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Narrativas De World of Darkness Estruturadas Nas Versões de 20 Anos
 
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 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet

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Danto
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MensagemAssunto: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime15/2/2020, 00:47


Data: 11 de Maio de 1550
Local: Castelo de If

Sala de jantar:

Camilla, em sua aparência jovial e elétrica, se encontrava sentada em uma das cadeiras da sala de jantar, brincando com os queijos, ela tentava construir uma casa ou alguma estrutura similar com os pedaços dos variados queijos que eram servidos acima de uma tábua de madeira maciça que se encontrava sobre a mesa.
Distraída, a jovem não parecia realmente atenta ao que estava ocorrendo, algo que não era repetido por nenhum dos outros membros ali presentes.

Lucie, sua "Senhora", estava com os olhos atentos, focados na sua direção enquanto Martial murmurava uma melodia totalmente estranha, desafinada e as vezes até engraçada enquanto segurava as suas mãos.

Sobre a mesa, ao lado da pilha de queijos, haviam vários livros, papeis, arquivos e papiros, uma verdadeira caótica pesquisa em andamento. E era para essa pesquisa que Martial se virava após terminar a melodia e soltar as suas mãos. Lucia parecia ansiosa, esfregando as mãos, a mulher observava um confuso Martial riscar várias palavras, circundar algumas letras e rasgar pedaços das bordas de quatro papiros específicos.

-Pronto, encontrei!

Martial dizia, virando novamente na sua direção e prontamente dando sequência a própria fala, sem dar brecha para nenhuma outra fala ocorrer.

-De acordo com as entrelinhas da nossa linhagem, o primeiro sexto do sangue do nosso ramo, sempre, sempre será um herdeiro de memórias.

Lucie arqueava a sobrancelha esquerda, caminhando um pouco de um lado para o outro e questionando:

-Tens certeza?

Martial respondia, olhando primeiro para Lucie e em seguida, para você de maneira mais direta e informal.

-Tanta certeza quanto a previsão a cerca das personas dentro de Camilla. Bom, Gaétan, nós os herdeiros do sangue de um antigo sábio e estudante da realidade nomeado Malkav, temos peculiaridades que ecoam de dentro de nós para o exterior. Os homens, sem muitos estudos, chamariam de demonstrações demoníacas, vozes das bruxas ou outras ladainhas. Mas a verdade é que nós temos a sensibilidade de ver, ouvir, sentir e compreender além do que o padrão perceptivo é capaz. Essa capacidade nos cansa, é como um exercício mental que não conseguimos interromper, que vez ou outra, explode em uma demonstração de relaxamento ou estresse. Por exemplo, Camilla é uma jovem criativa, apaixonada pela interação humana, conversa, toque... E por isso ela desenvolveu a persona da criança que vemos agora, nessa forma, ela reduz os custos das interações, entende?

Questionava o rapaz, olhando na sua direção enquanto Camilla seguia a brincar com os queijos e Lucie se aproximava de ti, parando ao seu lado em silêncio.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime15/2/2020, 22:11

Estar diante daqueles que agora pertenciam a minha família me deixava atento, algo que em meu intimo não havia como esconder a certa ansiedade e até curiosidade sobre o que o destino me reservará. Ainda atento eu acompanhava a música feita por Martial, uma pequena tarefa complicada já que a música em si não seguia um padrão e me era completamente desconhecida.

“Martial com toda a certeza sabe melhor do que eu o que está fazendo.”

Com o canto de olho eu conseguia ver a pequena Camila a brincar, algo que me teria feito sorrir, porém a música não me permitia, a ansiedade de Lucie de certa forma me deixava ansioso, a preocupação daquela que havia se tornado, minha senhora, era clara e de certa forma eu a compartilhava em silencio.

“Por favor que seja algo simples de se contornar, que não me transforme em nenhum monstro. Eu não me perdoaria por isso. ”

O silencio que se seguia com o fim da música me fez respirar profundamente, sem as mãos de Martial para segurar, minhas próprias mãos se encontravam inquietas, controlando-as da melhor maneira possível eu as fechava e pousava sobre meus joelhos, sorrindo na direção de Lucie eu tentava demonstrar certa confiança, embora soubesse que naquele momento eu não possuísse nenhuma.

Observando os movimentos de Martial, era com calma que tentava encontrar alguma ordem no que ele fazia, algo que logo se demonstrava inútil, afinal o rapaz logo chegava em um resultado, me deixando ansioso e incapaz de esconder isso. Inquieto eu me ajeitava na cadeira em que me encontrava sentado, meus olhos se voltavam para a expressão e Lucie tentando desvendar suas reações, porém as palavras de Martial logo tomavam minha atenção, já que era o jovem que estava a me lecionar.

“Herdeiro de memórias...”

Respirando eu ouvia as palavras de Martial com atenção, era claro que ele tinha domínio no que falava e mais domínio ainda em encontrar as respostas nas linhas de ordem que apenas ele via, com um breve aceno eu concordava com suas palavras, meus olhos se prendiam na figura da pequena Camila, a simples lembrança de sua outra faceta mais velha e empática não deixavam dúvidas quanto as palavras de Martial.

– Acredito que compreendo a ideia básica de suas palavras. Nossas mentes se encontram a trabalhar nos detalhes que apenas nossos olhos podem ver, porém como todo exercício isso nos cansa, então é quando nossa peculiaridade se expõe. Faz sentido, eu já vi homens aos quais considerava verdadeiros gigantes entrarem em colapso por descuido ou vaidade, nunca foi em bons momentos, mas eram inevitáveis...

Brincando o com tecido de minha calça eu respirava ao relaxar a postura, minha atenção se voltava para os movimentos de minhas mãos por alguns instantes enquanto minha mente trabalhava para organizar meus pensamentos e duvidas, por fim voltando meus olhos para Lucie e Martial eu finalmente perguntava.

– O que significa ser um herdeiro de memórias? Como isso pode me afetar e principalmente afetar vocês?

Eu sorria de maneira leve enquanto esperava pela resposta, deixando as dúvidas e os medos afastados de minha mente eu me concentrava nas duas figuras a minha frente, Lucie como minha senhora e Martial como meu irmão, figuras que faziam parte de minha família.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime20/2/2020, 11:50

-Simples, quando você comer, vai ter pedacinhos das pessoas dentro do vitae...

Comentava a pequena ruiva, fazendo um pequeno intervalo na própria brincadeira para olhar na sua direção e gesticular com pedaços de queijos nas mãos, para logo retornar as próprias pilhas de queijos. Martial fazia um sinal de mais ou menos com a mão esquerda, porém, quem oferecia uma resposta apropriada era sua Senhora.

-Não acredito que essa característica venha a nos afetar, será um processo profundamente pessoal. Digo, quando você se alimentar, você irá receber dentro do seu corpo fragmentos das memórias e da personalidade de quem você se alimentou, por tanto, acredito que você deverá ser bem cuidado com a origem do sangue que irá ingerir.

