Narrativas De World of Darkness Estruturadas Nas Versões de 20 Anos |
| | A Ficha de Loretta Giovanni | |
| | Autor | Mensagem |
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Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:21 | |
| - Ficha:
- Principal:
- Jogador: King - Natureza: Caçador de Emoção - Comportamento: Autocrata - Conceito: Matriarca - Clã: Giovanni - Geração: 8° - Senhor: Benito Giovanni
- Idade Total: 443 anos - Idade como Humana: 27 anos - Idade como Carniçal: 28 anos - Idade como Cainita: 389 anos - Data de Nascimento: 3 de Setembro de 1572 - Data de Carniçal: 5 de Agosto de 1598 - Data da Abraço: 24 de Fevereiro de 1627 - Cabelos: Castanho Escuro - Olhos: Azuis - Raça: Caucasiana - Nacionalidade: Italiana - Peso: 56 kg - Altura: 1,65 m - Sexo: Feminino
- Atributos & Habilidades:
─ Físicos ─ Força: ◘◘◘ Destreza: ◘◘◘◘◘ Vigor: ◘◘◘ ─ Sociais ─ Carisma: ◘◘◘◘◘ Manipulação: ◘◘◘◘◘ Aparência: ◘◘◘◘ ─ Mentais ─ Percepção: ◘◘◘◘ Inteligência: ◘◘◘ Raciocínio: ◘◘◘◘◘
─ Talentos ─ Prontidão: ◘◘◘◘ (Vinho) (Sangue) Esportes: ◘◘ Acuidade: ◘◘ Briga: ◘◘ Empatia: ◘◘◘◘◘ (Emoções) Expressão: ◘◘◘ Intimidação: ◘◘◘◘ Liderança: ◘◘◘◘ (Família) Manha: Lábia: ◘◘◘◘
─ Perícias ─ Empatia c/Animais: Ofícios: ◘◘ Condução: Etiqueta: ◘◘◘◘◘ (Bailes) (Corte das Rosas) Armas de Fogo: Segurança: ◘◘ Armas Brancas: ◘ Performance: ◘◘◘◘ Furtividade: ◘◘◘ Sobrevivência:
─ Conhecimentos ─ Acadêmicos: ◘◘◘◘ (Renascença) Computador: Finanças: ◘◘◘◘◘ (Vinícolas) Investigação: ◘◘ Direito: ◘◘ Medicina: ◘ Ocultismo: ◘◘◘ Política: ◘◘◘◘ Ciência: ◘◘ Tecnologia: ◘
─ Outras Características ─ Dança: ◘◘◘◘ (Pizzica) Crítica de Arte: ◘◘◘◘ (Poesia, Escultura e Pinturas) Desenho e Pintura: ◘◘◘◘ (Aquarela) Máscara: ◘◘◘◘ Cultura do Clã Toreador: ◘◘◘ Cultura do Clã Giovanni: ◘◘ Cultura da Camarilla: ◘◘ Vinicultura: ◘◘◘ Maquiagem: ◘◘◘
- Vantagens:
─ Disciplinas ─ Dominação: ◘◘◘◘ Auspícios: ◘◘◘◘ Ofuscação: ◘◘◘ Rapidez: ◘◘◘ Potência: ◘◘ Presença: ◘◘
Necromancia(2) Linha das Cinzas: ◘◘
─ Antecedentes ─ Domínio: ◘◘◘◘◘ Recursos: ◘◘◘◘◘ Geração: ◘◘◘◘ Acervo de Arte: ◘◘◘◘ Status: ◘◘◘ (Anciã na Toscana) Status em Florença: ◘◘◘ (Dama de Elonzo) Rebanho: ◘◘◘ (15 Membros) Família: ◘ (3 Membros) Contato: ◘◘ (Ezechiele Bernero) Lacaio: ◘◘ (Andrea Rossellini) Lacaio: ◘◘ (Flávio Rossellini) Lacaio: ◘ (Lucca Rossellini) Valete: ◘◘ (Giorgina Giovanni) Mentor: ◘◘◘◘◘ (Alfonsus Masdela Materazzi) Aliado: ◘◘◘◘ (Letízia di Francesco) Aliado: ◘ (Leona Levett) Aprendiz: ◘◘ (Muriel Verrochio) Velho Companheiro: ◘◘◘◘◘ (Sebastian Soyer) Velho Companheiro: ◘◘◘◘◘ (Olympia Ulfilia) Velho Companheiro: ◘◘◘ (Claudia Caccavale) Velho Companheiro: ◘◘◘ (Graziella Colleta)
─ Virtudes ─ Consciência: ◘◘◘◘ Autocontrole: ◘◘◘◘ Coragem: ◘◘◘◘
─ Humanidade - Ramo das Sensações ─ ◘◘◘◘◘.◘◘ ─ Força de vontade ─ ◘◘◘◘◘.◘◘
─ Meta Disciplinas ─ - Lealdade Familiar (Dominação 4, Presença 1) - Uma Palavra, Duas Mensagens (Auspícios 2, Ofuscação 3)
- Qualidades & Defeitos:
Prole Leal: Plínio Azzarà Prole Leal: Aloísio Giovanni Prole: Alonzo Giovanni Frequentador do Elísio Conhecimento Proveitoso Aliado do Clã Toreador
Favor Teimosa Joguete Ressentimento do Senhor: Benito Giovanni Chamas do Passado: Elena Giovanni Segredo Sombrio Fobia (Toque Masculino Não Autorizado)
Última edição por Danto em 22/2/2018, 15:31, editado 3 vez(es) | |
| | | Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: Re: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:22 | |
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Última edição por Danto em 13/10/2017, 14:10, editado 2 vez(es) | |
| | | Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: Re: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:26 | |
| Imagens - Loretta Giovanni:
Avatar: Valentina Corti- 1ª Imagem:
- 2ª Imagem:
- Informações Adicionais:
- Domínio:
Castelpietraio: Localização- Imagem do Refúgio:
Última edição por Danto em 13/10/2017, 14:09, editado 2 vez(es) | |
| | | Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: Re: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:27 | |
| - Experiência:
- Pontos Totalizados:
Atuais: 12 Gastos: 69 Pontos Totais Acumulados: 71
- Ato I:
-Curva de Aprendizado: 2 -Atuação: 3 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 1 -Total: 9
- Ato II:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Ato III:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Ato IV:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Ato V:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Ato VI:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Ato VII:
-Curva de Aprendizado: 3 -Atuação: 4 -Conceito: 3 -Superar Expectativas: 2 -Total: 12
- Informações Adicionais:
- Tabela de Custos:
Valor Máximo de Experiência por Ato: 12 Valor Mínimo de Experiência por Ato: 4 - Fatores considerados para a distribuição:
-Curva de Aprendizado (3 pontos) Considerando a compreensão das lógicas do sistema, utilização correta do próprio personagem e como o mesmo se desenvolveu durante o ato específico. A curva de aprendizagem é em palavras mais diretas o quão disposto o jogador se mostrou em melhorar sua escrita, reflexão e interpretação através de linguagens como: Pensamentos do personagem, falas, gírias, comportamentos e ações/interações.
-Atuação (4 pontos) Considerando a capacidade de construção de uma persona essencialmente diferente da sua, estabelecendo um distanciamento entre o que o jogador faria na situação apresentada e o que o personagem realmente seria. A atuação é a mais pura essência do ato de jogar RPG e é um fator importantíssimo e por isso é extremamente valorizado. De maneira simples, interpretação é a capacidade de um jogador de pensar, agir, se movimentar e compreender o cenário como seu personagem faria.
-Conceito (3 pontos) O conceito de um personagem é sua espinha dorsal, leva em consideração os valores que foram colocados na construção da ficha: Força de Vontade, Natureza, Comportamento e similares. O conceito de um personagem é exatamente o que ele é, nenhum personagem é obrigado a se solidificar em um premissa inflexível, mas manter-se fiel ao conceito é indispensável.
-Superar Expectativas (2 Pontos) Esse valor é um aditivo que será poucas vezes utilizado, aplicado somente quando um jogador realmente fizer algo surpreendente, mirabolante e fantástico. Algo que mudará a sua narrativa e provavelmente o cenário de forma positiva.
Última edição por Danto em 6/11/2017, 00:16, editado 3 vez(es) | |
| | | Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: Re: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:38 | |
| História de Loretta Giovanni - Linha do Tempo:
1549 ─ Tirone nasce. 1570 ─ Elena nasce. 1572 ─ Loretta nasce. 1589 ─ Tirone torna-se carniçal. 1593 ─ Nasce Baldassarre. (Primeiro filho de Elena) 1595 ─ Elena torna-se carniçal. 1597 ─ Nasce Alessio e Dalila. (Primeiro filho de Loreta e segundo de Elena) 1598 ─ Loretta torna-se carniçal. 1615 ─ Nasce Ermínia. (Segunda filha de Loretta) 1619 ─ Tirone é abraçado. 1627 ─ Elena e Loreta são abraçadas. (No inverno) 1631 ─ A Segunda Praga. 1632 ─ Morre Marietta e Alessio. (Mãe dos três e primeiro filho de Loretta) 1633 ─ Benito entra em torpor. 1648 ─ Tirone é assassinado e Loretta foge. (Junto de Ermínia) 1649 ─ Chegada em Florença. 1667 ─ Ermínia morre no parto de gêmeos. (Aloísio e Alonzo) 1685 ─ Aloísio e Alonzo vão se tratar em Voltera. (Proles gêmeas) 1686 ─ Aloísio e Alonzo são abraçados. 1707 ─ Começa relacionamento com Olympia Ulfilia. 1768 ─ Plínio Azzarà se torna carniçal. (Última prole) 1787 ─ Começa a guerra do principado de Florença. 1797 ─ Benito desperta e Magnus abdica. 1800 ─ Plínio Azzarà é abraçado. 1844 ─ Formação da Camarilla local. 2009 ─ Retorno de Loretta para a região.
