Ato XX - As Rosas de Pietra

Os meses de junho em Berlim sempre tinham um clima mais agradável para ti que agora se via a cada instante muito mais entregue as sensações humanas, a sua luz parecia lhe conduzir para uma experiência muito mais intensa, afinal, seus cabelos começavam a precisar de pequenos aparos com o passar dos meses e as variações de temperatura eram sentidas com bastante intensidade por ti. Todavia, o calor que havia em junho era de fato um alívio em vários aspectos, já que o lado de fora do castelo se revelava magnífico! Com frondosos jardins e o belíssimo lago onde os patinhos de Luana viviam alegres e sempre bem alimentados.

Você se encontrava sentada na estufa, já se aproximava das onze horas de noite e essa era uma das suas noites vagas para dedicar-se aos estudos, afinal, faltavam apenas dois anos para a conexão entre o seu ateliê e o da Madame realmente ocorrer e era necessário estabelecer as tendências, as escolas artísticas e o que seria lecionado, uma tarefa que cabia a ti e era supervisionada/auxiliada por Alfonsus.

Todavia, apesar de estar sentada sozinha dentro da estufa, você era capaz de ouvir os latidos de Sir Lancelot por perto, isso lhe indicava que Luana estava realmente muito perto, provavelmente a brincar de pega-pega com o animal que já tinha um porte mais adulto. Porém, não era a sua tulipa que adentrava sua estufa e sim sua vassala, Thesa.

-Boa noite Pita. Como estão as coisas hoje querida? Espero que tudo esteja muito bem, estava a trocar as flores de decoração da sala de música e acabei por encontrar seus filhos. Os dois me pediram para buscá-la e aqui estou, eles me disseram que preparam uma surpresa para ti!

Comentava a jovem que se aproximava para lhe saudar com um carinhoso abraço e posteriormente adicionar.

-Também tenho algo interessante para lhe dizer... Fui aceita como aprendiz de Alfonsus!

Ela confessava com um sorriso largo na face, esperando por sua reação com bastante ansiedade.

Os meses quentes de Berlim me faziam sorrir sem muitos motivos, afinal era nesses meses que eu não precisava me agasalhar com tanta frequência, minha pele havia se tornado mais sensível as temperaturas, algo que ainda me surpreendia com frequência. Até mesmo o crescimento de meus cabelos parecia impossível, mas aconteciam e os cuidados de Thesa deixavam claro isso.

Sentada em meio a estufa, minha mente trabalhava com cuidado, o prazo para que a visita de Madame Gil se aproximava e era meu dever não entregar nada menos do que a perfeição a mulher que brincara com minha pequena durante o baile de coroação de Elsa, aquela imagem vinha a minha mente sempre que me lembrava do baile. Mesmo assim não diminuía a responsabilidade que era montar um bom plano de aula e estudos.

“Preciso surpreende-la, não quero que ela pense que meus filhos não tem uma boa base, não quando nossos nomes estão no livro de linhagens!”

O som dos latidos de Sir Lancelot me alcançava em meio ao trabalho, um indicativo de que a tulipa deveria estar brincando e se divertindo, o jovem cão havia abandonado a figura pequena do filhote e embora ainda fosse jovem já demonstrava sua personalidade esperta e ativa.

A entrada de Theresa fez minha pequena aparecer por entre os vasos e gemer alto, a pequena simplesmente amava Thesa e não negava isso a ninguém, as palavras da jovem me fizeram sorrir curiosa, mas a declaração de que havia se tornado aprendiz de Alfie foi uma surpresa maravilhosa.

Tomando-a nos braços eu a beijava na face rindo feliz apenas para comentar de maneira suave.

– Parabéns querida! Ele vai te ensinar tanta coisa, tanta! Mas se ele tentar te roubar eu mordo ele até ele te soltar.

Rindo com carinho eu a soltava para passar a mão por seus cabelos com delicadeza.

– A noite está perfeita como sempre, melhor agora que meus queridos estão tramando essa surpresinha. Você pode me adiantar alguma coisa ou eles pediram segredo Thesa?