Falava Lucie, cuja fala era logo acompanhada por um comentário de Martial:

-Exatamente. Você só encontrará nutrição para o seu corpo, somente quando houvera a alimentação do sangue junto da alimentação das memórias. Isso fará com que várias parcelas das pessoas, sejam essas quais forem, ficarão contigo por pequenos períodos de tempo. Por tanto, a recomendação de Lucie se faz fundamental, creio que você quando for mais experiente e autossuficiente, mantenha um grupo específico e seleto de fontes de alimentação e que evite sempre alimentar-se de desconhecidos. Entende?
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime20/2/2020, 15:14

O comentário de Camilla me fazia olhar na sua direção curioso, ainda em meio a sua brincadeira a pequena estava atenta a nossa conversa, embora deixasse claro que não era de seu interesse participar desta, sorrindo para a pequena minha atenção se voltava para Lucie e Martial.

A explicação sobre minha peculiaridade me ajudava a controlar meu nervosismo, saber que seria algo que apenas afetaria minha pessoa aliviava o medo que sentia acabar ferindo algum deles, algo que me fazia suspirar enquanto me apoiava em um dos braços da cadeira.

Pensativo sobre os detalhes do que me afetaria quando me alimentasse, eu permanecia em silencio por alguns instantes, a simples ideia de que o sangue carregaria lembranças das pessoas me era estranha, embora a simples ideia de me alimentar de sangue ainda fosse completamente estranha.

– Isso me leva a outra questão, como funciona nossa alimentação em pessoas? Quer dizer é possível faze-lo sem machuca-las ou lhes causar algum mal palpável?

Relaxando a postura eu cruzava uma das minhas pernas, minhas perguntas me levariam a outras, já que a nova natureza que compartilhava com os cainitas a minha frente ainda era uma novidade.

“Talvez não os afete diretamente, mas eles estão certos, eu não gostaria de me alimentar de alguém que tenha a índole duvidosa.

Coçando de leve a barba, meus dedos cruzavam pela pequena cicatriz em meu queixo, quase sorrindo com isso eu aproveitava o fato de ter Lucie e Martial para me lecionar ao perguntar.

– E quanto a peculiaridades de vocês, seria descortês de minha parte querer saber sobre elas?

Deixando claro que não havia problema em não ser respondido, meus olhos se voltavam para a pequena Camilla imaginando se haveriam outras facetas a serem conhecidas.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime26/2/2020, 21:34

-Claro que tem bobinho! Basta...

Camilla olhava na sua direção, ascendo com uma das mãos para chamar a sua atenção e então morder um dos queijos e em seguida lamber por cima da mordida e então falar de boca cheia, sem mastigar o queijo que estava em sua boca.

-Só lembra de não arrancar pedaço!

Ela então sorria com as bochechas estufadas e se levantava correndo para procurar um guardanapo onde ela cuspia o queijo. A explicação da jovem fazia Martial rir de maneira leve e enquanto o rapaz ria, Lucia o respondia:

-Nossas presas são utilizadas para causar feridas pontuais e nossa saliva consegue selar essas feridas. Além disso, somos capazes de sentir a pulsação do coração de quem está nos alimentando, o corpo dá muitas respostas sem que seja questionado.

A sua Senhora procurava então um espaço para se sentar enquanto a pequena ruiva limpava os lábios e esfregava o mesmo guardanapo na língua. A sua última pergunta atraia os olhos de todos, porém, quem respondia de fato era Martial:

-Bem, aqui você sempre terá as respostas que procura, mas entenda que essas nossas peculiaridades são especiais, segredos nossos, são fraquezas que podem ser exploradas e abusadas por outros. Compartilhar dela precisa ser algo único, absolutamente convicto... Pois bem, Lucie e Camilla possuem a mesma característica: As personas distintas que ocupam o mesmo corpo. Já a minha é um transtorno sensorial onde as vozes me impedem de ouvir e me fazer repetir uma mesma ação por horas... Como coçar as mãos até sangrar...

Respondia o jovem rapaz que sempre tentava ser o mais pedagógico possível.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime27/2/2020, 19:52

Minha atenção se voltava para a pequena Camilla quando esta acenava, ali eu acompanhava a mordida no queijo assim como a lambida, algo que a bem pouco tempo, minha própria senhora, havia feito em seu próprio pulso, as palavras da pequena com a boca cheia me faziam concordar com um riso breve assim como um aceno.

– Tomarei cuidado para não arrancar pedaços.

Ainda rindo eu voltava meus olhos para Lucie, acompanhando seu movimento de procurar uma cadeira para se sentar e compreender suas palavras, afinal uma parte de mim ficava aliviado em saber que era possível se alimentar sem que nenhuma vida tivesse que sofrer com isso.

“O corpo fala... Terei que me atentar a isso, principalmente por não saber como serei afetado pelas memórias.”

O olhar sério de Martial me indicava claramente o sério era o assunto em torno de nossas peculiaridades, ajeitando a postura na cadeira eu ainda coçava de leve a nuca enquanto ouvia as palavras de meu irmão, atento era com calma que concordava com suas palavras ao comentar.

– Terei esse cuidado, eu não gostaria de expor um de nós a alguma situação perigosa. Apenas considerei melhor saber agora, do que me surpreender no futuro sem algum amparo.

A simples lembrança de Martial lavando as mãos ao ponto de feri-las ainda me era recente, assim como o cuidado de Camilla em pará-lo, algo que naquele momento eu não tivera forças, porém a lembrança das mãos de Martial sem nenhum sinal dos ferimentos ainda me deixava curioso.

– Na noite que cheguei pude perceber as feridas que abristes em suas mãos, mas após o jantar elas estavam intactas, como isso é possível? Ou posso considerar que usaste a saliva para fechar aquelas feridas?
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime1/3/2020, 21:01

-Sem problemas, Gaetan, não há razões para justificar suas dúvidas, elas poderão ser sempre apresentadas para nós. Independente de suas origens ou tendências. E devo dizer que cedo ou tarde iríamos acabar lhe explicando sobre nossas peculiaridades, estas expostas agora, deixarão tudo mais fácil, tenho certeza...

Respondia Martial enquanto ao fundo da sala, Camilla seguia seus esforços para remover o gosto de queijo da boca. Enchendo agora a boca de agua e fazendo um barulhento gargarejo que atraia os olhos e risadas de Martial. A sua pergunta vinha justamente com a ação de Camilla e por causa das risadas, Martial não a respondia, porém, sua Senhora logo dizia:

-Veja, não seria possível... Apesar de ser plausível... As feridas causadas pelas pressas podem ser curadas através da saliva. Todavia, as demais feridas podem ser curadas através do nosso vitae. Nossa saliva contem uma fração de vitae, no caso vitae o nome dado ao sangue de um cainita, ou seja, nosso sangue. E ele recebe um nome único, por ser único.