- Primeira Parte:
O sol de verão irradiava sobre os campos de trigo os quais ressoavam com a quente brisa vinda do mar. Nada em minhas memórias consegue ser mais gratificante que me recordar das manhãs da Toscana. Infelizmente tais momentos de meu passado são poucos e quase que apenas pinturas em minha mente. O fato de serem tão difíceis de serem lembrados não se repousa sobre o fato de terem ocorrido a mais de quatrocentos anos atrás. Por mais antigo que sejam e por mais que passei por milhares de coisas em toda minha vida, nunca me permitir esquecer daqueles momentos. Aqueles alegres e únicos momentos de minha infância. Momentos tão curtos, mas tão especiais. Meus esquecimentos são oriundos de algo nefasto e profano que sempre assolou minha família. Tudo que há sobre meu passado foi me apenas permitido de me recordar, o resto foi apagado, erradicado de minha vida como o sol fora tempos depois.
Os raios de sol me são claramente o elemento mais gratificante de meu passado. Saudade é uma bela e única palavra, infelizmente incapaz de descrever totalmente o que sinto por aquela bela luz matinal. Mas ela não esta sozinha em meu coração. As músicas e danças, aquelas curtas e alegres cirandas infantis, também estão inclusas. Ouvi-las até nos meus momentos de maior desespero sempre me fizeram esboçar um sorriso em minha face. Me lembro de quando segurava as mãos quentes e delicadas de Elena e dançávamos dentro dos barris de uva. Amassávamos os cachos com nossos pés descalços, enquanto apreciávamos as músicas dos camponeses locais, rindo em profunda alegria. Não era nosso papel estar ali ajudando na época da safra, mas nossa mãe, Marietta, sempre nos permitiu participar. O que fazia do mês de agosto ser a data mais feliz para mim e minha irmã. Podíamos passar horas dentro daqueles barris apreciando uma boa a tradicional dança pizzica. Mesmo eu sendo dois anos mais nova que minha irmã, sempre consegui dançar melhor que ela, e provocá-la sobre isso sempre nos fez rir.
O terceiro elemento de alegria de meu passado estava no sorriso de Marietta. Nossa querida mama. Hoje eu entendo o real motivo dela sempre sorri quando nos via e por isso a amo mais que tudo neste mundo, mais até que o sol que me abandonara. Os cachos loiros de minha mãe, aos quais não herdei, sempre tinham o aroma das uvas de nossa querida e amada fazenda. Monteriggioni era o nome de nossa terra, éramos o únicos Giovannis naquele pedaço da Toscana e vivamos em paz. Viviam conosco na fazenda alguns Rossellinis, uma família vassala que arava a terra. Todavia quem mandava no vilarejo era os adultos de minha casa. Entre eles acredito que estava meu pai, o qual não possuo sequer uma lembrança do mesmo. Não que nunca o tenha visto, minha alma me diz que já o conheci, só que lembranças não possuo sobre o mesmo, como dissera, existe fatos que simplesmente foram removidos de minha mente. Apenas me lembro, entre os antigos que mandavam na terra, de meu irmão mais velho. Tirone era o seu nome, e pouco o via em minha infância, o mesmo estava casado com uma nativa ruiva do norte que quase nunca via.
Minha infância corre rápido em minha mente infelizmente. Muitas lacunas em branco entre as danças e as manhãs alegres. O fim de minha adolescência é marcado como uma grande mudança em minha vida para sempre e todo o sempre. Benito, aquele velho e sórdido homem, passa a ser um elemento em minha história. Por mais que apenas com meus dezessete anos eu o tenha conhecido em uma chuvosa noite dentro dos aposentos superiores e restritos da casa grande, sempre ficou em minha cabeça como se aquela não tivesse sido a primeira vez que o vira. Eu agira como se fosse natural encontrar aquele que se dizia nosso Patriarca. Aquele velho, gordo e estranho homem com um olhar profundo talhado em seu rosto antigo e misterioso. A primeira lembrança nítida dele vem daquela tempestuosa noite de outono onde apenas eu e minha irmã fomos chamadas para encontrá-lo, sozinhas sem a presença de nossa mãe.
Não existe palavras amenas para descrever aquele encontro. Dentro da escura sala onde ele estava sentado, com as janelas revelando a tempestade do lado de fora, estava outra pessoa além dele. Tirone estava ali presente, de pé, olhando para nós. Mas de longe fora isso que chamara nossa atenção. Nosso irmão mais velho estava despido, totalmente nu, com a genitália rígida e os olhos quase faiscantes. Era difícil desviar os olhos das vergonhas dele. O temor tomava conta de meu corpo e o de Elena. Más nós não éramos capazes de fugir. Estávamos congeladas naquela estranha e silenciosa cena. Nenhuma palavra fora dita, sequer por meu irmão ou pelo patriarca. As ações falaram por si próprias. Pois aquele que eu via como um distante irmão se aproximou da gente. Então ele segurou minha irmã mais velha e a jogou no chão, como se fosse um boneco e então começou a arrancar a virgindade de dentro dela.
Era assustador, aterrador ver aquela cena. Os gemidos de pânico dela e o silêncio de Tirone. Só que o silêncio mais perturbador vinha de Benito. Havia um pequeno desenho sorridente em seu rosto enquanto observava aquele momento cruel. Por um instante então os olhos dele se viraram contra o meu e senti dentro de mim mais medo do que já estava a sentir. Parecia impossível conceber tanto medo e terror dentro mim, só que foi possível. Em seguida comecei a andar como se meu corpo não fizesse mais parte de mim. Andei até mais perto da deplorável cena e sentei em um sofá oposto ao do patriarca. Meus olhos então voltaram a se focar na cena, nas lágrimas de Elena, no sangue escorrendo de suas pernas. O abissal pesadelo não terminava nisto. Pois meu corpo não parava de me desobedecer e pude sentir meus dedos se direcionando para dentro de minha perna. Toquei em minha genitália contra minha própria vontade e fiz meu corpo gozar de prazer enquanto observava a cena mais horripilante de minha vida.
Fora um erro achar que aquela cena seria a mais horripilante de todas. Depois de terminada todos nós agimos como se nada tivesse acontecido. Todavia todas as noites a partir daquela, o fenômeno de pura crueldade se repetia. Não levou mais de sete dias para eu e minha irmã trocarmos de papeis. Senti a força e potencia de meu irmão rasgar minhas pernas e me transformar em uma mulher. Via no rosto de Tirone que não havia prazer naquele ato, mas estava claro nos olhos de Benito. Nesta noite fora a vez de Elena ser a observadora, como eu fora antes e as lágrimas em seu rosto diziam por tudo. Pois o terror não acabara naquele dia. Na verdade nunca mais acabara. Se tornara rotina, uma cotidiana e cruel rotina. Os anos seguintes então se passam lentamente, não havia mais tempo para nós vermos a colheita, agora passávamos nossos dias dentro da casa maior. Sequer nossa mãe nós víamos com tanta frequência.
O terror era agora nossa vida e este se mostrava nunca parar de nos surpreender. Elena logo engravidou e nove meses depois nasceu Dalila. Todo o amor que restava no coração de minha irmã foi focada naquela bela criança. Era a única válvula de escape para nosso terror. Tirone se aproximara de nós ao longo das manhãs. Nunca no entanto tocando nos assuntos que ocorriam as noites. Ficamos no entanto sabendo da morte de sua esposa. O tempo então prosseguia passando e Elena começara a ficar indiferente. Algo acontecera com ela, parecia ter aceitado seu destino com mais facilidade. O que mostrava que eu seria a próxima, e estava certo. Me engravidei tempos depois e Elena agora esperava o segundo filho. As lembranças de nós duas gravidas e despidas sendo consumidas por nosso irmão as vezes tira minha concentração, mesmo quase meio milênio depois. Entretanto eu focava com muita força de vontade unicamente no nascimento de Alessio.
Meu filho nascera no auge do inverno no final do ano de mil quinhentos e noventa e sete. Logo acompanhado semanas depois de Baldassarre, o segundo filho de minha irmã e terceiro de Tirone. Foquei todas as minhas forças a cuidar de meu filho e tentar ignorar aquele pesadelo ao qual eu viva. No ano seguinte fora a minha vez de ficar tão indiferente quanto Elena. Provara do sangue de Benito, aquele forte e ácido gosto repugnante. Só que ao invés de me fazer querer vomitar, fiquei com sede. Meu corpo passou a ansiar por mais. A partir daquele dia quente de Agosto fiquei mais dispersa do mundo. Perdi o amor pelas manhãs ensolarada e dei de costas para o belo verão que tanto amava. Meus dias em seguida eram na profunda escuridão e eu me mostrei aceitar meu destino pela década seguinte. Então chegou o momento da minha segunda gravidez para trazer para esta terra a minha querida e amada Ermínia. Eram agora dois filhos para me fazerem ter ainda um objetivo em vida.
Agora os ritos de crueldade de Benito cessaram lentamente e alguns anos seguinte paramos mais uma vez de se encontrar com Tirone, isso depois de minha irmã já ter tido mais alguns filhos. O já calado irmão ficava agora quase que totalmente desaparecido e só o víamos junto de nosso patriarca. Não éramos mais usadas para reprodução. Entretanto este não era o destino de Dalila, a filha mais velha de Elena. Esta já na idade adulta tivera sua virgindade tirada por meu filho. Para em seguida ser oferecida para milhares de homens em toda a vila. O terror de minha irmã era compartilhado por mim, impotentes vendo aquela cena e sabendo que um dia seria a vez de Ermínia ser a reprodutora. Enquanto esta data não chegava era a vez de netos serem paridos, vários e vários, crescendo o número de nossa família.
