Ato III - Pequenos Tesouros

Era o som de risadas que a entrada na residências temporária aos arredores de Castelsardo ocorria, risadas bem divertidas de Mirian que havia convencido Lorenzo a deixá-la dirigir pela última parte do percurso de retorno. O mortal, pobre e enganado, havia saído do carro com as pernas trêmulas e branco como se tivesse visto a própria morte bem de perto! Sebastian não conseguia deixar de rir das gargalhadas divertidas de Mirian que já adentrou correndo a casa e se direcionou na sala de estar. As risadas da filha da lua preenchiam o ambiente por completo, chegando a ecoar levemente pelos cômodos vazios. Sebastian então estendia a mão na sua direção e a convidava a entrar na mansão, ao dizer para o rapaz que se esforça para se recompor.

-Respire um pouco meu rapaz, tome seu tempo e assim que conseguir não mais sentir a vontade de expelir seu intestino, por favor, entre. Está bem?

O mesmo sinalizava com a mão direita enquanto sentava na grama para respirar. Ao fundo, era possível ver os faróis do carro de Bianca, já adentrando a propriedade após receber a autorização na entrada. Bash caminhava contigo então até a porta que havia ficado escancarada e fazia uma breve careta, afinal, a familiar voz de Henry se fazia presente e a protestar:

-Eu lhe disse, mais de mil e uma vezes que detesto quando ela faz isso! Porque ela segue fazendo? Eu juro, por Deus, um dia eu vou perder a minha compostura e afogar ela na piscina!

Em francês, o rapaz resmungava com toda sua desenvoltura e contornos, sempre valorizando os "r" e agudos. Para então desviar o olhar de Bash e sorrir na sua direção como se não tivesse dito absolutamente nada.

-Nina! Garota, você andou por algum deserto? Da onde vem tanta areia assim nesses seus pés maravilhosos e feitos pelos anjos escultores? Aliás, quem são nossos convidados e quem é aquele... Aquele moço a quase regurgitar nessa grama que eu fiquei exatos três dias medindo com fita métrica para ficar perfeita como um carpete vívido?

Bash balançava a cabeça negativamente e se silenciava diante do temperamental amigo que tomava a liberdade de se aproximar e beijar você nas faces. E finalmente finalizar a fala:

-Annalisa finalmente chegou, ela estava terminando de finalizar os preparativos para suas filhas Bash, as duas estão prontíssimas para começarem a visitar alguns pontos públicos de convívio da alta sociedade local.

Sebastian por fim sorria e respondia, já se virando para se atentar ao estacionar do veículo de Bianca:

-Perfeito! Obrigado Henry e por favor, seja paciente com o rapaz, ele ainda precisa conseguir se libertar de uma relação muito complicada relacionada a exposição de escravatura por meio de Dominação, você sabe com isso pode levar um certo tempo...

Henry concordava de maneira silenciosa e ajustava o próprio terno, para se posicionar de um modo bem formal e educado para receber as visitantes que começavam a sair do carro.

Henry prontamente reagia a sua iniciativa, para assim, também beijar as suas faces e sorrir com carinho para você, afinal, ele nunca disfarçava o quanto gostava de lhe encher de paparicos e atenção.

-Não precisa pedir desculpas querida, não mesmo! Só posso te pedir uma coisinha? Não deixe que a Mippa ligue a vitrola? Annalisa ainda deve estar terminando de descansar...

Pedia Henry de maneira bem educada, para assim tocar gentilmente no seu ombro e no de Bash, para caminhar na direção das moças que terminavam de sair do veículo que havia estacionando a frente da casa a poucos instantes. Cassiano, por outro lado, respirava fundo quando sentia o seu toque e se esforçava para olhar na sua direção e esboçar um sorriso envergonhado:

-Fico muito grato e me perdoe por ficar nesse estado, realmente não estava esperando esse estilo de direção nesse momento... Mas acredito que um pouco de água pode de fato ajudar.