Lucie então esticava a mão sobre a mesa, pegando uma faca, para prontamente passar a lâmina sobre a palma da mão, para criar uma ferida superficial, suficiente para cortar mas não para causar uma ferida severa. Porém, antes mesmo do sangue surgir pelas frestas do corte, o mesmo se fechava e selava como se nunca tivesse sido feito.

-Nosso vitae é poderosamente regenerativo. Apenas o fogo e o sol podem nos ferir sem que nosso vitae possa curar... Por isso, somos praticamente, imortais aos olhos dos humanos. E até mesmo o passar das eras não é suficiente para impedir nossos corpos de serem regenerador pelo vitae.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime1/3/2020, 22:54

As palavras de Martial me faziam sorrir com um aceno positivo, ouvir sobre cada peculiaridade me ajudava e entender as personalidades daqueles que me cercavam, que agora figuravam os rostos de meus irmãos e irmãs. Porem antes que eu pudesse responder a Martial as ações e o barulho alto do gargarejo de Camila me chamavam a atenção, um riso escapou de meus lábios com isso.

“Ela é bem irrequieta, deve ser trabalhoso escapar da atenção desta pequena, e bem eu serei a novidade por muitas noites ainda.”

Meu riso cessava diante das palavras de Lucie, minha atenção se voltava para a explicação desta, compreender a força de minhas novas características ainda me era complexo, por isso eu demorava mais do que esperado para reagir ao ato de Lucie abrir uma ferida superficial em sua mão.

Levantando-me eu sentia a musculatura de meu corpo enrijecer, um costume para aqueles que precisavam responder rápido em meio as intemperes da vida marítima, ainda sentindo a tensão eu observava a ferida se fechar como se nada tivesse acontecido, algo que me deixava desconcertado por minha reação.

Gesticulando de forma contida, eu indicava que estava tudo bem apesar de minha surpresa, tomando o cuidado de me sentar eu respirava afim de relaxar o suficiente enquanto procurava entender como o vitae afetava meu corpo, embora fosse uma coisa que naquele momento me parecia complexa demais, porém o gosto adocicado e inebriante do vitae de Lucie ainda ecoavam em meu paladar, um indicio que eu não podia ignorar.

“Tanta força... Isso com toda a certeza nos torna assustadores aos homens e mulheres que nos cercam.”

Coçando a nuca e a barba eu suspirava ao me recostar na cadeira e me apoiar em seu braço, a presença de Martial, Lucie e Camila não me deixavam nervoso, algo que intimamente eu agradecia apesar deles ainda me serem desconhecidos.

– Isso gasta de nossas reservas não? Além disso, as pessoas que trabalham no castelo parecem saber sobre nossa natureza, quer dizer pelo menos o monsieur Chapelle o sabia muito bem, embora estivesse um pouco nervoso pela presença da mademoiselle Altamira. Não é perigoso que pessoas saibam sobre nossa natureza?
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime7/3/2020, 19:13

-Sim, não somente nossas reservas... Nossa essência. Nosso Vitae.

Respondia Lucie, de maneira firme e veemente, com a intenção de realmente gravar aquelas palavras na sua memória. Logo, o sempre educativo Martial amplificava e abria o assunto de uma maneira mais simples.

-Como a única sustância que podemos adquirir após a nossa transformação em Cainitas é o sangue, qualquer uma de nossas atividades o consome e por tanto, precisamos nos alimentar diariamente. E diante de grandes esforços, fazemos um consumo ainda maior desse sangue que corre em nossas veias e sem ele, no sentido de total ausência, nós ficamos em um estado de paralisia e semimorte chamado torpor.

Explicava o jovem, porém sempre sábio Martial. Em seguida, era Camilla que falava sobre os humanos, antes mesmo que qualquer outra pessoa ali pudesse falar.

-Todos não né bobinho, seria muito trabalhoso impedir que todos aqui entendessem perfeitamente o que somos. Alguns sim, esses são escolhidos por suas capacidades ou por serem bem legais e recebem o nosso Vitae. Bebendo dele, eles se desenvolvem, se tornam mais do que humanos comuns, exibindo algumas de nossas habilidades... E quanto mais antigo for o carniçal, mais próximo de um cainita ele é.

Martial adicionava:

-Exatamente. Chapelle é meu primeiro carniçal, ele já deve possuir em torno de 122 anos de serviço prestados. Antigamente, todo cainita era em primeiro lugar, um carniçal e apenas quando chegasse o momento, este era abraçado. A transição era mais suave, porém, o nosso vitae é viciante e acima de tudo, escravocrata. Aqueles que se alimentam dele se tornam fiéis servos e em alguns momentos, seres sem vontade própria... E voltando ao costume antigo praticado entre os Cainitas, as proles eram primeiramente servos escravizados pelo vitae e posteriormente, seguiam por séculos ainda sob o domínio de seus Senhores.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime7/3/2020, 21:20

A firmeza nas palavras de Lucie me faziam encara-la, não era receio ou medo que me impulsionava a isso, mas a ênfase de sua voz deixava claro que aquela informação era vital para minha nova vida, ainda mais por se tratar do único alimento que tínhamos a disposição, vitae.

“Nossa essência... Espero manter a minha intacta diante das memórias, perder-se deve ser assustador para quem está do lado.”

Acenando de maneira simples a Lucie, eu lhe indicava que havia compreendido suas palavras, palavras que muito provavelmente ocupariam minha mente nas próximas noites e talvez até semanas. Voltando minha atenção para Martial, ali a forma didática que o jovem utilizava sanava a qualquer dúvida que eu pudesse ter.

“A força que eles falam carrega consigo muitas limitações. Ainda assim Altamira deixou claro o quão monstruosa ela pode ser, é justo que tenha algo que nos limite.”

Ouvindo as palavras da pequena Camilla, era em respeito ao tempo de todos ali que meus olhos se concentravam na figura diminuta da ruiva, a mesma concentração se voltava novamente para Martial quando este continuava a explicação me dada, e ali saber a verdadeira idade de Chapelle me deixava surpreso.

– 122 anos?!

Ainda surpreso eu me arrumava na cadeira ao coçar a nuca com calma, saber que Chapelle ao qual julguei ter minha idade era muito mais velho do que eu me deixava desconcertado, ainda mais devido aos cuidados que ele tivera comigo durante minha chegada ao castelo.

“Correntes de sangue... Deve ser assim que Einhard os mantinha presos.”

– Então eu sou o mais novo entre nós, quer dizer isso sem contar o pequeno Remi, nunca imaginei que me tornaria o caçula, mas espero não lhes dar o trabalho que meus irmãos menores deram.