A família agora estava grande, muitas crianças entre nós. Benito dizia que um dia aquilo seria a nossa maior força. Pois a família era a maior arma e jamais existiria outra para superar. Eram muitas crianças para cuidar e eu, minha irmã, mãe e sobrinha passávamos nosso tempo cuidando de todas elas. Não havia mais tempo para o sol e meu corpo sequer mais tinha vontade de vê-lo com tanta frequência. Assim o inverno de mil seiscentos e vinte e sete chegou. Era o ano que tudo aquilo, todo aquele terror se mostraria fazer sentido. Entretanto eu não almejava saber a resposta de toda aquela crueldade e agora que eu sei, teria era na época mais medo ainda de descobrir os segredos de Benito. Só que o segredo não era dele e sim dos Giovannis. Nós éramos uma família amaldiçoada e aquele inverno seria o começo de minha eterna maldição.
Mais uma vez chamada para dentro da sala de Benito. Flashbacks dos pesadelos antigos vinham em minha cabeça e provavelmente no de Elena também, que segurava minha mão compartilhando do medo. Adentrando a sala podíamos ver a neve acumulando na janela. Benito estava sentado numa poltrona de costas para a nós duas. Ele apenas observava o branco cair enquanto nos deixava em suspense a sua espera. Então do escuro canto do cômodo se aproximou duas presenças. Presenças que nos assustaram ao ponto de gritar. Eram dois cadáveres que andavam lentamente. Um eu não conhecia enquanto o outro era claramente da antiga esposa de Tirone. Estáticas, eu e minha irmã não conseguimos fugir. Fomos subjugadas por aqueles dois mortos fétidos e amarradas uma a outra no chão. Presas como galinhas antes do abate. O nosso fim estava próximo.
Meu corpo estava jogado no chão de madeira escura com o de minha irmã por cima do meu. Eu podia sentir o coração dela batendo em desespero enquanto os dois cadáveres se afastavam novamente. Agora amarradas, só podíamos esperar por Benito, o qual começou depois de um longo minuto de espera a se aproximar. Ele andava devagar, o som de suas passadas eram ouvidos ressoando pelo assoalho e ritmavam com as batidas no coração de Elena. Então abruptamente o corpo dela foi erguido ao ar e eu pude ver o pescoço dela ser devorado pela boca do Patriarca. Esta cena durou um minuto, enquanto as gotas vermelhas e quentes dela pingavam sob mim. Para finalmente o corpo dela ser jogado para cima do meu. Era aterrador não conseguir ouvir mais as batidas do coração dela. Ela estava morta. Não lembro o quanto chorei ou grite. Pois instantes depois eu fui levantada no ar e meu pescoço foi tragado por uma dor terrível que apagou todos os meus sentidos. Assim levando a minha morte.
- Segunda Parte:
A vida após a morte é indescritível em poucas palavras. Afinal seu corpo está morto, frio e estático, mas sua alma não. Entender isso leva tempo, muito tempo, junto de muita dor para superar. Este tempo custou a passar, pois a cada dia mais e mais dúvidas vinham sobre minha nova condição. Todavia muitas coisas foram fazendo sentido. Compreendi que dês de quando nasci estava interligada com esse mundo obscuro que me aguardava. Meu destino sempre estivera entrelaçado com este momento. Nunca tive alternativas, minha vida toda fora em função de me tornar o que acabara de me tornar. Apenas permitiram meu nascimento para que minha morte fosse realizada. A realização desse fato tornou tudo um pouco mais fácil. Apenas um pouco. Afinal ter que matar aquela insaciável sede levou muito tempo até se tornar uma ação rotineira.
Não custou muito tempo para que eu entendesse a hierarquia real de minha família. No topo estavam os amaldiçoados Giovannis, logo acima dos vivos que era a casta ao qual eu viva. Em terceiro patamar estavam os fieis vassalos da família. Para por último estar aqueles que eram a mão de obra e alimento crucial para nós. Entretanto em qualquer hierarquia piramidal, todos os níveis dependem dos outros para a existência. Afinal dependíamos de outros pelo sangue e para viver sob o sol, o belo sol que perdi. Compreender isto não me custou muito tempo, afinal parte de minha família ainda vive em outras castas. Entretanto notei que sou uma exceção neste caso, o que não me surpreende vindo de Benito.
Outro passo importante de minha nova condição foi compreender o poder de meu sangue. Apenas com o olhar e palavras potentes era possível dobrar a vontade de outros humanos. Esta era a grande superioridade que havia moldado toda minha vida até aquele momento. Houve muito mais para eu aprender sob a tutela de meu irmão mais velho Tirone, a qual agora finalmente conversava comigo e minha irmã de forma a não haver tensão no ar. Entre todas as lições ficamos cientes sobre as artes necromânticas. Consequentemente meu corpo como um todo rejeitou tentar absorver esse conhecimento. Felizmente nunca tive motivos para me aproximar desta. Tempos depois Tirone abraçou uma moça que já cultuava esta arte. Eloísa era seu nome, uma estranha moça das terras da Bela Veneza. Ela se tornou uma grande estudiosa no obsceno e obscuro. Mas minhas dúvidas sobre aquela jovem eram maiores que o fato dela ser um prodígio. Nunca entendi o que aconteceu com Tirone e Benito depois deste abraço, a relação dos dois ficou mais pesada que antes, ao ponto de me fazer evitar esbarrar com os dois próximos um do outro.
A decisão de não querer aprender necromancia desapareceu temporariamente no ano de mil seiscentos e trinta e dois. Cinco anos após meu abraço e um ano após uma grande praga assolar e destruir a terra. A peste negra ceifava a alma dos vivos sem piedade. Minha querida mãe foi a primeira a ser sucumbida pela dama morte. Morreu sentada em uma cadeira, provavelmente enquanto observava o sol se por, como era de seu costume. A encontrei já falecida após o crepúsculo, observando o horizonte. Foi doloroso o luto por ela, entretanto nada se comparou com o funeral de Alessio. Afinal graças a peste tivemos de cremá-lo também. Meu querido e amado filho, por mais que tenha deixado seus descendentes, deixara o mundo enquanto dormia, assolado pela peste. Ao vê-lo partir desejei do fundo de minha alma aprender as artes que Eloísa dominava. Felizmente Elena pois juízo em minha cabeça e minha sanidade voltou tempos depois.
A peste não destruiu apenas minha família. Levou o mundo todo ao nosso redor ao completo caos. Vilas inteiras desapareceram. Aquela região outrora tão próspera havia se tornado totalmente deserta. Abandonada e esquecida pelas rotas comerciais. Apenas a paz reinava ao nosso redor para nos proteger de um fim mais fatídico. Mas então para nosso alívio e ironicamente desespero, Benito entrou em torpor. Não houve avisos ou preparos para tal. Pegos de surpresa eu e meus irmãos nos vimos sozinhos para gerir nossa família. Agora seria Tirone a cuidar de nós. O que me aparentou ser uma bênção. Não mais haveria o terror à nossa espreita e minha Ermínia ficaria a salvo do futuro que Dalila havia enfrentado. Agora restavam apenas nós três contra o mundo. Nada aparentava que daria errado.
Para garantir que aquele sonho no meio do caos da peste se mantivesse por muito tempo Tirone selou os aposentos de Benito. Numa tola esperança dele nunca mais retornar. Assim tomou os negócios de nossa família. Fazendo nós sairmos de nossas muralhas e tomarmos a terra devastada para nós novamente. Refazer nossas fazendas e trazer prosperidade para nossa família. Era um sonho bonito pelo menos. Incêndios um atrás do outro começaram a consumir nossas plantações e aldeias mais próximas nas semanas seguintes. Era impossível para Tirone tão novo ir contra a força das outras famílias locais. Nunca antes tínhamos visto a fúria deles e não esperávamos enfrentá-los. Assim impotentes vimos nossa terras se reduzindo até nosso burgo de Monteriggioni. Era um ataque após o outro, meu irmão se mostrava cada vez mais enfraquecido e estressado e só conseguíamos era aceitar a derrota e recuar. Até ficarmos totalmente cercado dentro de nossas muralhas seculares e lá permanecer.
A vida em confinamento se mostrava difícil, todavia não era tão terrível quanto ter a presença de Benito por perto. Infelizmente não se era muito agradável ter Tirone ao lado. Derrotado e inconformável, sua personalidade se tornara mais amarga. Não tinha como culpá-lo por tal, afinal ele se via com muitas responsabilidades e frustrações. Mas eu sentia saudade daquele irmão mais presente que tentava mostrar que o mundo não era tão ruim quanto nosso senhor nos mostrou ser. Infelizmente o mundo era deveras terrível. Isto foi confirmado quase uma década após nosso confinamento. Quando de forma impecável nos deparamos com a execução de Tirone.
Lá estava ele executado em seu próprio quarto, sinais de sangue marcavam toda a cena. Mas era apenas o sangue de meu querido irmão estirado ao chão. O assassino havia escapado ileso e impune. Nunca soubemos quem, e talvez nunca saberemos quem, o matou. Afinal havia muitos suspeitos e o clima quente de violência deixava qualquer hipótese provável. Todavia com Tirone já éramos fracos, agora sem ele estávamos totalmente condenadas. Eu pude sentir o desespero me consumir com muita força, como se eu estivesse novamente perdendo o ar em meus pulmões. Só restava agora em meu mundo minha irmã e minha filha. Eu podia sentir que estava muito perto de perdê-las para sempre. Mas eu não possuía mais energia para fazer luto pelos queridos e pelas dores de meu passado. Era dor demais para lidar. Foi Elena que foi mais forte naquele momento. Mais uma vez foi ela que tentou por razão em minha cabeça. Mesmo que fosse uma pequena fagulha de esperança.
A insegurança não vinha apenas de mim. Elena também estava muito receosa sobre as decisões a serem tomadas. Afinal éramos agora só nos duas para cuidar das terras que eram de nossa família por mais de trezentos anos. Era nosso legado, nossa terra e dela nascia as uvas que tanto amávamos amassar. Não podíamos desistir, pelo menos este era o lema que minha irmã tanto levava. As vezes a mesma recitava em voz alta as palavras de confiança. Eu não estava em oposição a ela. Não queria abandonar aquele lugar que para mim era absolutamente importante. Mas meu pessimismo me dominava. Todas as manhãs passava dormindo nas terras dos pesadelos. Acordando muitas vezes após o crepúsculo com os olhos sujos de sangue por chorar dormindo. Qualquer dia podia ser o dia de ver minha única filha morta. Todavia eu não podia permitir isso. De forma alguma podia permitir isso. Se fosse realmente para viver no meio daquele pesadelo, eu deveria arriscar mais do que almejava.