Comentava o rapaz, enquanto Bash se aproximava para esticar a mão ao rapaz e ajudá-lo a se levantar e comentar:

-Seja bem vindo meu caro. Aliás, Nina, enquanto você tenta acalmar os ânimos de Mirian e ajuda nosso convidado, vou fazer uma pequena tour com nossas convidadas pelo quintal da casa, o que acha?!

Questionava o eternamente belo e jovial Sebastian, com um sorriso polido na face e um olhar confiante e levemente indicativo, uma expressão que no conjunto te fazia entender que o mesmo tinha um plano em movimento na própria mente.

Bash não negava o fato de ter realmente quase morrido do coração quando foi submetido a mesma situação que Cassiano havia sido, o homem apenas sorria de maneira divertida e concordava sem muitas palavras adicionais, para em seguida, retribuir ao seu selinho com carinho e piscar. O homem então se virava e ia atender as duas mulheres que agora caminhavam na direção da casa de vocês.


Já dentro da cozinha, Cassiano iniciava a resposta a suas palavras:

-Não é necessário me chamar de Senhor ou algo assim, mas devo admitir que é estranho, acho que sempre vai ser, ouvir "meu jovem" de pessoas que parecem mais jovens do que eu sou, apesar de certamente você ter o triplo da minha idade.

Ele então coçava um pouco a própria nuca e olhava ao redor, caminhando na direção da pia enquanto respirava. Ao fundo, era possível ouvir a cantoria alegre de Mirian que parecia ir em direção ao quarto que vocês compartilhavam.

-Desculpe... como estou me sentindo? Existe uma espécie de ânsia em voltar correndo para o castelo, mas ao mesmo tempo, tenho muito medo de voltar a ver aquela face outra vez. E é um pouco estranho, ouvimos muitas coisas sobre vocês, nenhuma delas parece ser real agora que estou aqui desse lado.

O rapaz então procurava por um copo e o enchia da agua, para então tomar um pouco e respirar fundo outra vez, apoiando as costas no armário da pia e olhando na sua direção.

-Posso perguntar porque? Digo, posso perguntar o porque você decidiu me trazer até aqui, além das possíveis informações que posso lhes dar?! Afinal, você poderia ter arrancado essa informações sem problemas.

Mirian não era tão habilidosa com Aupícius como você era, tão pouco quanto era Bash, a especialidade dela sempre seria a Ofuscação e as habilidades únicas do clã em segundo ponto, todavia, você sentia que a mente da sua amada e amiga havia compreendido a sua mensagem e reagido positivamente a mesma, tanto que, a cantoria e a corria pareciam desaparecer aos poucos durante a resposta de Cassiano, que vinha após o mesmo tomar mais um pouco de água.

-Tenho que admitir, não esperava uma resposta dessas, nem sei como responder muito bem...

O rapaz botava então o copo sobre a pia e levava uma mão na cabeça, respirando fundo, ele parecia dar uma leve tonteada na tentativa de caminhar até a mesa onde você estava. Parando e respirando fundo outra vez, levantando o indicador e dizendo:

-Estou bem, não se preocupe. Apenas senti uma leve desordem... É como se fosse um chamado, entende?!

Ele perguntava de maneira um pouco retórica, para forçar um sorriso na tentativa de demonstrar que estava bem e logo se sentar a sua frente na mesa.

-Você realmente acredita que um dia eu serei capaz de realmente lembrar quais eram as minhas motivações ou como você mesma disse, minhas histórias, personalidade, desejos e afins... Porque agora, sinceramente, Valentina, a impressão que tenho é que eu sou uma fração do que fui, entende? Como se eu vivesse um eterno pesadelo.

-Algo que sempre esteve comigo?!

Questionava Cassiano, que parecia mais aliviado a cada instante que mantinha aquela conversa contigo, respirando de maneira mais branda o rapaz tateava as próprias vestes na altura dos bolsos, pensando e se esforçando para raciocinar e se lembrar de alguma coisa similar ao que você havia pedido.

-Tenho esse anel velho aqui...