Comentava com um sorriso sincero na face, afinal me imaginar como o mais novo ali presente era algo estranho e ao meu ver engraçado, ainda assim era com cuidado que deixava claro meu respeito pelos ali presente, voltando meus olhos para Martial por fim perguntava com certo receio da resposta.

– Martial, seria possível que a música influencia-se as memórias que irei herdar? Eu costumo tocar bandolins, talvez não seja o melhor, mas sempre me foi algo relaxante, e por tê-lo visto usando uma melodia para compreender minha peculiaridade, imaginei que pudesse haver alguma conexão.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime8/3/2020, 22:15

Camilla ria da sua surpresa, se divertindo bastante com a falta de informações que você não possuía. Em silencio a pequena garota andava até Lucie e sentava-se em seu colo, para ficar mais perto de você e continuar a lhe observar de maneira curiosa e sorridente. Já Lucie, suspirava e respondia algo que você não havia necessariamente dito:

-Sim, ele foi abraçado a cerca de um século e meio antes de mim, nosso Senhor adormeceu logo que me abraçou e acabei por ser criada e lecionada por ele... E era através dessas correntes forçadas que ele mantinha o cárcere que nos era imposto.

Camila logo adicionava:

-Lá vai a bisbilhoteira de pensamentos!

Martial ria aliviando o tom da conversa, a mesma risada era compartilhada por Camilla e Lucie arregalava os olhos e se desculpava, envergonhada:

-Desculpe-me, é que os pensamentos as vezes são bem mais altos que as falas... Não fiz por mal, prometo.

Controlando os risos, Martial respirava fundo ao comentar:

-Então faz sentido agora, por isso as vozes me disseram que a melodia seria a chave para abrir os mistérios da sua mente! Veja, certamente a música irá te ajudar, se ela antes lhe era relaxante, importante e um pequeno tesouro, isso será potencializado em seus momentos de maior sensibilidade! Nós, cainitas, temos todas essas lembranças de vida armazenadas em nosso interior e muitos esquecem disso... Por isso, não sabem reagir diante desses estímulos, por fim, o que eu quis dizer é que: Mantenha um bandolim sempre que possível, por perto!
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime9/3/2020, 16:10

As risadas de Camilla me faziam encara-la com um sorriso simples no rosto, sua diversão a minhas custas não me incomodava, pelo contrário revelava um pouco da natureza da pequena, algo que eu esperava me ajudar a compreender a Camilla mais velha.

Vendo Camilla se aproximar para sentar no colo de Lucie, era com delicadeza que lhe tocava na ponta do nariz com os dedos, uma brincadeira suave que fazia com Elodie quando esta era mais nova, atento a reação de Camilla eu tomava cuidado para não irrita-la ou magoa-la, afinal não era este meu desejo.

As palavras de Lucie que respondiam perfeitamente a meus pensamentos me deixavam surpreso, porém o riso de Martial e a brincadeira da pequena ruiva me ajudavam a superar a surpresa, ainda mais quando Lucie se desculpava pelo ocorrido.

– Não se preocupe, não é como se eu tivesse algo a esconder, além do mais eu fico feliz de perceber que começo a compreender um pouco de nossa natureza.

Respondia a Lucie apenas para com calma tocar em uma de suas mãos em forma de apoio, voltando a me arrumar na cadeira meus olhos se voltavam para Martial que finalmente conseguia controlar o riso.

“Acessar de maneira tão fácil os pensamentos dos outros... Nossa sensibilidade é muito maior do que eu poderia imaginar.”

Atento as palavras de Martial eu suspirava aliviado, tocar sempre fora uma de minhas pequenas paixões e de certa forma até um alivio para os dias cansativos e longos.

– Fico feliz em saber disso, seria uma pena não poder tocar ou passar algum tempo brincando com as cordas. Isso me leva a outra questão, infelizmente meus pertences ficaram na casa de meu irmão, logo precisarei de roupas e bem não me importo de trabalhar para conseguir me estabelecer aqui.

Sabendo que provavelmente Camilla riria de minhas palavras, eu ainda as dizia com calma, era a melhor forma de deixar claro que eu não gostaria de abusar da boa vontade deles, muito menos quando eu ainda não estivesse acostumado com minha nova natureza.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime12/3/2020, 22:07

Diante do toque no nariz, Camilla fazia uma careta divertida e ameaçava uma mordida, claramente a pequena ruiva levava grande parte de todos os estímulos que a rodeavam como uma infinita brincadeira. Tanto que, inevitavelmente e como previsto, ela ria diante da sua pergunta sobre roupas e a oferta de trabalhar por novas.

Lucie respirava tranquila, apoiando uma mão sobre o topo da cabeça de Camilla e começando a brincar com os cabelos da pequenina versão da ruiva, ela dizia:

-Certamente você terá trabalho meu caro, mas não será nada parecido com o que você se acostumou a fazer durante a sua vida. Afinal, você já foi dono de um castelo?

Martial adicionava logo em seguida:

-Sinceramente, não acho que isso seja um problema por hora. Roupas podem ser confeccionadas pelas artesãs da vila, terei o cuidado de pedir para que algumas sejam feitas e sobre o trabalho, você ainda precisa se entender como indivíduo antes de interagir com total liberdade com os demais. Não que você não saiba quem és, mas você ainda não conheceu a Besta que habita dentro do ti e sinceramente, acredito que seja arriscado demais colocá-la diante de seres inferiores a ela antes que você aprenda a ouvir e lidar com os rugidos dela.

Lucie estava pronta para falar algo, porém o som de alguém batendo na porta atraia os olhos de todos os presentes na sala de jantar. Ela então respirava fundo e perguntava:

-Pois não?

A porta se abria e você via a face de Remí, tão bem vestido quanto a primeira vez que você havia o conhecido, o homem adentrava a sala de jantar e fazia uma saudação para todos, incluindo você, para então dizer:

-Perdoe-me a interrupção, temos uma moça nos portões a pedir por abrigo, Zahra al-Yamin, prole de Nikolaos Condeas, do clã Salubri...

Novamente todos trocavam olhares, surpresos com a informação. Lucie então fazia um pequeno gesto para Camila sair de seu colo, para então se levantar e responder:

-Certo, vou para a sala de recepção. Conduza ela até lá, sim? E por favor, leve Martial e Gaetan contigo. Camila, me acompanhe... Temos que nos preparar...
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime13/3/2020, 00:38

A ameaça iminente de uma mordida era o suficiente para que minha mão fosse prontamente recolhida e escondida em um cruzar de braços, cruzar que deixava claro que minha intenção era proteger meus dedos das mordidas de Camilla, algo que me fazia rir baixo.

“Ela não é diferente de Elodie, talvez mais ativa e solta, mas não tão diferente, talvez eu não tenha dificuldade de compreender Camilla.”

