Jacob Fooster - Ato I - O Desejo do Coração

A risada da jovem a minha frente deixava claro o quão cantada barata aquilo havia parecido, suas palavras é claro me faziam rir ao ficar vermelho, algo que eu disfarçava esfregando as mãos por de baixo do óculos.

“Ela está bem certa, afinal eu mesmo já ouvi essa!”

Ainda rindo as ações dela me deixavam curioso, se eu havia sido capaz de imaginar sua natureza diferente, era fácil concluir que ela já conhecia a minha, ainda assim Ian estava longe demais para me dar suporte, seguindo-a com cuidado eu sorria ao ver uma mesa vaga, aos meus olhos e as da besta que habitava meu corpo aquilo era uma ilha de segurança, embora os sofás parecessem mais confortáveis é claro.

Sentando-me ao seu lado era com alivio que eu suspirava, aquele lugar parecia diminuir o som ambiente, algo que me deixava claramente curioso e aliviado, voltando minha atenção para a mulher ao meu lado eu conseguia identificar o sotaque europeu em suas palavras, assim como a postura de alguém que sabia bem como sobreviver no ambiente barulhento que nos cercava.

– Nunca imaginei que fosse possível conversar com alguém aqui dentro.

Comentava antes de olhar a foto que me era estendida através do celular, ali não demorava para que tanto o nome quanto a face desta me fossem reconhecidas, afinal Ian havia mencionado o curioso poder das Filhas da Cacofonia, ou sereias como preferiam ser chamadas.

Rindo com a pequena brincadeira dela, eu concordava com um breve movimento de cabeça, ajeitando meus óculos eu sorria da melhor forma possível ao estender a mão e comentar.

– Eu não estava errado, eu já tinha visto sua foto, só não a conhecia pessoalmente Amelie, prazer eu sou o Jacob. Seja bem-vinda a Prescott onde é bem comum encontrar Jacobs caindo pelas pistas de danças a procura de seus senhores desalmados.

Claramente reclamando de Ian eu ria um pouco ao observar a minha volta procurando pelo mesmo, embora a ideia de encontra-lo naquela bagunça fosse quase impossível de se concretizar ao certo, suspirando eu me voltava para Amelie perguntando de maneira educada.

– Então gostando da cidade?

Ouvindo as palavras de Amelie sobre como o tempo lhe ensinava os estranhos segredos de lugares mais silenciosos em boates me fazia concordar com um breve aceno, afinal era muito plausível que alguém que passasse mais do que duas horas exposto aquela barulheira toda ficasse realmente surdo.

– Seu ponto é muito valido.

Comentava rindo um pouco, a forma como ela me cumprimentava revelava parte de sua personalidade mais expansiva e menos ligada as etiquetas, algo que me agradava já que a sociedade cainita era simplesmente vidrada nas velhas etiquetas, rindo da primeira frase eu ajeitava meus óculos ao responde-la.

– É eu realmente sou um péssimo Nova Yorkino, mas se ajuda me mudei pra cá ainda na infância então acabo sendo mais um cidadão de Preescott do que de Nova York.

Voltando minha atenção para a pista de dança enquanto ela comentava sobre a cidade, uma parte de mim sentia um leve orgulho de pertencer ao espirito comunitário do lugar, porém outra parte sabia que já não me encaixava perfeitamente na realidade comum da cidade.

“Cainitas deveriam ser apenas contos não?”

Ouvindo a pergunta de Amelie eu sorria respirando de forma profunda ao me apoiar na mesa, algo que me fazia analisar aquele lugar com certo interesse, embora não fosse realmente um lugar que eu escolheria estar por vontade própria.

– Fiquei surpreso pela quantidade de gente que está esperando na fila para entrar e se esmagar um contra os outros em um frenesi dançante. É eu realmente não me sinto confortável aqui, embora a construção seja inteligente e esse ar rustico da entrada forme um contraste interessante com o interior.

Comentava apenas para dar de ombros e terminar de falar.

– Nada que eu não me acostume, mas gostar seria um pouco demais.

O deboche de Amelie me fez encolher de ombros ao rir, até porque eu realmente estava ali não era mesmo. Embora a simples lembrança de Ian me arrastando até aqui era o suficiente para me lembrar, que eu não tivera muitas escolhas no final.