Alguns meses depois do falecimento de nosso irmão as coisas em nossa família pouco mudaram. Afinal quase nunca mais abríamos as portas e desbravávamos nossas próprias uvas ao nosso redor. Eram agora uma floresta apenas esperando por um retorno nosso. Assim eu fui em busca dessa possibilidade de regresso. Não era uma decisão muito sábia de minha parte, mais arriscada que o cabível, tanto que não toquei no assunto com Elena. Mas não foi o tom de perigo que me barrou. Afinal não queria mais ver mortes ao meu redor. Pois por mais que a sina de um Giovanni é viver sob a sombra da morte, eu sempre recusei aceitar esse mote. Um verdadeiro Giovanni abraça a família e não a morte. Assim, fui em busca de família no lugar que mais temia daquela mansão. Adentrei as masmorras em busca de Mário Giovanni.
Mário era um nome pouco usado em nossa vida. Recitado apena por algum dos Giovannis carniçais mais antigos. Sequer Benito falava sobre ele. Mas o mesmo era o nosso verdadeiro Patriarca. Senhor de nosso senhor. Acordá-lo poderia trazer uma ira ancestral. Todavia preferia arriscar a fúria de um familiar desconhecido que a destruição que tanto me amedrontava e assombrava. Assim adentrei a cripta abaixo do pequeno cemitério de nosso burgo e segui pelos corredores escuros apenas com uma tocha em minhas mãos. O fogo nela podia trazer alguns calafrios para a besta que repousava dentro de mim, mas eu não sabia o que me aguardava lá embaixo. O que me esperava era uma cripta esculpida na pedra. Mais antiga que toda a casa acima dela. Um lugar abandonado pelo tempo e dominado por aranhas e poeira.
Os corredores apertados e tortuosos escondiam inúmeros sarcófagos arrombados com corpos descompostos dentro. Ossos e mais ossos. Crânios e mais crânios, com o vazio em seus glóbulos oculares me dando a impressão de sempre estar sendo observada. Algo me dizia que eles de fato estavam me observando. Entretanto nada me barrou até achar a cripta mais selada entre todas. As barras de ferro enferrujado custaram para ceder. Quase abracei a minha besta para reunir a força necessária para conseguir abrir meu caminho para o repouso de Mário. Já na beira de perder minhas forças consegui chegar até o mármore negro que era sua sepultura. Abri-la se mostrou o desafio final em prol de minha busca. Foi um alívio conseguir abrir aquela cova, o sorriso em meu rosto congelou quando foquei meus olhos lá dentro. Acontece que dentro do sarcófago não estava Mário e sim o maior segredo de Benito. Apenas cinzas residiam naquele lugar.
Ficara claro para mim naquele instante. Não havia ninguém em nossa família acima de Benito. Se já houve, isto fora um passado transformado em cinzas na minha frente agora. Apenas Benito poderia nos salvar. Entretanto agora o despertar dele se tornou mais assustador para mim do que era antes. Afinal não tinha como eu esconder o segredo que descobri. Deixei muitas evidências para trás. Não haveria como me proteger, ou pior, proteger minha filha. Neste momento só ela me importava. Assim, naquele momento dentro daquela cripta cheguei a única solução ao meu poder de fazer. Eu tinha de fugir daquela terra.
Admitir que a única forma de sobreviver era fugindo se mostrou difícil. Afinal meu amor por aquela terra era e ainda é colossal. Mas o amor pela minha família é ainda maior. Um lugar não estável como aquele e um segredo forte como o que eu agora carregava poderia levar ao meu eterno sofrimento. Ou pior, daqueles que eu amava, como minha filha e irmã. Assim, não havia escolhas para mim, sai daquela masmorra apenas carregando o sentimento que não haveria mais volta. Assim decidi conversar com Elena. Evidentemente não falei dos reais motivos de minha súbita vontade de ir embora para longe. Afinal o segredo que eu descobrira era um fardo pesado demais para outros carregarem. Estaria arriscando a vida dela também. Afinal Benito nunca foi alguém paciente e compreensivo. Assim a convidei para ir embora comigo.
O grande problema de meu plano de fuga era que minha irmã amava aquela terra tanto quanto eu. Mas mais que isso, ela possuía muitas esperanças sobre um futuro melhor. Eu no entando sabia que um dia Benito iria acordar e se nos já não tivéssemos sido assassinadas como nosso irmão foi, este seria nosso terrível fim. Assim não consegui nem em um milhão de palavras convencê-la a partir comigo. Quase expliquei os reais motivos de minha súbita vontade. Só que mantive o sangue frio e cheguei na terrível conclusão que a teria de deixá-la para trás. Talvez ela sobrevivesse. Se fosse esperta como sempre foi, não chamasse atenção como Tirone chamou e sem saber os segredos de Benito quando o mesmo despertar, seria possível que ela sobrevivesse. Infelizmente eu sentia como se fosse a última vez que a veria. Afinal eu partiria com Ermínia de imediato.
Não levou mais de uma semana depois de eu ter adentrado aquelas catacumbas para eu juntar alguns pertences para minha viajem. Já era auge do inverno próximo da virada do ano, com a neve começando a cobrir a terra. Peguei um homem da casta mais baixa para ser meu cocheiro, afinal não queria chamar muita atenção, ele se atendia pelo nome de Pablo. Então com a carruagem montada me despedi de todos na frente dos portões do burgo. Com exceção de Elena. Dalila disse que ela ficou no quarto dela trancada. Minha sobrinha então me suplicou para eu reconsiderar e ficar com elas. Infelizmente tive que negar e antes que as lágrimas tomassem todo o meu rosto adentrei a carruagem e pedi para irmos.
O nosso pequeno castelo ia sumindo no escuro horizonte de uma noite de inverno. A neve caia sob nossas terras abandonadas e eu não conseguia imaginar o destino que aguardava para elas. Só que agora eu tinha que pensar no meu futuro e no de minha filha. Afinal estávamos indo para o norte sem nenhum objetivo traçado. Apenas fugindo de minha origem. Era duro aceitar isso. Por mais que eu sofrera muito entre os Giovannis, aquela era minha vida e meu destino. Abandonar tudo era difícil, olhei para trás e chorei repetidas vezes naquela primeira noite. Mas me mantive firma. Apenas pensando que um dia eu poderia voltar. Um dia eu retornaria para aquelas terras e conseguiria viver sem estar sob a sombra de Benito. Um dia eu conseguiria. Jamais imaginaria eu que esse dia chegaria e foi depois trezentos e cinquenta anos longos anos.
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| | | Danto Admin
Mensagens : 4857 Data de inscrição : 04/06/2012 Idade : 32
| Assunto: Re: A Ficha de Loretta Giovanni 13/10/2017, 13:53 | |
| História de Loretta Giovanni - Terceira Parte:
O inverno de mil seiscentos e quarenta e oito foi forte e pesado. Fechando muitas vias nas estradas. Minha viajem de fuga foi bastante lenta e complicada pelo acúmulo de neve nas rotas para o norte. Fazendo-me ficar impedida de cruzar os Montes Apennines e chegar no norte italiano, talvez para ir para França. Assim sem poder atravessar as montanhas me vi tendo de chegar em Florença em Janeiro do ano seguinte. Nunca tive planos de ficar naquela cidade, por mais que bela, temia a proximidade com minha antiga casa. Entretanto essa sensação mudou logo que atravessei os portões da cidade, no início da noite. Aquelas altas e grossas muralhas reservavam um novo mundo ali dentro. Uma atmosfera totalmente distinta de tudo que eu vira na Toscana inteira. Mesmo de noite as ruas estavam cheias de mercadores, músicos e muita vida. Parecia que a peste negra já havia abandonado aquela terra. Mas parecia mais que isso, era como se eu tivesse ido para o futuro, muitos anos no futuro. Aquele lugar era mágico e me apaixonar por ele foi uma tarefa fácil.
Minhas informações me diziam que o príncipe era um poderoso Ventrue chamado de Magnus Ulfiia. Andando pelas ruas eu podia sentir sua presença ressoando por dentro daqueles muros. Isto realmente me fez me sentir segura. Assim não me poupei das etiquetas necessárias para aquela chegada. Me direcionei para o Elísio local. O único lugar que tinha alguma ideia de onde seria. Afinal eu e minha filha estávamos mais do que perdidas e o cocheiro era um pobre fazendeiro que queria voltar logo para sua casa, como assim eu permitiria. Então nos direcionamos para aquele lugar neutro da cidade, com esperanças de estadia. Me despedi do cocheiro Pablo e adentrei o Elísio.
Interessante hoje me relembrar desta cena. Pois havia ali tantas pessoas que se tornariam conhecidos tão importantes para mim nos próximos anos. Era integrante como entrar dentro daquele salão de mármore absolutamente bem decorado fez todos os olhos caírem sob mim. Só que não era visto ninguém de fato me encarando, era apenas possível sentir. Aquela elegância na época me foi vista como um mistério, então me prontifiquei a sentar em um banco com minha filha, que se mostrava aterrorizada de medo. Ela já tinha trinta e três anos, mesmo aparecendo ter seus 17, pois na data de falecimento de minha mãe comecei a manter minha querida filha bem alimentada com meu sangue. Afinal não podia deixar ela morrer na época. Assim sendo, por mais que tinha a idade de uma adulta, possuía o espírito de uma adolescente receosa que ficou sentada cabisbaixa do meu lado.