Roupa Pietra:

A jovem abria um largo sorriso dentro dos seus braços e a apertava com carinho para então dizer:

-Fique tranquila Pita! Ele será apenas meu professor, eu sempre amei fotografar mas nunca estudei realmente sobre o assunto, sabe, sobre imagens, construções de cenas e afins. Mas você sempre será a minha Senhora!

Dizia a jovem que agora saia sutilmente dos seus braços e ouvia sua pergunta com uma expressão pensativa. Enquanto ela tomava um curto tempo para pensar, a sua pequena se aproximava e cheirava a mão esquerda dela, revelando a ti um cheiro familiar de mármore.

-Sabe, eles não pediram segredo. Mas acho que esqueceram por estarem bem eufóricos, já sei! Vou lhe dar uma dica: Eles querem saber como era a sua vida na Itália. Isso ajuda?

Questionava a sua vassala, que instintivamente escondias as duas mãos para trás das costas e exibindo um sorriso mais brincalhão e divertido.

O sorriso de Theresa me deixava feliz, ainda mais com suas palavras sobre aprender, era claro que Alfonsus não a roubaria, mas de certa forma era divertido brincar com a hipótese.

– Isso lhe fará tão bem minha querida, tens um talento inegável, mas todo talento precisa de uma base. E não se preocupe, posso inventar outro motivo para morder Alfonsus.

Respondia ao soltar Theresa, a forma pensativa que ela tomava e o cheiro de mármore que minha pequena captava de suas mãos fez meu coração saltitar, talvez aquela fosse a noite em que finalmente começaria a ensinar meus filhos, um sonho simplesmente lindo.

– Se for o que eu estou pensando, então serei a mais feliz das mães!

Comentava sentindo a pequena saltitar a nossa volta de animação, ela amava o cheiro de mármore e só de pensar em ter seu Renz e Lot a brincar com a pedra era demais para seu coração.

“Isso vai deixar Violetta tão orgulhosa! Preciso tanto apresentar os dois a ela!

Entrelaçando meus braços ao de Thesa eu esperava que ela me guiasse até meus amados filhos.

-Vocês são tão lindinhos juntos, sabia disso Pita?!

Comentava Thesa com um tom bem descontraído na fala, para logo aceitar o seu convite e entrelaçar os braços contigo, mas tomando cuidado para esconder as possíveis sujeiras debaixo da unha por causa da manipulação com o mármore, todavia, a sua pequena que as seguia bem de pertinho, não parava de cheirar e apontar para a mão da Thesa, soltando pequeninos gemidos empolgados.

-Bem, vamos lá! Mas sinceramente, eu acredito que você tem sim todas as razões desse mundo para ser a mãe mais feliz de todas!

A fala da jovem vinha quando vocês adentravam a casa, logo antes de subir para uma das varandas. Sua pequena apontava prontamente para as janelas fechadas e todo um cuidado para o isolamento da varanda. Especialmente porque ali, sob a brisa quente dos ventos de Berlim, seus olhos encontravam a linda imagem de seus dois filhos, usando roupas de época e com sorrisos bem divertidos na face. Os dois estavam de pé e haviam três grandes blocos de mármore postos sobre plataformas de madeira e base de ferro, exatamente como era no seu primeiro ateliê ainda em Florença. O processo inicial de polimento da pedra para que esta ficasse plana e sem falhas já havia sido feito e ambos estavam já com uma boa quantidade de pó sobre suas vestes.

-Prontinho...

Dizia Theresa, nesse instantes os dois se viravam e gritavam juntos. "Surpresa!".

-Mãe, venha nos ensine a esculpir! Nossa modelo será a Thesa!

A vassala se assustava com a noticia e ficava vermelha, Lorenz sorrindo se aproximava para comentar:

-Praticamos os primeiros passos em segredo com Alfonsus, mas foi apenas para que quando chegamos até você, pudéssemos extrair o máximo do seu talento incomparável mãe.

Afirmava seu filho com um voz bem carinhosa e convicta de que eles haviam tomado as decisões corretas.

As palavras bem-humoradas de Theresa me fizeram rir, estávamos mais do que nunca felizes, ainda mais agora que aos poucos Alfonsus tomava o papel de patriarca da família, mesmo não se impondo em tal papel.