Sorrindo para o riso da jovem ruiva diante de minha pergunta eu ouvia atentamente as palavras de Lucie que começava a brincar com os cabelos da pequena em seu colo, um sorriso calmo se apossava de minha face ao responde-la.

– Não e também não consigo imaginar o trabalho que exista por de trás dessa posse. Embora possa dizer que sei ordenar um navio como poucos o fazem.

As palavras de Martial me faziam compreender os cuidados que me eram dirigidos, ainda assim ouvir da besta me trazia instantaneamente a terrível sensação de fome que me despertara a mente, afastando os pensamentos assustadiços de meu foco era com um breve acenar que concordava com meu irmão.

– Eu agradeço quanto as roupas. Serei paciente, eu não gostaria de que algum mal acontecesse por descuido meu. Apenas achei prudente deixar claro que estou à disposição e bem eu não sei lidar com a ideia de estar parado ou falta de proposito, isso me deixa ansioso.

Tomando o cuidado de explicar minha motivação para que Lucie e Martial compreendessem, eu ainda podia sentir o velho costume de ser o mais experiente me guiar, algo que agora não correspondia completamente com a realidade que se apresentava a meus olhos.

Esperando pelas palavras de Lucie, era com surpresa que o som do bater na porta me atraia a atenção, ajeitando-me na cadeira enquanto minha senhora se pronunciava, diante da entrada de Remi eu respondia seu cumprimento com uma mensura educada, algo que era feito ao me colocar de pé sem receio de ser motivo de risos da pequena. A urgência do assunto levantada por Remí me fazia olhar para Lucie esperando por suas ordens, já que Lucie era a mais velha e experiente entre nós.

“Abrigo... Clã Salubri?!”

Estendendo a mão para que Camilla pudesse sair do colo de Lucie, era com carinho que lhe fazia um pequeno afago no alto da cabeça, o estender de mão era então feito a Lucie, era com uma pequena mensura que me despedia brevemente de minhas irmãs, esperando por Martial e Remi eu olhava curioso para meu irmão ao perguntar de maneira breve.

– Algo aconteceu em Marseille enquanto eu dormia? E bem como devo me portar?

Era com cuidado que eu ajeitava minhas vestes e passava a mão pelo cabelo e barba, atento as palavras de Martial e Remi eu sentia a estranha sensação de não saber ao certo o que esperar ou como me portar.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime21/3/2020, 00:28

Camilla aceitava a sua ajuda e sorria na sua direção, para logo sair correndo na frente e sendo a primeira a deixar a sala de jantar, deixando as portas do local abertas e permitindo que todos pudessem vê-la correr na direção das escadas de acesso aos quartos. Em seguida, sua Senhora também aceitava a sua ajuda e se colocava de pé, para fazer um sorriso breve seguido de um gentil toque no seu ombro após a mesura que você fazia. Ali ela olhava confiante na sua direção e em silencio se despedida e se retirava.

-Sim, infelizmente sim. A cidade está em chamas, ocorreu um enorme incêndio que se iniciou na ala leste da cidade e se espalhou como uma tempestade furiosa sobre os casebres que contornam as muralhas do porto, mas o porto em si e as casas de suas proximidade resistiram... Mesmo assim, as notícias não tem sido boas...

Comentava Martial, deixando claro que a região onde a sua família morava não havia sido afetada pelas chamas. O jovem logo sinalizava pra Remí, que respondia:

-Perfeito, irei conduzi-la até ao salão de recepção, até logo... E é um prazer vê-lo de pé Gaetan!

Dizia o serviçal com um sorriso gentil na face, que logo saia pela porta e deixava você e Martial sozinhos. O rapaz então sinalizava para que você o acompanhasse enquanto dizia:

-Se porte com sinceridade, seja quem você é. A família Salubri não é e jamais será um sinal de perigo ou preocupação, eles são nossos próximos, nossos progenitores eram íntimos. Nos nossos momentos mais terríveis e assombrosos, os Salubri cuidavam de nossas mentes e aquietavam nossas peculiaridades... Eles foram os primeiros a nos olhar com igualdade. E bem, hoje eles estão a beira do fim...
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime21/3/2020, 14:23

A pequena e espevitada Camilla me fazia rir ao vê-la correr pelo corredor em direção aos quartos, o simples fato dela ter aceitado minha ajuda para sair do colo de Lucie fazia com que uma pequena alegria nascesse em meu coração, e talvez a confiança de que aprenderíamos a lidar um com o outro.

Ajudando Lucie a se levantar, eu permanecia atento caso houvessem mais palavras vindas de minha senhora, mas seu toque em meu ombro e o olhar confiante me faziam sorrir com gentileza, daqueles que integravam minha nova família, Lucie deveria ser a mais aliviada com o fim da prisão a que foram jogados.

“Terei muito a aprender nas próximas noites, mas sei que eles serão pacientes comigo. Só espero poder corresponder essa paciência a cuidados.”

Minha atenção se voltava para Martial e suas palavras, as noticias que me chegavam eram de certa forma assustadoras, embora meus irmãos estivessem a salvo, a cidade sofreria assim como as pessoas que tivessem as casas atingidas pelas chamas.

– Uma lastima, eu conhecia boas pessoas que moravam na parte leste... Só espero que as chamas sejam logo controladas, ou que alguma chuva forte chegue rápido, isso ajudaria aqueles que precisaram recomeçar.

Observando o sinal dado a Remi, meus olhos se voltavam para o homem diante de suas palavras, ali eu sorria de maneira simples mas verdadeira ao responder o cumprimento.

- Obrigado meu caro, é bom revê-lo também, espero que possamos conversar com mais calma em algum outro momento.

Vendo Remi ir cuidar de seus afazeres me fez suspirar, eu levaria algum tempo para me acostumar com a posição a qual meu abraço havia me alçado, porém era algo que não me precisava me preocupar neste momento.

“Faz sentido terem buscado alguém de fora. Chapelle estaria tão preso quanto eles as correntes que Einhard os mantinha, ele melhor do que eu deve entender isso.”

A voz de Martial me fazia afastar os pensamentos, atento a ele eu o seguia sem dificuldades, observando o caminho que tomávamos as informações que Martial compartilhava comigo me deixavam curioso e até mesmo surpreso.

– Fico feliz em saber que nossos progenitores cultivaram uma amizade tão antiga. Pelo que pude perceber, a mademoiselle al-Yamin tem descendência árabe, eu tenho alguma familiaridade com o idioma e cultura, talvez isso sirva de alivio para ela.

Respondia de maneira simples a Martial, minha mente fervilhava de perguntas, mas naquele momento elas podiam esperar.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime25/3/2020, 22:38

Após as breves palavras trocadas pro você e Remí, você e Martial seguiam caminhando pelos corredores do castelo enquanto conversavam entre si, o rapaz ao seu lado era bem menor e certamente poderia ser confundido como seu irmão mais novo ou até um filho teu por olhos desatentos, porém, a realidade era inversa. Ali era o pequeno rapaz que o ensinava como um tutor responsável e didático.