Ele tirava do bolso, um anel de metal bem antigo, um pouco mal cuidado, amarrado a um barbante cinza escuro envelhecido e com algumas marcas de corrosão por sua extensão. Os olhos do rapaz olhavam aquele anel sem sequer conseguir atribuir um sentimento especifico ao mesmo, para então olhar na sua direção e ameaçar uma fala, que era interrompida pela entrada de Mirian, afinal, era impossível não desviar a atenção para a figura sempre chamativa que Mippa fazia questão de exibir.

-Oi, chamou querida?! Olha só quem conseguiu parar de querer expulsar as próprias entranhas para fora! Tá melhor garoto?

Mirian o questionava com um sotaque típico de quem havia sido lecionado no sardenho e não no italiano como lingua materna, era na realidade um pouco confuso aos ouvidos do jovem que olhava meio sem entender exatamente o que ela havia dito. Ela então sorria e se aproximava, falando em inglês:

-Pelo visto não te ensinaram a língua dos filhos dessa terra, isso significa que você não adentrou os ciclos mais fechados dos serviçais da família. Mas me diga, porque você é diferente?

O idioma não era gratuito, Mirian parecia usar ele como uma espécie de arma secreta que tinha um efeito curioso em Cassiano. O rapaz ajeitava a postura, sentando perfeitamente como um soldado medieval, seus olhos ficavam levemente opacos e sua musculatura se tensionava em uma posição de sentido e atenção.

-O Lorde costumava dizer que dentre os novos recrutas, eu deveria ser o primeiro a ser enviado a uma missão suicida por causa de minha incapacidade de ser reconstruido dentro da verdadeira etiqueta.

Mirian olhava na sua direção e fazia um leve carinho nos seus ombros enquanto passava pelas suas costas, parando de pé do seu outro lado enquanto procurava por uma cadeira, para finalmente, se sentar junto de vocês na mesa central.

-Calma Nina, se ele tá aqui, ele não é um qualquer...

Dizia Mirian, tentando lhe acalmar, a jovem sentava bem rapidamente ao seu lado e esticava uma mão por trás da sua cadeira, tocando no seu ombro com carinho e esperando as suas reações e respeitando o seu tempo para interpretar toda aquela situação. Cassiano, no entanto, seguia estático como uma estátua de mármore imóvel, sem sequer piscar.

-Eu nasci vendo vários homens assim pelo castelo, via como meu Pai falava co eles. É sobre manter o jeito Sardenho de falar, mas usando o inglês britânico para não ser compreendido por eles próprios. A família só recruta falantes fluentes de italiano, usando assim, o inglês como uma ferramenta de controle imediato, afinal, só o lado controlado deles compreende o idioma, acaba sendo uma forma ágil de comandar sem chamar muita atenção.

Mirian então sorria e fazia um sinal de espera na sua direção, exibindo a palma da mão bem aberta. Em seguida, ela se levantava e andava rápido, contornando a mesa e tomando a face de Cassiano com as duas mãos, olhando profundamente nos olhos dele. Ela então começava a murmurar baixo, algo que parecia uma cantiga de ninar em sardenho, em um tom muitíssimo baixo, enquanto aproximava a própria face na direção da face do rapaz, até que as testas de ambos se tocavam e os olhos de Mirian se tornavam brevemente amarelados e intensos, cobertos por uma expressão caótica e levemente incomoda. Era algo verdadeiramente breve, algo que você havia aprendido a identificar como o uso dos poderes dos filhos da lua.

Cassiano então arregalava os olhos, seu corpo começava a tremer timidamente. Os lábios do rapaz se moviam, repetindo ou tentando repetir a música murmurada por Mirian, até que a jovem, inesperadamente, soltava um grito estridente que assustava tanto o rapaz, quanto você! Cassiano pulava, ficando de pé e totalmente esbaforido, com a pele avermelhada e a testa a suar um pouco, o mesmo olhava assustado para todas as direções. Todos os traços de dominação e estado vegetativo dele haviam sumido por completo!

-Esse era meu plano! Lembra? Consigo influenciar sentimentos poderosos, tentei suprimir o máximo possível de qualquer submissão que ele possuísse... Vamos ver, posso ter criado um punk sem concerto ou alguém que vai estar bem mais suscetível ao rompimento da dominação! Ao menos eu acho que fiz né!