– Você também é lindinha! Ainda mais quando está aprontando algo com a Lena!

Sendo cuidadosamente guiada eu podia sentir a animação de minha pequena crescer, o claro cheiro de mármore era inconfundível, e nó o amávamos com a mesma intensidade do que a chuva.

“Eu vou dar aulas a meus filhos, isso não poderia ficar melhor.”

Talvez para minha surpresa havia sim como a aula melhorar, ver a figura de Lorenz e Lotte usando trajes de época me fez rir feliz, ainda mais quando Thesa ficava vermelha em descobrir que seria nossa modelo.

Tomando as mãos de Lorenz eu escutava atentamente a suas palavras apenas para concordar com um breve aceno.

– Perfeito! Voces já tem as bases, eu vou adorar criar os detalhes! Mas não posso fazer isso sem acompanhar a beleza de vocês dois meus amores! Veja só como estou vestida!

Sem me importar em sujar minha roupa eu abraçava Lorenz enquanto minha pequena claramente pegava Lotte pelas mãos e a trazia para o abraço.

Lorenz a abraçava com bastante carinho e Lotte não demorava para também se aproximar e participar daquele abraço carinhoso e divertido. Afinal a sua pequena se espremia por entre os braços e gemia manhosa por atenção. E ali para a sua surpresa, os seus dois filhos riam por conseguir notar a presença da pequena.

-Mãe, lógico que teríamos uma roupa para você! Afinal, hoje é a noite de nossa primeira aula e decidimos propor uma pequena brincadeira.

Lotte completava:

-A brincadeira é "Uma visita ao passado". Ou seja, estaremos aqui como se estivéssemos lá nos anos de quando você era tão inexperiente como nós somos agora! Por tanto, seu vestido está logo ali!

Lorenz então a conduzia com o auxílio de Lotte, para depois de onde as pedras estavam e ali você via um bimbo de madeira bem antigo e atrás do mesmo haviam três trocas de roupas femininas, mas apenas uma estava totalmente revelada e não encoberta por panos brancos.

-Vamos mãe, iremos te ajudar a trocar de roupa e assim poderemos começar! Essas outras duas vestes são para nossa linda modelo... Não ouse tentar fugir Thesa! E a outra é para nossa convidada de honra!

O abraço carinhoso de Lorenz logo foi saldado por Lotte, e ali no meio mais por enxerimento do que por outra a coisa a pequena se infiltrava resmungando por atenção, para nossa surpresa nossas rosas reagiam a ela, nesse momento não havia como negar a felicidade da pequena que ria feliz quase chorando, soltando-se do abraço a pequena corria pela sala numa tentativa de extravasar sua euforia, ela amava suas rosas e ser vista por elas era um sonho.

Rindo eu acompanhava de perto as palavras de Lorenz e Lotte, a pequena surpresa ganhava um contorno muito mais divertido do que eu poderia imaginar, ainda mais com a pequena tão feliz como estava.

– Adorei a surpresa, pois bem me trocarei e então prepararemos nossa modelo. Mas posso ficar com o tênis? Os sapatos da época eram tão duros!

Perguntava ao adentrar o biombo apenas para apreciar o vestido escolhido para ocasião, sorrindo eu me voltava para meus filhos com carinho, aquela seria uma bela noite de trabalhos em conjunto.

– Não pense em fugir Thesa, ou eu mesma irei atrás de ti! Agora me digam, quem será nossa convidada de honra?

Vendo a pequena finalmente se acalmar, ela se aproximava para bisbilhotar as roupas ainda cobertas.

“Tenho que recompensar Alfonsus com mais uma noite de cachos! E esses dois é claro, eu os amo tanto!”

-Será que deixamos a mãe de tênis, não sei, acho que vai quebrar um pouco né Renz?!

Lorenz olhava para o seu tênis com uma expressão bem pensativa, para logo então balançar a cabeça negativamente e dizer:

-Não, não... Não há razões para que a brincadeira não possa ser levemente adaptada! E se conheço bem nossa mãe ela certamente ficaria descalça, né mamãe?