-Não sabia que você tinha esse domínio, acredite no que lhe digo, será muito importante. Muito mais do que você imagina por agora, nós cometemos um enorme engano séculos atrás em desconsiderar os cainitas de herança árabe e africana, aprendemos a olhar diferente para eles agora e ser capaz de se comunicar no idioma natal de alguém é, e sempre será, uma forma gentil e forma de oferecer hospitalidade real.

Afirmava Marital, que o conduzia até a entrada central do castelo, passando por alguns guardas e corredores mais estreitos, chegando por fim ao portão de madeira e vigas de metal que mantinha a entrada central do castelo cerrada. Ali, o portão se encontrava parcialmente aberto em toda sua enorme magnitude, travado a cerca de dois metros de altura, permitindo assim a presença debaixo do mesmo de uma figura feminina acompanhada por quatro guardas do castelo.

Porém antes de chegarem a uma distância de interação com a mesma, Martial olhava na sua direção e falava em um tom baixo:

-De acordo com as tradições, os mais velhos se apresentam primeiro, por tanto eu abrirei a fala, mas não se preocupe as tradições não serão mantidas por mais do que alguns breves momentos. E por favor, fale em árabe com ela, certamente nos dará um ponto de partida favorecido.

Enfim, Martial dava alguns passos a sua frente e fazia um gesto, dispensando os guardas que deixavam a figura da mulher mais livre, esta por sua vez, tirava o gorro que escondia seus cabelos castanhos e cacheados, para fazer uma reverência na direção de Martial, se pronunciando em um francês carregadíssimo de sotaque.

-Zahra al-Yamin, prole de Nikolaos Condeas e herdeira da linhagem de Orpheus, o Sábio.

Martial prontamente respondia:

-Saudações, seja bem vinda Zahra al-Yamin, prole de Nikolaos. Sou Martial Cochet, prole de Einhard. Este é Gaetan Donnet, primeira prole de Lucie de Toulon, irmã de Einhard, este ainda esta em suas primeiras noites e ainda não responde sob a autoridade de seu próprio vitae.

Os olhos castanhos e circundados por uma linha marrom escura de Zahra te observavam com curiosidade e atenção, ela sinalizava então com a cabeça de forma positiva e Martial falava novamente:

-Seu requerimento por abrigo foi aceito e iremos conduzir você até a Senhora dessas terras. Mas peço para que a partir deste momento já se considere uma hóspede e que as formalidades que o vitae exige seja deixado nesta entrada, do interior para dentro do castelo, estarás entre seus iguais.

Era notório o sorriso de alivio de Zahra, a mesma chegava a respirar fundo para segurar uma lágrima que se formava no canto do olho esquerdo, uma lágrima avermelhada mas não totalmente formada de sangue...

-Fico muito grata...

Ela então se aproximava e claramente surpreendia Martial ao abraçar o rapaz e beijar os dois lados da face do mesmo. Martial ficava confuso e sem saber como reagir, em seguida, Zahra se virava na sua direção e se aproximava para fazer o mesmo, para depois dizer:

-Imagino que tenhas inúmeras questões em sua mente, todos fomos jovens como hoje tu és. Mas saibas que a gratidão que tenho por vocês é eterna e que em mim, você sempre encontrará respostas sinceras a suas dúvidas.

Zahra al-Yamin:
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime26/3/2020, 01:08

Havia uma certa curiosidade sobre a figura de Martial, acompanhando seus passos era fácil notar que um desconhecido poderia nos confundir como irmãos ou pai e filho, mas ali em minha estranha nova condição era o jovem rapaz que me lecionava, e com atenção eu o escutava atentamente.

- Compreendo a surpresa, os portos portugueses e espanhóis fervilham com iguarias vindas dos desertos e eles são comerciantes experientes, aprender seu idioma foi a maneira que encontrei de ganhar espaço e até o apreço deles. Eu consigo entender a falta de ouvir pessoas falando em meu próprio idioma, sei que isso é importante para todos, mesmo que muitos não percebam.

Respondia a Martial já que este se surpreendera com esta habilidade cultivada em meus anos no mar, atento ao caminho que seguíamos eu me sentia quase em um labirinto, um ao qual eu deveria me acostumar caso quisesse andar com liberdade.

“Levarei algum tempo para me acostumar, mas nada que não possa faze-lo.”

A entrada para qual seguíamos me fez olhar curioso em volta, aquela era a primeira vez que eu via o portão de um castelo pelo lado de dentro, e a visão continuava a me impressionar, porém era a figura feminina que logo prendia minha atenção, as palavras de Martial me deixavam claro sobre como seguir e a ordem a ser respeitada, eu concordava com um breve aceno deixando claro que o havia compreendido perfeitamente.

Ainda seguindo Martial era por respeito que me mantinha a alguns passos atrás, afinal seria ele a guiar aquela primeira interação com a figura que nos pedia abrigo, a primeira que eu poderia observar. Atento ao gesto de dispensa que Martial usava para os guardas, eu respirava por de certa forma me sentir mais confortável sem a presença deles.

Observando os movimentos de mulher, era com curiosidade que observava os cabelos castanhos e cacheados se revelarem, assim como as características únicas daqueles que descendiam dos mouros, as palavras de Zahra al-Yamin e seu sotaque apenas acentuavam sua descendência, ainda assim eu permanecia atento as palavras de Martial.

Uma mensura educada era feita a Zahra quando esta voltava sua atenção a minha figura, o olhar curioso desta era respondido com um breve sorrir educado embora em meu intimo eu também estivesse curioso, as palavras de Martial logo retornavam fazendo com que minha atenção se voltasse para meu irmão.

“Ele usa o nome de Einhard... Deve ser parte das tradições, já que ele apresentou Lucy e a própria Zahra mencionou seu senhor.”

Um suspiro curto escapou de meu peito quando Martial indicava que as formalidades não precisavam ser seguidas, o suspiro não se comparava ao alivio que Zahra demonstrava ter, a lagrima avermelhada que lutava para se formar nos olhos desta me deixavam curioso, mas a reação surpresa de Martial diante do cumprimento desta me faziam sorrir com calma, haveria tempo para as perguntas.

“Ela é judia...”

Abaixando-me para responder o cumprimento de Zahra, eu me atentava as suas palavras com um sorriso sincero nos lábios, era notável o cuidado daqueles que me rodeavam e isso me significava muito, tomando o cuidado de cumprimenta-la de forma adequada eu lhe respondia em árabe.

– Shalom aleikhem. Peço desculpas, mas é uma das poucas coisas que conheço do hebraico. Eu fico grato com suas palavras e agradeço o cuidado, espero que aqui possas encontrar a segurança que procuras, meus irmãos e eu a recebemos de braços abertos.