Ela ria um pouco, se divertindo com aquela tentativa totalmente espontânea e não planejada dela. Todavia, a cada reação e expressão que você via do rapaz, ele parecia mais e mais vívido e confuso, chegando a não te reconhecer de imediato. Até que enfim, Cassiano esfregava os olhos e comentava:

-Valentina?! Por Deus, o que foi isso?! Mirian?

A confusão dele então se transformava em um genuíno comentário de alerta, ele apoiava as mãos na mesa e dizia:

-Amadeo está inseguro, com medo de Sebastian. Mas vocês precisam tomar cuidado com Rafal! Ele pretende fazer ações durante o dia com as forças da família contra vocês!

-Eu que devo agradecer...

Respondia Cassiano em um tom calmo de voz, o rapaz se ajeitava com a sua ajuda e após seu abraço, o mesmo parecia ainda mais atento a seus próprios arredores, como se estivesse um pouco surpreso com algo novo, algo recém descoberto dentro de si mesmo. Já Mirian, abria um largo sorriso confiante na face, para logo retribuir com afeto o beijo breve que era iniciado e terminado por suas ações. Brincando com as palavras, ela te abraçava pelo lado e enquanto vocês caminhavam em direção a sala, de onde vinham alguns sons de conversa, a mesma dizia:

-Só para você saber, eu tinha total certeza que não fazia a menor ideia se isso tudo ia dar certo ou não!

Rindo baixinho, a jovem seguia contigo, verificando apenas se Cassiano estava a acompanhá-las a uma distância próxima. Para então, vocês finalmente adentrarem a sala de estar daquele casarão de extremo bom gosto e recém adquirido por Sebastian. Ali, o rapaz estava a conversar com Bianca e Milena, mas todos paravam para olhar vocês entrando e Sebasitan questionava preocupado:

-Ouvimos gritos, mas Milena disse que provavelmente tudo estaria sob controle, aconteceu algo?

Sebastian observava com atenção, tanto você, quanto Mirian e Cassiano. Ouvindo suas palavras e deixando um curto espaço de silencio até começar a falar novamente, mas só fazendo isso após olhar brevemente na direção de Milena e então, sorrir com calma e assim se levantar e caminhar na sua direção.

-Não vamos colocar nossos pés para fora de casa sem antes termos certezas absolutas de estamos de casacos. Não é mesmo?! Percebo que algo foi feito e que esse algo tornou a vontade de Cassiano mais forte. Mas o rompimento da dominação exige dias, é algo longo e doloroso... Mas não posso desmerecer o mérito que alcançaram em tão pouco tempo... Rafal, vamos nos focar nisso, o que esse rapaz pretende?

Questionava Sebastian, mantendo a calma enquanto Bianca tentava disfarçar a raiva que sentia só de ouvir falar o nome de Rafal, um ódio que certamente Mirian também mantinha, mas que a filha da lua sabia disfarçar com mais eficácia.

-Boa coisa não é, esse pequeno vermezinho nunca faz nada que se preste.

Comentava Milena, obtendo o pronto concordar silencioso de Bianca e Mirian. Sebastian pedia calma a todas, com um sinal com a mão, para então perguntar:

-Imagino que seja algo bem sério, mas nos diga por favor, o que é? E já de antemão, obrigado pela ajuda Cassiano.

Cassiano concordava, mas sinalizava com as mãos, tentando se expressar que não haveria a necessidade de agradecimentos.

-Um ataque durante o dia? Isso não seria contra as tradições da Camarilla?!

Questionava Bianca, claramente preocupada e irritadiça, cerrando o punho direito e olhando ao redor esperando por qualquer resposta para a questão levantada por ela. Milena, era então a primeira a falar:

-Na realidade, é uma das táticas mais antigas do Clã Ventrue e sua tradicional guerra contra seus inimigos. Lembro de várias situações onde os líderes do clã dos membros de sangue azul, fizeram marchas de tropas de vassalos sobre as posses de seus inimigos...

Mirian parecia não acreditar no que estava ouvindo, mas antes da jovem se expressar com toda a raiva que parecia ferver dentro dela naquele momento. Sebastian sorria e concordava com bastante calma.