“Ela só vai rir em descobrir que fui trazido a força. Além do mais o nome do Ian pode ser um pouco intimidante.”

Atento ao sotaque britânico a sereia a minha frente eu me apoiava na mesa ao ouvi-la falar, sobre a boate e seu movimento, algo que me fazia acenar de maneira positiva, afinal a fachada rustica havia me surpreendido ao esconder bem a verdadeira natureza do local.

– Duvido que o movimento fique baixo por muito tempo, até porque logo esse lugar vai cair no gosto dos mais agitados e isso espalha rápido.

Ouvir Amelie brincar com o gosto musical preferido da cidade eu levantava minha mão me rendendo, afinal ela estava bem certa sobre como o country era adorado entre os estabelecimentos de Prescott, ainda mais nos velhos e famosos Saloons da cidade.

– É essa não tem como defender mesmo, meu avô era um adepto ferrenho do country, e bem eu gosto de um artista ou outro, mas ainda prefiro o rock europeu, ou o folk. Por incrível que pareça ajuda me ajuda a desenhar quando estou sem muitas ideias.

Perceber o certo orgulho de Amelie sobre o club em si, me fazia sorrir com calma, é fácil compreender o sentimento de ter criado algo concreto, como arquiteto aquele era sempre meu maior desafio e orgulho, é claro quando os exaustivos projetos criados eram aprovados.

“Ian estava bem animado com esse lugar, duvido que aqui o decepcione.”

Perdido em meus pensamentos eu era pego de surpresa por Amelie, rindo com isso eu a seguia, afinal era a melhor forma que teria de agradece-la pela ajuda prestada anteriormente, porém antes que minha resposta pudesse ser dada a presença de Ian se fazia presente, ali pela primeira vez diante de Ian eu me sentia tenso.

Algo que não durava muito embora eu pudesse sentir em cada musculo de meu corpo e dele, um detalhe que para ele se mostrava mais forte já que até mesmo durante as brincadeiras incentivadas por Ian a tensão permanecia em seus músculos e orelhas.

- Hei foi você que me abandonou na pista de dança, era claro que eu ia procurar um canto pra informar!

Reclamava antes de ouvir sobre a sociedade da senhora de Amelie e Ian, algo que me deixava curioso, tanto quanto sobre o tal convidado ali mencionado, a curiosidade porem dava lugar a incredulidade diante das reações de Ian ao pacote com conteúdo azulado dado a Amelie.

“Ele só pode estar brincando!”

Me limitando a concordar com Ian, eu acenava de forma educada para Clhoe, apenas para rir com Amelie diante de suas palavras e risada abafada.

– Nem me fale, alias desculpa não ter mencionado ele, eu não sabia se isso a deixaria desconfortável.

Respirando fundo eu apontava para o pacote de conteúdo suspeito e perguntava com calma.

– Melhor resolvermos isso antes de ir dançar não?

O velho e inseparável sorriso sarcástico de Ian me respondia bem mais do que este, revirando os olhos para meu senhor, sendo deixado ao lado de Amelie por Ian e Chloe, minha atenção se voltava pra a jovem e suas reações.

“Espero mesmo que ela jogue isso fora...”

Era o primeiro pensamento que se passava por minha mente ao vê-la guardar o pequeno pacote azulado e suspeito, os pensamentos é claro logo eram afastados pelo ímpeto da jovem, assim como meu próprio corpo.

Internamente eu o sentia estremecer e se encolher, em meio a confusão de corpos em movimento era com dificuldade que escutava as instruções de Amelie, ou simplesmente a escutava já que em meu intimo eu sentia a simples vontade de não estar ali.

“Vamos Jacob, isso não deve ser tão difícil!”

Respirando profundamente meus olhos estudavam os movimentos das pessoas a minha volta, elas pareciam flutuar, e era como calma e os próprios exemplos de Amelie que começava a me soltar, usando as pernas para marcar o ritmo da musica, eu encontrava dificuldade em encontrar um bom uso para os braços, mas me segurava para não esconde-los dentro dos bolsos.

O ápice da musica me fez suspirar diante de Amelie, sua leveza me deixava animado, e talvez por isso eu me esforçava para me soltar, embora o maior medo ainda fosse esbarrar em alguém ou simplesmente cair no chão.