Esperando pelas reação de Zahra, meus olhos se voltavam para Martial, afinal seria ele a nos guiar e eu não gostaria de lhe faltar com respeito.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime27/3/2020, 19:14

-Alechem shalom!

Respondia a sorridente figura feminina que estava a sua frente, em seguida ela dava sequência ao diálogo entre vocês em um árabe profundamente fluente e vívido.

-Muito obrigada pelas palavras, Gaetan. É uma alegria poder conhecê-lo e ser recebida por sua família. Mas vejo que talvez seu primo não tenha conhecido muitas pessoas do meu povo, deveria me desculpar?

Ela o questionava enquanto Martial ainda tocava a própria face com uma expressão perdida e confusa na face. Notando depois de alguns segundos que vocês dois estavam a observa-lo, o rapaz sorria desajeitado e inevitavelmente, caia em uma risada divertida e espontânea.

-Me desculpem pela total falta de atenção, não consegui me recordar da última vez que tive minha face beijada... Muitos anos servindo a Igreja e muitos anos servindo meu Senhor não me trazem memórias tão afetivas assim... Porém, também devo me desculpar por não ser fluente em nenhum dialeto oriental. É uma falha que deve ser consertada o mais rápido possível! Quem sabe vocês não podem me lecionar? Eu poderia lhes ensinar o Alemão ou até algum idioma Eslavo!

Dizia o rapaz claramente tentando iniciar um assunto, movimentando as mãos para indicar que vocês poderiam então começar a se movimentar para dentro do castelo.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime28/3/2020, 00:00

Era com um sorriso sincero em minha face que escutava as palavras de Zahra, seu domínio em seu idioma natal era incomparável, algo que me deixava alegre já que meu próprio árabe sempre corria o risco de enferrujar em minha mente.

“Lionel nunca achou que fosse um idioma útil, e eu estou aqui a provar o contrário.”

O questionamento levantado pela figura feminina a minha frente me deixava curioso quanto a reação de Martial, ainda assim era com educação que respondia a Zahra.

– Peço desculpas Zahra, talvez apenas eu tenha tido a oportunidade de ter contato com seu povo e sua cultura, não é nossa intenção lhe faltar com respeito. Martial e eu não temos o mesmo senhor, mas eu o considero como um irmão que está a cuidar de mim.

Ouvindo as palavras de Martial era com calma que me aproximava deste levando a mão até suas costas para responde-lo de maneira simples e calma.

– Não se preocupe Martial, eu entendo o primeiro estranhamento, também passei por uma situação parecida. O povo de Zahra, trocam beijos nas faces como sinal de respeito e hospitalidade, eu não tive como lhe explicar por não saber que Zahra era uma judia. Mas venha, você melhor do que eu conhece o caminho.

A mesma mão que se apoiava nas costas de Martial subia para lhe apertar ombro com carinho, era a melhor forma que eu tinha como apoiar meu irmão que naquele momento estava a enfrentar seus fantasmas pessoais.

“A vida religiosa pode não ser a mais aconchegante, mas Einhard também não o era.”

Esperando os movimentos de Martial, minha mão apertava seu ombro com firmeza ao comentar.

– Ficarei feliz em poder compartilhar o meu conhecimento sobre o árabe, assim tenho a certeza de que não me esquecerei dele, e sei que você terá a oportunidade me ensinar o alemão ou algum idioma eslavo.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime30/3/2020, 18:23

Era com a sua ajuda que Marital parecia "ligar" novamente. Piscando algumas vezes e movimentando a cabeça positivamente, o rapaz começava a andar diante do toque que recebia no ombro e retornava a "normalidade", exibindo um pequeno sorriso na face e assumindo de fato a dianteira daquela caminhada na direção da sala de recepção onde as demais estariam a esperar pelo retorno de vocês.

-Sim é verdade, apesar de não sermos irmãos de abraço, acredito que a vida tenha destinado a nossa união a ocorrer de maneira indireta e tenho a certeza de que isso não irá diminuir em nada a nossa proximidade. Veja, Gaetan está em suas primeiras noites e eu sempre dediquei a minha vida a lecionar!

Zahra, caminhando ao seu lado sorria antes de comentar em francês, com seu marcante sotaque:

-Entendo perfeitamente, é sempre formidável encontrar um eterno professor. Ainda mais quando este tem a sabedoria de Malkav dentro de si, é quase como conhecer uma biblioteca bípede. E bem, Gaetan, não há necessidades de desculpas, não entre nós. Nossas heranças faz com que sejamos primos distantes. E seu árabe é formidável, fico grata por me receber com o uso deste, mas creio que será de bom grade a todos usarmos o francês daqui em diante, correto?

Martial concordava, caminhando a frente de vocês:

-Perfeitamente! Agora, se me perdoe... O que está ocorrendo na cidade?

Zahra suspirava e respondia:

-A príncipe de sangue foi deposto a força por seus rivais. Aparentemente, um jovem com clama ao trono francês foi executado pelas forças da Príncipe e isto provocou a ira dos interessados no rapaz. Ontem, a cidade se transformou em um campo de guerra e não sabemos quem irá emergir vitorioso deste embate...

Martial balançava a cabeça negativamente e comentava enquanto vocês atravessavam os corredores.

-A ganancia dentro de nós é terrível não é mesmo? Ela é ainda pior quando nunca confrontada ou inflada como honra, mérito ou dever... Sinceramente, nunca fui tão grato por não estarmos inseridos dentro da corte local!
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime30/3/2020, 22:20

A confusão de Martial desvanecia com o toque em seu ombro, algo que me fazia sorrir aliviado por meu irmão, afinal eu já havia visto ele se ferir devido as vozes, algo que me preocupava de certa forma, afinal ambos estávamos a mercê da sugestão delas.

“Martial é o mais sensível de nós segundo Lucie, como será que reagirei aos efeitos das vozes?”

Ainda tocando no ombro de Martial eu concordava com um aceno positivo as suas palavras, não éramos irmãos de sangue ou de abraço, mas com toda a certeza o jovem me lembrava muito a Abelin, não só fisicamente como a postura sisuda e até letiva.

– Não posso contestar o destino meu caro, posso não ser o melhor aprendiz, mas ao menos serei esforçado, farei valer suas lições. Nossos laços irão se estreitar com o tempo, apenas precisamos de um pouco de respeito e consideração uns pelos outros.

Respondia a meu irmão com calma, deixando que Martial tomasse a frente eu me colocava ao lado de Zahra, suas palavras em francês juntamente com seu sotaque forte me faziam concordar com a mudança de idioma utilizado, afinal eu falasse bem o árabe era essencial que todos pudessem se comunicar com Zahra sem empecilhos.