Não durou um minuto para eu ser recebida por uma jovem altamente pálida com roupas amarelas gritantes. Antes desta estranha pessoa se dirigir a mim ela primeiro trocou palavras de gentileza com minha filha, como se já tivesse percebido o parentesco dela comigo e o medo em suas feições. Em seguida se apresentou a mim como uma malkaviana chamada Fabianna. Ela era muito misteriosa e mantinha um sorriso escancarado que me deixava receosa, mas consegui seguir as normas de etiqueta, me apresentando e pedindo ajudar para poder realizar minha própria apresentação ao principado. Assim a filha da lua logo me apresentou ao guardião do Elísio. O primeiro Toreador que conhecia, Ernesto Abbadelli.
As palavras polidas e sofisticadas dele tirou de mim qualquer sentimento de incômodo e incerteza. Ele me garantiu uma audiência com o Príncipe e certificou que até lá não haveria problemas em eu repousar no salão dele. Assim nós duas esperamos. Conhecemos ao longo da noite mais algumas pessoas naquele lugar. Ermínia foi lentamente ganhando confiança e eu fui sentindo cada vez mais que havia não havia feito um grave erro. Houve um porém quando Ernesto regressou e disse que minha apresentação oficial só poderia ser dada dentro de três dias, afinal havia muitos compromissos na agenda de Magnus. Felizmente o mesmo me ofereceu aposento em uma pensão de carniçais dele especializada em receber membros como minha pessoa.
Nos dias de espera fui ganhando um pouco de aflição do porquê estava a demorar tanto para me encontrar com o príncipe. Aliviei minha ansiedade frequentando o elísio sempre que tive tempo para tal. Também me senti ainda mais agradecida ao Ernesto quando recebi na modesta e limpa estalagem que fiquei alimentação. Este gentil gesto diminuiu um pouco minha apreensão. Pelo menos até chegar o dia da audiência e eu adentrar os tapetes roxos bordados em azul com dourado. É quase literal eu dizer que senti meu coração congelando novamente naquele momento. Afinal eu estava ciente da política do meu clã para com o resto da sociedade cainita.
No final do salão ao qual eu entrava em minha apresentação via duas pessoas na minha frente me aguardando. Uma claramente era o príncipe sentado em seu trono expelindo todo o poder de sua posição, em seu lado direito era um misterioso homem. Vestido de forma tão sofisticada quanto o próprio lorde e com um olhar mais penetrante que Magnus. Este era o Senescal, Elonzo, também do clã Toreador. Foi o mesmo que se apresentou primeiro após um gesto de permissão do monarca. Não demorou para eu notar que os dois estavam me recebendo eram de braços abertos. Qualquer que fosse o problema de minha família para com eles não aparentava estar mudando o julgamento deles. Fiz uma aceitável apresentação e os desenvolvimentos da mesma foram favoráveis.
Assim sai daquela reunião, fora um pouco surpresa, com duas grandes novidade. Primeiramente ganhei autorização para viver na cidade com minha filha como também recebi do próprio Senescal um espaço para minha morada. Assim, nós duas fomos escoltadas por uma prole do próprio Elonzo que nos deixou na porta de nossa morada. Era uma casa bela com duas varandas internas e três quartos. Ficava quase na avenida central e era absolutamente próxima do lugar de encontro dos Clã das Rosas. Entrei na casa só para ser recebida por um carniçal do Senescal pronto para me servi com a maior dedicação do mundo. Não posso mentir dizendo que minha chegada na Florença foi difícil. Tive muita ansiedade, mas fui otimamente recebida. Por isso até hoje nunca me arrependi de para lá eu ter me mudado. Talvez estaria até hoje lá se não fosse o meu destino me obrigando a traçá-lo.
Passei muito tempo indo ao Elísio nas semanas que se postergaram. A maior parte do meu tempo interagia com outros Toreadores. Afinal ganhei um respeito pelo Senescal deles. Não vou negar que houve muita desconfiança vindo em minha direção também. Olhares atravessados e algumas piadas infelizes sobre me perguntar se eu tinha algum namorado em algum cemitério da cidade. Mas eu sempre rebati todos os olhares e desaforos com sorrisos e foram desses sorrisos que fui me aproximando mais e mais da sociedade local. Claro que não foi apenas com o clã das rosas que construi um bom convívio, houve outros nomes incluindo no clã dos patrícios. Uma relação com este clã depois se tornou algo muito importante em minha vida, mas contarei quando chegar a hora. Acho que minha necessidade de me manter no máximo possível uma humana, para poder propor um mundo menos avesso para minha filha, cativou muitos dos humanistas da cidade.
Assim, como em um piscar de olhos vinte anos se passaram. Aquela vida no meio de tanta modernidade e arte me fascinavam tanto que permitia o tempo correr com facilidade. Todavia para Ermínia o tempo era mais importante. Agora ela já estava com mais de cinquenta anos, mesmo que mantendo a aparência da bela princesinha que sempre terei dela. Logo era inevitável que a mesma arranjasse um namorado. Minhas lembranças do meu passado me faziam tremer só de pensar em algum tipo de relacionamento. Felizmente minha jovem era forte e conseguiu se deixar cair em paixão. O jovem que conquistara seu coração não tinha ascendência italiana, era um estrangeiro. Mas tão belo e educado com suas palavras que jamais pude censurar o relacionamento dos dois. Seu nome era Sebastian Soyer e naqueles dias eu não imaginava em como os nossos destinos estariam tão entrelaçados.
Todos os bailes que os Toreadores promoviam permitindo humanos eu levava os dois para participarem. Ninguém ganhava de mim lá dentro em minha solitária dança em Pizzica. Mas eram os dois que roubavam os olhos dos telespectadores com suas românticas e intensas danças que só a cultura italiana permitia exacerbar. Era belo vê-los roubando a luz dos palcos. Pois deixava claro que minha filha estava para fazer raízes na cidade e aquele lugar deixaria para sempre de ser temporário. Era minha eterna e total residência. O que me fez começar a pensar em criar meu próprio negócio na cidade, mas isso ficou para mais algumas décadas no futuro. Afinal nem tudo que é bom dura para sempre.
Alguns meses após o namoro dos dois me chegou a notícia da gravides de Ermínia. Meus olhos brilhavam em escarlate com aquela bela virada em nossas vidas. Não houve nenhum motivo para receio, só alegria. Infelizmente essa alegria não foi bem recebida por Sebastian. Mas isto não por ter lhe dado desgosto e sim pelo fato do mesmo ter sumido. Desaparecido. Por inteiros três meses de gravidez e achávamos que ele havia morrido. Minha filha ficara rapidamente com depressão por imaginar a morte de seu amor, ou pior, da hipótese dele ter a abandonado. Entretanto a verdade era mais complexa, ele havia de fato morrido, para regressar como um cainita.
Elonzo havia escolhido aquela como a última oportunidade para abraçá-lo e assim ele fizera. Os dois não sabiam na época da gravidez, mas quando o jovem finalmente voltou para nós, ficou chocado, feliz, mas chocado. Sofreu muito com a ideia devastadora de não poder mais oferecer uma família saudável para sua amada e seu primeiro e último filho. Era perceptível com facilidade a tristeza em seu coração. Felizmente minha filha o consolou e puderam, mesmo que com mais distância, ficarem unidos até o dia do parto. Até o fatídico e horrível dia do parto.
Acordei na quinta noite de Maio de mil seiscentos e sessenta e sete com gritos pela minha morada. Corri desesperada até o guardo de minha filha para presenciar a cena mais dolorosa de minha vida. Era muito sangue, mas muito sangue escorrendo de suas pernas. Duas parteiras tentavam de tudo para conter o ferimento, mas era uma ferida exposta demais. Sem sequer olhar para a terceira parteira corri para minha filha. A agarrei, chorei, gritei, esperneei. Ela já estava morta, nada se havia para ser feito. Transformá-la naquelas condições seria amaldiçoá-la duplamente. Então nada fiz fora xingar Deus e sentir meu coração sendo destroçado enquanto abraçava o corpo sem vida de minha anjinha.
Todavia meu querido Deus ouviu meus lamentos. Fazendo a terceira parteira vir até mim e me revelar o presente de Ermínia para mim. Ela não tivera um filho, e sim dois. Dois belos gêmeos perfeitos. Nada seria o suficiente para esconder a dor em meu coração. Porém aqueles dois belos bebês puderam me distrair bastante. Trazendo para minha vida amaldiçoada ainda um propósito e motivos de alegria. Acredito que Soyer pensara como eu quando ficou sabendo da notícia. Nunca vi um homem tão devastado quanto o vi, nem Tirone em seus piores dias se permitia revelar seus sentimentos como meu genro revelara. Se antes eu tinha algum tipo de receio daquele estrangeiro amar minha filha, agora não havia mais dúvida, ele era o homem perfeito para ela. Infelizmente não havia mais ela para ele amar. Só que Sebastian ainda seria o pai de meus netos e ele não se recusou em assim o ser.
O enterro de Ermínia ocorreu no dia seguinte, no pequeno cemitério atrás Basilica di Santa Croce di Firenze. Basicamente apenas eu e Sebastian foram. Ele parecia mais morto do que realmente estava. Mesmo eu fragilizada tive forças para consolá-lo. O que fez muito bem para ele, proporcionando daquele dia para frente minha presença mais frequente em sua morada. Assim comecei a conhecer mais o próprio Lorenzo como também deixar os gêmeos passarem um tempo com o pai. O que me permitiu em passar mais e mais tempo conhecendo a bela família Toreadora local.
Apenas as educadas palavras e as belas artes conseguiam amaciar um pouco a dor em meu coração. Felizmente o sorriso daqueles dois idênticos bebês me traziam as forças necessárias para seguir minha não vida. Assim me vi entre muitas pessoas socializando, mesmo naqueles dias tão avassaladores, nunca me permitiram ficar sozinha. Um dos fatores importantes foram os carinhosos criados da casa ao qual vivia. Foram eles que me lecionaram a nunca desvalorizar os humanos. Eu já tinha isso em minha cabeça dês dos meus primeiros dias de abraço, mas era bom reforçar o pensamento.