-Compreendo, compreendo... Mas não há porque se preocupar...

Todos os olhares então se voltavam para a figura de Sebastian, enquanto o experiente político do clã das rosas cruzava os braços e retomava a fala:

-Ele certamente pode tentar, mas será que o Senhor dele irá permitir que ele faça um ataque contra um território pertencente ao Principado de Florença? Ou ainda mais, será que ele vai obter o apoio do próprio Senhor quando os irmãos mais novos dele chegarem em casa contando que o clã das rosas pretende construir nesse local, uma corte das rosas... Lhes garanto, permaneçam aqui e todas estarão seguras, perfeitamente seguras. Especialmente agora, que minhas outras filhas acabaram de oficializar todas essas informações junto do Principado de Roma e uma Arconte da Justicar Ventrue. Eu prometi a vocês, que vocês teriam a casa de vocês de volta e essa família pode ser forte nessa ilha, mas ela não é nada se comparada a força da nossa linhagem.

Afirmava Sebastian com uma enorme convicção. Que completava logo em seguida:

-Aliás, eu tenho aqueles dois jovens sob meu controle, o que acham de uma conversa forçada com eles dentro de algumas horas?

-Nina, eu só tenho uma pergunta para você. E a faço da mesma forma que essa mesma pergunta me foi feita pelo meu Senhor a alguns séculos atrás: O quão determinada você está em colocar ao chão esses inimigos? É sobre apenas uma vitória ou sobre uma conquista?

Perguntava Sebastian em um dos seus cada vez menos constantes momentos como "Senhor", afinal, o próprio já havia transformado quase que totalmente a forma de lhe tratar e de olhar para você, algo que naturalmente deveria ocorrer já que vocês compartilhavam muito mais do que apenas o vitae de uma linhagem entre si, havia um real sentimento de amor que potencializava todos os sentimentos em questão.

Enquanto a sua resposta não vinha, Mirian tocava com cuidado e carinho nos seus ombros e dava um beijo na sua face, para caminhar na direção do sofá e se sentar ao lado de Bianca, para falar em um tom baixo, mais audível a todos:

-Se depender de mim, aquele castelo vai a abaixo com todos seus donos dentro.

Era uma fala que prontamente recebia um sinal de concordância das outras duas mulheres ali presentes, mas nem Bianca, tão pouco Milena adicionavam algo nesse momento, Milena parecia muito pensativa e dentro de sua própria mente, já Bianca olhava na sua direção, aguardando a sua postura como uma espécie de referência.

Suas palavras tempestuosas eram arremessadas aos ouvidos de todos os membros ali presentes, as duas mulheres que pouco te conheciam demonstravam um misto de surpresa e compreensão, afinal, ambas tinham suas próprias fortes razões para sentirem o mesmo ou até mesmo mais ódio e explosões sentimentais que você havia demonstrado naquele momento. Sebastian a observava em silêncio, com os olhos atentos e uma expressão neutra do começo ao final, ao contrário de Mirian que abria a boca em alguns momentos, tentando achar um momento oportuno para lhe interromper ou adicionar algo, todavia, a jovem não achava nenhuma brecha em suas palavras e acaba por ficar sem saber como reagir, algo raríssimo para a sempre intuitiva e imprevisível jovem.

A sala ficava para trás e o vento gélido vindo do mar tocava o seu corpo enquanto você caminha pelo contorno da piscina, respirando pesado enquanto cada palavra pronunciada ainda pulsava em sua memória, fazendo seu coração ressoar agitado junto de sua besta interior que queria ter feito uma tempestade ainda maior, era possível sentir a mesma latejar inquieta e sua respiração de certa forma, vinha forte para tentar conter que esta escapasse totalmente de seu controle.