– Agradeço suas palavras, ainda tenho minhas dificuldades com a escrita por usa-la pouco. Ainda assim gostaria de ressaltar que estou à disposição caso queira conversar em árabe, mesmo que sejam assuntos banais, isso me ajudaria a não esquece-lo ou perder a pratica.

Atento aos passos de Martial eu ouvia a pergunta deste a Zahra, saber sobre a cidade me interessava já que eu conhecia Marseille como a palma de minha mão, ou pelo menos assim acreditava até o meu abraço.

“A coroa esta vazia... Talvez isso nos ajude, principalmente na questão dos aliados de Einhard... E talvez seja cedo demais para me preocupar com isso, Lucie e Martial sabem bem o que fazem.”

Olhando para a figura de Martial e Zahra eu respirava fundo ao perguntar com curiosidade.

– O que acontece quando um Principe é deposto? Quer dizer sei que um novo deve ser escolhido, mas como isso ocorre exatamente?
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime2/4/2020, 19:21

Zahra sorria com delicadeza, a mulher parecia a vontade e confortável a caminhar junto de vocês e apenas sinalizava positivamente com a cabeça diante das palavras ali trocadas, indicando que estaria disposta a sempre conversar em árabe. Já Martial, respondia brevemente:

-Devemos sempre aprender, sempre, é o melhor que podemos fazer com a condição que vivemos...

Logo que a sua pergunta era feita, Martial tomava alguns segundos para pensar, algo que Zahra não precisava fazer e respondia de imediato:

-O que acontece quando um Príncipe é deposto? O passatempo favorito dos filhos de Caim: Guerra.

A fala da jovem fazia Martial respirar fundo, em desconforto o rapaz parecia se sentir obrigado a movimentar a cabeça de maneira positiva, concordando com Zahra.

-Infelizmente... Muitas inimizades, muita inveja, muita vingança e ambições são movidas por debaixo dos panos, isso sempre existe entre os humanos, mas para nós, é ainda pior. Um cainita pode nutrir uma vingança por milênios! E é quando um príncipe caí que todos colocam suas presas para fora... A príncipe era uma grande aliada de meu Senhor e tenho certeza que o falecimento dele veio em uma péssima hora pra a Príncipe Deposta.

Zahra então olhava na sua direção e tentava ser menos pessimista ao dizer:

-Mas não se preocupe muito com isto agora Gaetan, na realidade, existe uma lógica por trás de cada eleição dos Príncipes. Dependerá de um conselho, chamado de Conclave, onde os representantes dos clãs irão votar e determinar quem será o novo Príncipe. Mas antes, você entende qual é a função desse cargo?
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime3/4/2020, 01:59

Um certo alivio se infiltrava em meu peito e pensamentos, a recepção não esperada de Zahra havia se dado com tranquilidade, uma a qual em meu intimo agradecia plenamente, já que as lembranças daquela fome inicial junto com a ideia de escutar as vozes se faziam presentes em minha mente.

“Martial falou em besta... O que isso pode significar? Será que a fome tem algum ponto em comum?”

Afastando os pensamentos e medos para o lado era com calma que ouvia as palavras de Martial, o rapaz demonstrava ser alguém suave e sincero além de ser um professor paciente com minhas inúmeras perguntas, já Zahra ainda era uma questão a ser respondida, uma resposta que seria dada por Lucie.

A resposta rápida de Zahra me fez encara-la por alguns instantes, a confirmação de Martial apenas me fazia acenar de maneira breve, eu já havia ouvido as histórias das quedas de algumas coroas, e saber que a natureza cainita apenas aprimorava o espirito destrutivo que havia nos humanos não me agradava muito.

“Imortalidade não significa perfeição... Nutrir uma vingança por milênios deve ser enlouquecedor.”

A naturalidade usada por Martial ao mencionar a morte de Einhard me deixava surpreso e até curioso, ali havia uma indicação de que talvez o falecimento deste não fosse um segredo. Voltando minha atenção a Zahra era com curiosidade que ouvia sobre a escolha do Principe, algo que me soava estranho e até inovador, porém a pergunta desta me fez rir ao balançar a cabeça ao responde-la.

– Não exatamente. Quer dizer, minha senhora me disse que é necessário uma permissão para se abraçar, que temos leis a serem seguidas e chegou a mencionar a figura do Príncipe, por isso imaginei que fosse algo semelhante ao que estou acostumado. Esta é minha primeira noite desperto depois de que fui abraçado, então creio que não tivemos tanto tempo para que eu pudesse montar uma base de conhecimento a qual me firmar.

Respirando ao coçar minha nuca afim de aliviar a pequena vergonha que se apossava de mim, eu ainda sorria de maneira calma ao perguntar curioso pelo tema que me era apresentado.

– Quem será o representante de nosso clã Martial? O conclave irá ocorrer quando as batalhas terminarem ou antes disso?

Era por educação e cuidado que eu evitava a mesma pergunta a Zahra, sua chegada deixava claro que sua situação não era uma das melhores e podia indicar até a perda de pessoas que lhe eram queridas, um assunto que eu não me perdoaria se por acaso destratasse.

“Espero que não haja retaliação dos aliados de Einhard, eles estavam desesperados.”
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime7/4/2020, 16:03

-Entendo, não há motivos para se preocupar com isso, na realidade acredito que novos abraços ocorrerão com uma frequência muito maior nessas próximas noites... Afinal, muito sangue foi derramado e os sobreviventes precisarão se reconstruir... De forma simples, um Príncipe para nós é um mediador de conflitos entre nós, é uma figura de liderança e resolução. Somente um Príncipe tem a autoridade de executar formalmente um Cainita.

Fala Zahra com um tom de voz brando, esforçando-se para lhe ensinar sobre uma tradição que parecia ser fundamental para a sociedade dos cainitas, sociedade esta a qual você agora também pertencia. Mas era notória a diferença entre as capacitações pedagógicas entre Zahra e Martial.

Diante da sua questão sobre o clã, Zahra se silenciava em sinal de respeito e Martial respondia de maneira clara e imediata:

-Sua Senhora, Lucie. Ela será a representante do nosso clã neste conclave que irá ocorrer após as chamas se apagarem e um represente da Camarilla chegar. A Camarilla é o nome da nossa estrutura governante, é ela que coordena e valida os Príncipes. Esse represente irá chamar o conclave e assim termos a nova liderança, assim como, a punição aos culpados pelo caos instaurado...

Nesse momento, vocês começavam a subir as escadas, na direção dos pisos mais altos, na direção de uma das torres. Já era possível ouvir a voz de Camilla ecoando pelo corredor, indicando que não faltariam muitos passos para que vocês chegassem enfim na presença da sua Senhora.
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MensagemAssunto: Re: 1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet    1º Arco - 3ª Ato: Narrativa de Gaétan Donnet   I_icon_minitime

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