

“Essa é uma mancha da qual eu não me perdoaria.”

O som dos pneus cantando me chamou a atenção, assim como a grande camionete seguida com mais calma por uma limusine, vendo as portas da camionete se abrindo era com cuidado que olhava para o banco do motorista esperando ver Sienna no volante, caso minhas suspeitas se confirmassem eu sentaria no banco do passageiro.

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- Mas que filh...

Resmungou Andrews quando se deu conta dos veículos aproximando-se, estava sorrindo, diferente de alguns segundos atrás enquanto reclamava de tudo e de todos.

Os três Membros da Espada saiam do hotel em direção aos veículos, mais próximos vocês podiam ver os cabelos dourados da Ductus Sienna sentada no banco do motorista da grande caminhonete preta. Ela fazia sinal para que se apressassem, após os três entrarem, a porta fechava-se em uma batida seca.

Dentro do veículo, você observava as janelas de um vidro muito escuro e a dizer pelo peso da porta, eram blindados. Além dos quatro cainitas, ainda estavam presentes mais quatro homens armados com metralhadoras e espingardas, todos utilizando capuzes.

- Boa noite a todos...

Dizia a Ductus em tom de voz animado.

- Como sabem, estaremos em território inimigo. Esse é nosso time de apoio caso algo dê errado. Tem mais três destes rapazes na limousine e o motorista também está armado. Eles escoltarão nós seis de volta para o território Sabá.

Era impressionante como ela falava tudo tão rápido e simples, algo natural para alguém experiente. Sienna era líder de um dos bandos mais temidos da América do Norte e não era conhecida por ser boazinha por onde passava. Várias coroas da Camarilla haviam sido derrubadas com a ajuda daquela Lasombra e o nome dela já havia cruzado até mesmo o oceano e ido parar nos ouvidos dos grandes Cardeais europeus.

Os veículos se colocavam em movimento abruptamente, sem aviso, Sienna era muito hábil ao volante, no entanto cruzava vários sinais vermelhos, uma música que você não conhecia era disparada em seus timpanos através dos alto-falantes posicionados nas portas, era algo estranho, parecia haver alguém em agonia naquelas músicas, as vozes eram gritos e o som era parecido com algo quebrando, totalmente fora do seu contexto musical. Além da música, vocês três constantemente ouviam buzinas e sons de derrapadas no asfalto gelado.

A neve havia cessado e apenas o vento congelante da noite estava presente. Os carros eram cobertos por uma estreita mas firme camada de gelo e as luzes dos postes refletiam nos inúmeros vidros do aeroporto.

Ao saírem do veículo, os homens que estavam na limousine formalmente trajados com longos sobretudos, se deslocaram para os seus lugares dentro da caminhonete, esta por sua vez arrancou com o novo motorista e parou a frente em uma zona de espera.

Sienna Castle - Ductus:

Aeroporto Internacional de Toronto:

A mudança brusca de Andrews apenas me fez suspirar, era inevitável que a simples presença de Sienna fosse um empecilho as reclamações do Lasombra, um que eu fazia questão de não reclamar.

“Impossível dizer que Sienna não sabe o que faz, com um pouco de sorte não encontraremos resistência.”

Ouvindo atentamente as palavras da cainita mais velha era em silencio que eu adentrava no carro, a presença dos mortais que nos dariam suporte se tornava notável assim como o forte armamento que eles carregavam, um cuidado que essencial caso as coisas dessem erradas.

O caminho seguido pelo veículo era observando pela janela, era incontestável que Sienna sabia dirigir bem, algo que eu mesma não tinha aptidão nenhuma para fazê-lo, ainda assim eu sentia meu corpo tencionar diante de cada buzinada nada amistosa contra nosso veículo. A música que nos acompanhava não me ajudava a aquiescer, os gritos e som desconexo simplesmente não me faziam sentido nenhum, ainda assim eu permanecia em silencio.

A chegada rápida no aeroporto era recebida com certa alegria da minha parte, o silencio da noite mais ainda já que o gosto musical de Sienna não era exatamente o que eu poderia avaliar como audível, porém era aquela era uma reclamação que não sairia de meus lábios.

Observando o aeroporto a minha volta, eu puxava o ar para dentro de meus pulmões apenas para solta-los e verificar que nenhuma nevoa escapava deles, uma das desilusões da vida cainita, balançando a cabeça era para a figura de Sienna que eu olhava a procura de instruções, já que ali era um território desconhecido e o serviço apresentado de extrema importância.

“A parte fácil já foi... É agora que a parte interessante começa.”

» Thea Edgren - Capítulo I - Ato 2 - Old Connections
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