Foquei os anos seguintes lecionando os dois jovens, meus queridos e amados Aloísio e Alonzo. Nada podia falhar na educação deles. Eles eram meu último elo com minha terra mãe. Eles tinham de ser grandes. Maiores do que eu jamais sonhei em ser. Um mundo inteiro estava de porta aberta para eles naquela próspera e majestosa cidade. O pai deles também os proporcionava os melhores tutores e os mais belos presentes. Não houve miséria na vida dos dois anjinhos de cabelo dourados. Mas mais que prosperidade e oportunidade, nós oferecíamos amor incondicionalmente. Posso admitir que errei bastante em minhas atitudes e se fosse hoje faria tudo diferente. Mas a vida é uma só e o capítulo seguinte foi bastante conturbado.
Dezoito anos depois meus netos já eram homens crescidos. Tinham seus casos românticos e seus sonhos. Aloísio queria ser um arquiteto, tinha um dom para tal. Alonzo não estava muito distante com seu profundo amor pela matemática, almejava ser um catedrático. Infelizmente eles foram ficando cada vez menos produtivos ao longo das semanas. Cansavam rápido e dormiam cada vez mais. Eu praticamente não os via mais de tanto tempo que os dois dormiam. Eram dois rapazes que amavam o sol e não tinham um pingo de sangue amaldiçoado em suas veias. Assim eu e Soyer fomos cada vez passando menos e menos tempo com os rapazes. Isso até notar que eles tavam ficando anêmicos.
Era mais que uma reles anemia. A fraqueza de ambos crescia rapidamente de dia para dia. Ao ponto de em poucas semanas estarem totalmente debilitados e enfermos. Assim corremos por todos os cantos da cidade em busca do melhor médico. E não paramos nem na segunda ou na terceira opinião. Juntamos todos os conhecimentos possíveis sobre a doença dos dois. A conclusão era simples. Eles eram Congênitos. Os horripilantes incestos do passado de minha família deram para os dois uma terrível característica física. Fora a fraqueza absoluta de seus vasos sanguíneos finos e frágeis, seus pulmões eram muito colados. Um sintoma comum para gêmeos. Em outras palavras, a vida deles estava totalmente contada.
Soyer ficara tão desesperado quanto eu. De imediato pensou em abraçar os jovens, mas o seu carniçal logo recomendou do contrário. O estado dos jovens estava terrível. Amaldiçoá-los da forma como estavam iria representar uma vida terrível e deformada para ambos. Não era uma opção. Assim nos víamos perdidos apenas vendo os garotos definhando. Ver o sorriso deles morrer me era a eterna tortura. Talvez o mote de minha família estivera correto a final. A morte era nossa única companheira. A única coisa que podia fazer para com ela, era aceitar. Mas não foi isso que o Toreador fez. Ele não aceitou o destino. Começou a importunar o próprio senhor ininterruptamente. O mesmo possuía carinho pela prole e decidiu considerar o assunto.
Por volta de uma semana depois da doença ser confirmada e muito desespero e expectativa, Elonzo finalmente veio até mim. Um pouco receoso talvez, mas sempre me foi difícil analisar a personalidade dele, impossível para dizer a verdade. Ele me disse que a Grande Regente Valeria Santorelli estaria naquela noite presente no Elísio e a mesma estava a par da situação. Precisava apenas ser devidamente requisitada para o serviço que conseguiria a aceitação da Tremere para que esta cuidasse dos gêmeos. Ele me deixou bem claro que a magia daquela feiticeira seria capaz de poder salvar os filhos de Soyer. Não tem como descrever minha felicidade naquela hora. Mas hoje avaliando aquele momento fica claro como que Elonzo não queria ter de dever nenhum favor para a Capela de Volterra e me deixou por meu nome à disponibilidade.
Foi assim que fiz. Fui até a respeitosa feiticeira estava e esperei ela me notar para me apresentar. Valeria de fato já sabia do caso e se mostrava interessada em tratar de meus netos. Todavia ele fez um jogo mole na conversa, provavelmente aproveitando meu desespero, até eu jurar que ficaria em eterna dívida para com ela. O sorriso dela foi assustador, mas o suficiente para que tudo fosse acertado. Em poucos minutos ela juntou alguns lacaios dela e foram até minha morada para levar Aloísio e Alonzo à suas carruagem. Eu fiquei muito estática com toda aquela movimentação bem estudada da mesma, que no final me avisou que os levaria para Volterra para um tratamento intensivo.
Estarrecida foi o primeiro sentimento. Mas logo consegui me sentir aliviada. Bem aliviada na verdade. Haveria então esperança para meus garotos. Infelizmente fiquei um bom tempo sem receber notícia dos mesmos. Um ano para ser exato. Só não ficava mais apreensiva porque Sebastian disse que fora os visitar e disseram que eles estavam bem. Não sei se o Toreador de fato se encontrou com os filhos, mas ele me parecia confiante, assim também fiquei. Então em uma certa noite eles finalmente voltaram, chegaram correndo para dentro de casa, causando barulho como de costume deles. Estavam claramente mais saudáveis e pareciam estar em ótimo estado. Havia dado certo o tal misterioso tratamento.
Infelizmente a própria Senhora Santorelli adentrou na casa andando devagar, diferente de meus netos, em seguida oferecendo notícias mais conturbadoras. Disse que o tratamento fora um sucesso. Mas o quadro estável seria revertido com o tempo e eles ficariam exatamente como estavam no passado. A menos que... É... A menos que fossem abraçados. Uma opção de futuro sinistra que eu jamáis queria oferecer para os dois. Entretanto eles eram o que me restavam de minha querida Ermínia. Eram a última lembrança dela. Não podia vê-los novamente moribundos. Não depois de se mostrarem agora tão alegres e cheios de vida. Assim deixei a decisão para o pai deles.
Sebastian Soyer teve o mesmo conflito que eu, só que da mesma forma chegou a conclusão final que o abraço precisava ser realizado. Mesmo que sem a permissão do príncipe. Infelizmente a permissão de Elonzo ainda era requerida. Havia temor para informá-lo. Todavia incrivelmente o senhor dele aceitou que os dois jovens deveriam ser abraçados, mesmo que se fosse necessário escondê-los por alguns anos de Magnus até o mesmo lhe provir direito para os dois abraços. A notícia era espantosamente boa, infelizmente com a única condição que não fosse Soyer a abraçá-los e sim a mim. O jovem Toreador reagiu com raiva com a notícia, mas logo se viu obrigado a acatar. Quanto a mim, me vi obrigada a tirar a vida daqueles dois jovens. Mas era a única forma de preservar a memória de minha filha. Assim, sem escolha fui até os dois.
Na noite seguinte, entrei no quarto onde eles estavam e tranquei a porta discretamente. Os dois ainda estavam muito agitados e animados, nem notaram minha feição distinta. Cheio de histórias para contar da viajem deles. Eu então conseguia escutar uma das palavras que eles dizia. Quase que hipnotizada com o que eu tinha que fazer. Assim olhei com bastante intensidade nos olhos deles e comecei a cantar para eles a mesma canção que cantava para pô-los para dormir quando eram bebês. Cantei Ninna Nanna, uma querida canção de ninar lecionada por minha amada mãe. Assim fui cantando estofe por estrofe, com meus olhos focados e vendo os dois lentamente adormecerem de súbito. Não parei de cantar em momento algum do processo do abraço. Mesmo com as lágrimas escorrendo em meu rosto. Estava feito. Eles estavam a salvo.
- Quarta Parte:
O crepúsculo do século XVII e a alvorada do séculos XVII foram um período muito agitado em minha estadia em Florença. Grande parte do meu tempo passei começando a criar uma venda de vinhos. Não éramos na época uma vinícola, afinal eu não possuía terras foras da região urbana. Mas comecei a comprar mercadoria algumas fazendas ao redor e contratei alguns especialistas da cidade para engarrafarem o néctar dos Deuses produzidos nestas fazendas e então revendê-los na cidade. “Le Nuvole” era a marca de meu empreendimento. Basicamente começamos com um galpão de engarrafamento, algumas carroças para transporte e nada mais. Dependia do preço da garrafa conseguir fazer os mercadores das feiras revender meus produtos e dependia da qualidade dos vinicultores para conseguir produzir um produto que realmente fosse vendido no final do processo.
Dependeu muito de meu conhecimento sobre uvas para saber quais eram as dignas de serem compradas. O que dependia de fatores como terreno, semente e umidade. Para assim conseguir estabelecer um padrão de qualidade ímpar no meu engarrafamento que era feito nas mãos mais habilidosas de vidreiros. Contratá-los foi caro no começo, mas contei com um investimento do próprio Soyer que queria poder ver os filhos trabalhando e prosperando. Não me custou muito anos para cobrir aquele investimento inicial e dobrar minhas arrecadações. Nos primeiros anos de mil e setecentos já era um produto comum de ser visto a ser revendido nos mercados urbanos. Esperei muitos mais anos para abrir minhas próprias vendas dedicadas ao meu vinho, só que por hora era um crescimento excelente.
Eu consegui manter os meus dois queridos netos bem interligados com meu trabalho nos primeiros anos. Assim sempre pude lecioná-los bem sobre como viver naquele mundo amaldiçoado que agora era nossa vida. Entretanto os jovens não se mostravam mais tão bem entusiastas na arte da instrução como eram antes. Aloísio não demonstrava mais interesse pela arquitetura, quanto Alonzo não se entreteria mais com estudos matemáticos. Basicamente agora eles agiam como as crianças da noite que eles eram. Passavam mais tempo dentro de nosso refúgio ou se alimentado em nossos rebanhos. Não preciso dizer que o desapontamento não vinha apenas de minha pessoa. Sebastian parecia bem amargurado com a situação, ainda mais pelo fato de ter sido ele a incentivar e financiar a gente a abrir nosso próprio negócio na cidade. Todavia agora via apenas mais dois cainitas crescendo dentro da sociedade local. Nada que fosse desastrosos para mim na época, apenas de não ideal.