Os segundos passavam demarcados pelas suas passadas ainda inquietas a beira da piscina, seus olhos viam a mesma brisa gélida empurrar tanto o grandioso mar enegrecido pelo anoitecer, quanto a superfície da piscina, em intensidades completamente diferentes. Sua mão esquerda era então tomada por um toque gentil, terno e aquecido, seus dedos se viam ser conduzidos para cima e seu corpo era girado, como em um passe de ballet, sem que o mesmo fosse totalmente capaz de impedir que isso fosse feito, era na realidade uma reação quase que mecânica e inevitável, estimulada por aquele toque que apenas uma pessoa nesse mundo inteiro era capaz de fazer...

Lá estava o rapaz, o motivo da tempestade, com um sorriso maroto irritante e lindíssimo nos lábios, a segurar agora a sua mão com as duas mãos e comentar:

-Valentina, convivi por muito tempo dentro das mais venenosas cortes italianas, sangrei e fiz sangrar, fui confrontado, humilhado e revidei com o peso das forças que herdei, por esmero. De nada importa o meu talento ou meus versos se minhas ações são de porcelana. Mas não se engane, meu amor, pois o sopro de vida que você trouxe ao meu coração foi e para sempre será a mais poderosa lufada de ar que existe neste mundo e para nutrir esta, eu farei tudo que está no meu alcance.

Soltando a sua mão, o rapaz dava um passo para trás e fazia uma curta reverência para seguir a falar:

-Por tanto, eu peço desculpas pelo momento da questão. Mas não posso me desculpar pela intenção desta, eu precisava ver a claridade de seus sentimentos para não feri-los ou censura-los enquanto estiver a agir contra nossos inimigos. Jamais me perdoaria por cruzar algum limite moral ou sentimental traçado por ti, aqui eu sou o seu arsenal e deste você poderá extrair a quantidade de força que considerar fundamental. Lhe dou a minha palavra e juro por minha herança, que não restará uma única fração da força desses que lhe causaram mal, todavia, será tão tua quanto de Mirian o limite a ser determinado, pois eu não as limitarei em hipótese alguma.

Erguendo-se novamente, Sebastian olhava com admiração na sua direção e finalizava:

-Você sempre me encanta com essa explosão de vida. É uma pena que meu Senhor já estava tão distante, vocês tem tanto em comum... Por Deus, vocês juntos seriam terríveis. Que Deus me ajude quando ele retornar... Enfim, não foi realmente minha intenção, mas eu precisava ver a sua fúria, são em momentos assim que nossas verdades são expostas sem filtros. Espero que me dê a oportunidade de começar a remediar esse amargor que causei.

Sebastian a acolhia com carinho e ouvia com cuidado e atenção a todas as suas palavras, balançando a cabeça negativamente diante do seu pedido de desculpas, tanto se expressar silenciosamente, procurando indicar que não havia necessidades de desculpas naquele momento. O rapaz a observava quando você se distanciava após o final do abraço e deixava uma expressão séria na face ao falar:

-Valentina, eu juro, não estou subestimando nossos inimigos e as suas preocupações são importantíssimas, eu realmente não esperava que ele fosse tentar uma ação durante o dia. Mas no entanto, diante de duas figuras de importância na resistência local, eu não poderia deixar que essa informação pudesse ter me surpreendido, entende? O grande jogo de demonstração de segurança e poder vem da venda da imagem que você faz aos inimigos do seus inimigos. A confiança que elas sentirem em nós, será combustível para que elas reanimem suas batalhas contra nossos inimigos em comum e até conquistarem mais aliados...

Ele então dava um passo a frente e tomava a sua mão esquerda de maneira terna e delicada.

-Hoje nos dormimos no esconderijo na garagem, será mais seguro. Por sorte, temos dois vassalos experientes para o dia e acredito que seja prudente avisar as forças policiais locais e pedir alguns reforços vindos da capital. Assim nos asseguramos que nenhuma tentativa de invasão será feita com facilidade. Acredito que a nossa principal vantagem é o rapaz que você resgatou, ele pode nos colocar em uma vantagem enorme... O que você sabe sobre ele até então?

Questionava Sebasitan, com um calmo e seguro tom de voz e um olhar sincero de um homem acostumado a lidar com situações de alto risco, algo que lhe parecia até um pouco novo, afinal, você nunca tinha acompanho o mesmo em uma de suas "missões" das quais ele tanto se referia.