Quando “Le Nuvole” estava começando a tomar meu tempo o suficiente para notar que minhas proles não estavam mais me acompanhando, tive de tomar uma atitude quanto a isso. Como o próprio pai estava um pouco mais distante dos garotos, mesmo sempre oferecendo fortunas aos dois para realizarem qualquer pedido pitoresco, não tinha ninguém para passar tempo com eles que não fosse os rebanhos. E isso não era aceitável. Afinal eles não poderiam virar Giovannis da forma que Benito gostaria que fossem. E se passassem todos os dias só se alimentando começariam a ver aqueles importantes humanos à nossa disposição como gado e isso seria calamitoso. Assim os apresentei ao Elísio, não que fosse um lugar desconhecido para eles. Mas forcei a barra para que passassem mais tempo lá, afinal se não iriam me ajudar, deveriam pelo menos aprender a viver em sociedade.
Não sei se de fato essa atitude ajudou os dois. Afinal continuaram tão distantes do resto do mundo como antes, ligados apenas um com o outro. Felizmente houve pontos positivos nessa tentativa do socialização. Afinal na época Claudia Caccavale, uma grande Toreadora local tinha acabado de abraçar a graciosa Graziella. Como era uma jovem ainda na época começou a interagir bastante com os rapazes. Assim passou algumas vezes visitando nosso refúgio me dando ao prazer de conhecê-la e descobrir uma amiga naquela jovem. Após algum tempo ela não mais vinha nos visitar para socializar com os garotos, mas sim comigo. Sempre tivemos muitos assuntos diversos a tratar, afinal a grande parte da família dela humana era da guilda de artesões e eu como uma forte contratante deles possuía muitos laços com eles. Assim sempre mantendo nós duas com muitos assuntos a discutir e uma amizade secular a criar.
Outro fator importante nesta época foi meu crescente amor e interesse por obras de arte, sejam, quadros, esculturas, meu amor pela beleza crescia tendo aquela cidade como inspiração. Conforme fui juntando dinheiro, fui conseguindo fazer grandes investimentos. Algumas compras demoraram muito para serem realmente realizadas, mas com meus contatos no clã que mais amava arte, consegui ao longo do tempo construir um grande acervo. Até hoje tenho orgulho da coleção que montei e sempre consigo impressionar convidados. Nem gosto de lembrar do trabalho que foi mover todas estas obras para minha atual casa.
O século dezoito começara positivo para mim. Descontando a falta de ânimo dos meninos eu me vi crescendo nos negócio, construindo amizades e algo muito mais especial. Sim, consegui algo muito importante para ocupar minhas horas livres. Encontrei alguém. Não posso dizer que era um namoro pois nunca assumimos nada. Sempre fomos discretas, mas é impossível hoje em dia dizer que não amo Olympia Ulfilia. Posso me perder por horas olhando em seus profundos olhos escuro sem dizer uma palavra sequer. E garanto que já fiz isto muitas vezes. O que uma vez começou como uma simples apresentação foi um interesse mútuo quase instantâneo. Claro que nenhuma palavra nunca fui dita sobre o assunto. Mas olhando nos olhos dela eu podia sentir um interesse e deixei bem claro o meu caso ela também olhasse em meus olhos.
Nosso ritual sempre foi bastante similar ao longo dos séculos que se postergaram. Convidamos uma a outra para sua morada, então sentamos na sala de estar, começamos a degustar um bom vitae e trocamos poucas palavras entre nós. Até o silêncio tomar conta da sala. Preciso dizer que esta é a melhor parte, a mais deliciosa e excitante. Pois é sábio dizer que quando um casal entra em silêncio e este fica esquisito e desconfortante, está claro que eles não foram feitos um para o outro. Mas quando o silêncio é perfeito e harmonioso, não precioso sequer dizer o quão maravilhoso é.
Nunca tive coragem de ir muito além com Olympia, evoluímos muito devagar em nossa relação ao longo dos anos. Inicialmente apenas nos encarávamos sorrindo uma para a outra. Um sorriso que claramente jamais teríamos coragem de fazer em público. Anos e anos depois conseguíamos evoluir para um ou outro toque. Devo admitir que precisei de muita coragem para tocar na mão dela pela primeira vez. O toque frio com a pele dela me gerou uma alegria tão grande e inexplicável. Está felicidade só se transbordou algumas semanas depois quando ela reciprocou o ato desta vez acariciando meu braço. Mais umas décadas para frente em nossa relação e foi a vez dela dedilhar seus dedos com suavidade minhas pernas, a reciproca foi a mesma tempos depois. Para pessoas externas esse lento e silencioso relacionamento pode parecer doentio, mas é nossa peculiaridade e não trocaria por nada neste mundo. Nos últimos anos o grande avanço em relação ao nosso relacionamento veio novamente de Olympia. Ela tirou seu salto e repousou seus pés em meu colo. Ainda irei reciprocar esta atitude!
Todavia nem tudo ao longo destes anos foi positivo. Décadas a dentro do século dezoito e comecei a me ver toda a noite acordando de pesadelos terríveis. Sensações de sempre estar sendo observada pelos cômodos e um profundo mal estar profundo. Esta sensação sempre piorava todo o final de noite quando eu ia no cemitério da Basilica di Santa Croce depositar uma rosa vermelha no túmulo de minha filha. Estava claro que na presença do cemitério aflorava o mal estar que parecia me assombrar. Contudo isto mudou em uma súbita noite que me surpreendi ao ver uma rosa branca repousada na lápide de minha querida Ermínia. Soube que não eram flores de Sebastian, pois ele apenas colocava narcisos na primavera na data de morte dela. Logo era outro alguém que depositara aquela flor branca. Só que o mais surpreendente fora que a tal presença negativa sumira.
Este evento se repetiu por mais seis dias. Eu passava o começo inteiro da noite sendo atormentada por algo negativo ao meu redor. Todavia quando me aproximava do cemitério o mal estar que outrora só piorava, agora desaparecia por completo. Isso sempre com o complemento daquela rosa branca, cada dia uma nova, repousada na lápide de minha filha. Isso foi nos sete primeiros dias, no oitavo a situação mudara, havia agora alguém me esperando. Evidentemente que eu não me surpreendera, afinal já estava esperando por algo do tipo e estava psicologicamente preparada para qualquer coisa. Mas não esperava encontrar um homem já de cabelos brancos, claramente humano, depositando a bendita rosa.
O mesmo se apresentou a mim com muita educação. Se chamava Plínio Azzarà e era um velho muito bem instruído. Ele aparentemente já sabia tudo sobre mim. Só que sua arte com palavras delicadas não me deixou nervosa ou irritada na ocasião, apenas fascinada com o mesmo. Plínio revelara que passara a vida toda em busca de minha pessoa. Não exatamente eu, mas alguém como eu, um Giovanni. Pois ele se revelara um estudioso do oculto, um necromante para ser mais preciso. Tão quanto Eloísa era antes de ser abraçada por Tirone. Assim, mesmo fugindo da necromância por toda a minha vida, ela me achara no final. Mas não oferecendo problemas e sim soluções.
Plínio explicara para mim mais do que eu sequer sabia sobre minha própria condição. Parecia que ele havia estudado a fundo a história de minha família, mas pouco revelara da mesma. Apenas explicava o mais simples. Já era de meu conhecimento a leve inclinação que membros de minha família tinham com a dama morte. Podendo eventualmente se tornarem grandes estudiosos em suas artes e as dominarem, como eu já vira no passado. Contudo nunca soube que nossos corpos iam ao longo do tempo desenvolvendo cada vez mais elos com o mundo dos mortos. Ao ponto de nossa existência ficar presa no meio dos dois mundos. Não era atoa que eu estava sendo amaldiçoada. Plínio me explicara que não era um espectro em específico atrás de mim e sim um acúmulo de milhares de fracas aparições que me seguiam, como um farol no escuro, ao longo dos anos. Afinal só eu em toda a cidade atraía a atenção deles. E foi assim que eu fui tão fácil de ser achada no final da longa busca deste necromante.
O acordo entre nós se mostrara muito simples na verdade. Plínio pedia de meu sangue em troca de sua proteção com o sudário, como ele chamava. Como o incômodo estava só piorando e eu acreditava nas palavras dele que iria piorar ainda mais e um dia iria assombras minhas proles também, aceitei a proposta. As semanas se passaram e a promessa do mesmo fora cumprida, o mundo se mostrava mais pacífico novamente e minhas noites foram se tornando mais suaves. Infelizmente ainda havia momentos intensos ao longo dos dias, aos quais meu mais novo carniçal disse que a única forma de evitar por completo era se eu mesma dominasse, mesmo que o básico a, arte profana de minha família.
O desgosto tomou meu corpo quando a nova proposta foi feita. Infelizmente eu não tive como recusar por muito tempo, aqueles mal estares estavam atrapalhando minha concentração. Claro que muito menor que antes, mas se eu poderia me livrar para sempre, assim o faria. Não me aprofundei muito nas lições passadas por Plínio. Me dediquei aos estudos brandos por mais de uma década e compreendi formas básicas de comunicações com o mundo dos mortos. Não precisei me afastar de minha humanidade para tal. Apenas aprendi a lidar com o grande defeito incrustado em minha alma e aprendi a manter conversas e com elas afastar aquelas aparições que tanto me buscavam como um farol no escuro.
Plínio por outro lado era bastante afastado de qualquer característica humana, sempre conversando com cadáveres e fantasmas. As feitiçarias dele me davam calafrio. Felizmente a falta de dom social do mesmo me permitiu em oferecer um porão para ele viver, o qual aceitou com muita alegria e fez de lá sua cripta. Tenho de agradecer a covardia de meus dois netos de nunca se aproximarem dele. Afinal minhas queridas proles sempre foram de aprontar, mas com o sudário seria algo catastrófico demais. Os dois conseguiram ter o bom senso de se afastarem do velho que almejava apenas prosseguir seus estudos ininterruptamente. Acredito que fizemos um bom acordo.
Os anos prosseguiram passando na cidade e grandes mudanças aconteceram. Uma guerra civil entre Elonzo e o príncipe tomou as ruas da cidade. Claramente tomei partido de meu apoiador desde o começo de minha vida na cidade. Felizmente nunca tive que ir além de dar meu apoio, afinal o Toreador com maestria tomou o principado. Só que antes esta fosse a única grande notícia daquele ano. Benito despertara e o pânico me tomara por completo. Pude simplesmente sentir o momento que os olhos dele abriram. Sem mesmo presenciar, eu pude sentir e me congelar de medo. Eu sabia do que ele era capaz de fazer, eu sabia o poder dele. Se com ele dormindo o sudário já me dava pesadelos, agora acordado e o inferno poderia chegar em minha vida.
Eu estava certa quanto ao inferno. Entretanto o alvo não foi a minha pessoa e sim as família de San Gimignano. Uma guerra acontecia por lá, enquanto em Florença a paz se perpetuava nos primeiros anos de mandato absoluto de Elonzo. Assim resolvi aproveitar a situação e imbuída de medo por uma retaliação a minha pessoa vindas de meu senhor, assim que a guerrinha dele terminasse, decidi fazer um acordo com Plínio. Eu precisava de mais proteção espiritual e para tal precisava da ajuda dele, só que ele mesmo precisaria de mais poder para tal. Assim eu necessitava de abraçá-lo. O mesmo aceitava a situação como se fosse o maior presente que eu estivesse a oferecê-lo e conseguir a permissão de uma prole nova me foi surpreendentemente fácil. Afinal o novo Príncipe queria consagrar todas as suas alianças na cidade para garantir seu longo mandato.
O abraço foi curto e seco. Não foi uma cena triste com drama e vários preparativos. Plínio estava preparado para tal. Quando cheguei em sua assustadora câmara o mesmo já começara com alguns aparelhos médicos a drenar o próprio sangue. Não houve nenhum efeito traumático para a situação e em questão de minutos eu possuía uma nova prole. Uma absolutamente leal que sempre estivera me apoiando. Diferente de meus dois inquietos netos. Nem preciso ressaltar na irritante crise de ciúmes dos dois quando descobriram que não eram mais as únicas proles. Felizmente nunca tiveram a coragem de implicar com Plínio, logo apenas se lamuriaram comigo, como de costume.
Não estou a dizer que perdi o amor por meus netos. Amo eles acima de tudo neste mundo, mesmo depois deles ficarem tão ociosos quanto ficaram. Infelizmente não é questão de eu amar ou não eles o problema. O problema é o que eles se tornaram. Não, não viraram nenhum tipo de monstro como Benito ou abandonaram a humanidade como Plínio. Eles se tornaram mimados, violentos e ousados. Sempre comprando briga ou pedindo besteiras. Como uma vez que Alonzo queria um barco. Um barco! Para navegar no pequeno Arno que cruzava a cidade. Com minha recusa ele ficou muito violento atacando humanos. Ele esmurrou pessoas na rua até me obrigar a mandarem construir a maldita da embarcação. Embarcação esta que eu nunca vi ele usar. Eu estou e estava ciente que podia usar meus poderes contra a mente dele, mas nunca tive coragem de assim fazer. Não queria ser como meu senhor era, nunca!
Infelizmente os dois nunca me deram sossego. Sempre tive que tentar acalmá-los com palavras. O que foi se tornando cada vez mais difícil. Pelo menos agradeço aos céus que eles pararam de se socializar com outros cainitas. Senão eu passaria todos meus dias com problemas políticos graves e poderia até ser expulsa da cidade. O lado ruim era que muitos humanos sofriam com isso. Até eles começarem a fazer algo que saiu do controle. Eles começaram a ir atrás de mulheres. Minhas artesãs, minhas funcionárias, minhas para proteger. Isto era incabível, eles não podiam jamais tomar delas o que não era de direito deles de tomarem. Acho que foi a única vez que realmente briguei com eles. Evitei truques mentais e usei da minha própria força. Quebrei metade da minha sala na discussão e me assustei com a força que os dois tinha, felizmente consegui domá-los.
Após este incidente eles não sodomizaram mais jovens da minha região da cidade. Todavia eles começaram a ficar mais estranhos. A relação deles comigo mudou. Começaram a pedir mais coisas para o pai deles e para mim ficaram mais distantes. As vezes me encarando de longe. O que era e ainda é assustador. Pois consigo ver nos olhos deles uma sensação parecida com a que a Olympia me emite quando me encara. Um olhar de desejo carnal. Mas mais doentio e cobiçoso. Nunca dei oportunidade para eles ousarem pensar em voz alta. Infelizmente eu não posso controlar a mente deles. Poder na verdade posso, mas meu código moral jamais me permitiria fazer isso com família. Por mais que cada vez fico mais receosa no assunto.
Falando em família muita coisa mudou na metade do século dezenove. Benito não se saiu bem em sua pequena guerra e felizmente uma Camarilla foi constituída em San Gimignano. Isto resultou em muitos conhecidos meus ao longo dos anos se mudando para lá. Só que do mesmo jeito que pessoas iam, pessoas vinham. Giovannis, herdeiros de longa data de meu sangue, vinha desabrigados para a cidade. Prontamente trouxe todos para a minha casa. Minha empresa na época já me providenciava a aquisição de uma grande morada e com tal pude conter um grande número de familiares fugindo. Grande parte eram camponeses de meu sangue que quando sentiram o cheiro da guerra imitaram meus passos. Posso dizer que amei ver a casa cheia de familiares. Assim com uma família grande me senti mais ousada para fazer o que sempre sonhei em fazer. Comprar propriedades na minha terra natal. Não para me mudar para lá e sim para produzir minhas próprias uvas. Bastava de comprá-las para produzir em “Le Nuvole”. Era hora de eu consolidar o produto primário, afinal já dominava o ramo de produção e venda. Agora era hora de regressar às raízes literalmente.
Assim comecei no século vinte meu plano. Lentamente comprando e comprando mais pedaços de terra e prosperando meus produtos. Para gerenciar as minhas fazendas contratei antigos donos das propriedades que eu escolhera possuir, eram Rossellinis. Escolhi comprar aquela terras a dedo, não só pela qualidade do solo ou a proximidade com minha vila natal, como também pelo fato dos proprietários serem precisamente Rossellinis. Pois esta família sempre foi fiel a minha dês dos primórdios. Não me arrependi de tal escolha. Meus negócios prosperaram fortemente e quando o mundo todo se estremeceu na segunda guerra, foram eles que reergueram os vinhedos com velocidade e eficiência, fazendo meus vinhos chegarem nas prateleiras dos mercados antes de qualquer outro no período pós guerra.
Pude ver meu negócio inteiro prosperando. Como também notava que o turismo restaurara um pouco a vida no interior. Assim promovendo mais populações lá vivendo, o passado havia sido enterrado. Assim a ideia de regressar para casa finalmente começou a se maquinar na minha cabeça. Já havia aprendido a aceitar as fatalidades do passado e poderia sobreviver longe do túmulo de minha filha. Estava apenas esperando o motivo final. Quando Soyer se mudou, após o torpor de Elonzo, para a região quase juntei minhas malas e fui também. Mas eu estava ciente que Benito estava desperto e seria muito ousado ainda encarar o mesmo. Só que minha confiança estava ficando grande demais e posso dizer que sempre fui teimosa de natureza. Então a gota d’água para meu repentino retorno foi me mostrada quando o clã Giovanni começou a se integrar na Camarilla logo no começo do século vinte e um. Foi devagar, mas com primôgenes, harpias, xerifes e outros cargos sendo ocupados por Giovannis mundo afora minha decisão foi plena. Estava na hora de voltar.
Dois mil e nove foi o ano. Minha mudança finalmente começara. Já havia começado em vários aspectos antes. Eu mesma já estava construindo contato com Ezechiele Bernero o guardião do Elísio local consagrando laços antes mesmo de minha chegada. Afinal queria que todos soubessem de minha chegada. Pois almejava crescer dentro da Camarilla local, e também crescer em minha própria família. Comprei uma Vila inteira para ser minha morada, chamada Castelpietraio. Apenas a seis quilômetros do burgo de Monteriggioni. Um pouco de ousadia nunca me fez mal. Nesta Vila minha me consagrei como a Matriarca de minha pequena família. Colocando os cinco herdeiros vivos Giovannis que vieram comigo e as minhas proles na casa maior. Enviando para as três casas menores ao redor os meus melhores empregados locais. Lucca, Andrea e Flávio, os três Rossellinis e com suas próprias famílias. Consagrei alguns camponeses para cuidarem das plantações próximas da propriedade e me servirem de rebanho, como que também para minha proles. Por último garanti um porão bem discreto para Plínio. E assim pude voltar para a terra que tanto amei, pisar no chão que tanto ansiei para poder voltar a pisar. Minha promessa estava cumprida.
Estou agora já a alguns anos na minha nova morada. Ainda estou a pouco tempo na cidade para requisitar algum tipo de posto, me deixando num jogo de espera. Felizmente consegui estabelecer boas relações no Elísio local. Claramente reencontrei todos meus antigos aliados que se mudaram para a região. A única exceção à isso obviamente é minha querida família original. Sequer esbarrei com nenhum deles e ainda não possuo planos para tal. Estou garantida de minha proteção sob o nome da Camarilla e posso repousar em minha terra com tranquilidade. Meu interesse agora é viver com minha própria e atual família. Aqueles jovens que acolhi dentro de minha casa e procriaram e se descenderam até o momento gerindo cinco pessoas que me entretêm bastante em minha nova vida. Mesmo podendo notar que eles nutrem por um dia se tornar um como eu, algo que não planejo cogitar até minha estadia ficar realmente consagrada. Posso dizer que gosto de observar as intrigas internas deles, mas prefiro é apreciar minha propriedade. Chegar de volta neste lugar me foi poético. Faltou-me o sol para alegrar o caminho, mas os campos ainda estavam lá. Da mesma forma como eu os deixara. Assim pude novamente viver onde meu destino me impôs viver. E aqui viverei agora até o último dia de minha vida.
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