Comentava Lorenz com um largo sorriso na face, Lotte concordava e prontamente corria para buscar Thesa, enquanto ela ia buscar a jovem, teu filho já dava inicio aos auxílios necessários para tua troca de roupa. Assim que esta terminava, Lorenz olhava na direção da sua pequena e dizia:

-Venha cá lindinha, você é nossa convidada de honra. Serás a mecenas! Teu vestido é esse aqui!

O rapaz puxava o pano, revelando um lindo vestido branco e uma coroa de princesa. A besta gemia feliz e dava pulinhos alegres no mesmo lugar, para em seguida correr o mais rápido que conseguia para se atirar nos braços de seu filho. A mesma era abraça com carinho e girada no ar em meio de uma brincadeira bem divertia.

Enfim Lotte chegava com Thesa, de braços trançados com os dela, a sua filha a levava até o outro suporte de roupas e revelava um lindo vestido com uma forte inspiração greco-romana. E assim a jovem rosa negra afirmava:

-Ficarás linda neste vestido querida!

Thesa suspirava e balançava a cabeça positivamente.

-Estou começando a realmente adorar essa ideia! Me ajudem com esse vestido? Nunca usei algo assim antes, não sei nem por onde começar!

Confessava a vassala com um sorriso cristalino na face e com os olhos claramente direcionados à ti.

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Ver Lotte perguntar sobre o tênis me fez apertar suas bochechas e morder seu nariz em uma clara retaliação carinhosa, rindo eu me voltava para Renz concordando com um breve aceno.

– Ficaria sim descalça, alias era assim que eu esculpia quando mortal, vivia com os pés sujos de tinta e mármore.

Auxiliada por meu filho eu trocava de roupas, o toque do tecido me fez suspirar, haviam anos que não usava algo parecido e de certa forma uma saudade apertava meu coração, dobrando as longas mangas eu ainda amarrava meus cabelos para atrás garantindo que eles não iriam atrapalhar o trabalho.

“Essa noite iremos começar a trabalhar a forma... Levaremos alguns dias até os detalhes, mas não temos pressa!

Rindo com a empolgação de minha pequena, eu sorria diante do tamanho mimo que ela recebia, podia sentir cada onda de euforia invadir meu coração da mesma forma que pulsava na pequena, e essa era uma cena linda, ainda mais com tanto carinho.

O vestido preparado para Thesa me deixava animada, o caimento ficaria lindo com o tom de pele e os olhos amendoados, algo que deveria ser captado em toda a essência de nosso trabalho.

– Precisamos de uma posição confortável para você Thesa, mas não se preocupe, você não vai ficar nela por tanto tempo, apenas quando precisarmos ver os detalhes.

Comentava animada ao correr para diante do mármore que usaria para talhar, minhas mãos o tocavam com carinho procurando a forma que ele escondia, algo que sempre fizera e copiara de Michelângelo.

“Você não gostava de modelos não é meu querido, mas tens que concordar que eles nos ajudam a visualizar...”

Lotte soltava o lindo barulho que sempre acabava por expressar quando era mordida daquela maneira, o pequeno som que alegrava profundamente a sua pequena, que apesar de muito feliz ainda parecia simplesmente hiperativa demais por conseguir ser vista por seus filhos. Lorenz logo então pegava seus cabelos, assim que a roupa estava perfeitamente posta em ti, passando as mãos por eles em um carinho muito gentil, teu filho sorria para enfim comentar:

-Você ficou muito mais perfeita do que eu imaginava Pita, agora entendo porque tantos corações!

Thesa era enquanto isso ajudada por Lotte, a jovem escondida as intimidades, mesmo usando roupas intimas por baixo das vestes, em uma demonstração de vergonha que arrancava um suspiro da sua filha e fazia a sua pequena sorrir gentilmente.

-Er... Ficou bom?! Eu não... er, não seria melhor chamar Lena para isso?

Sua filha logo retrucava:

-E porque? Se é você que nos inspira querida?! Você é linda, não te escolhemos atoa, você será a nossa musa pra essa obra e vamos ajudá-la a sentir-se como todos nos a vemos, não é mãe?!

A pergunta da jovem era feita quando você e Lorenz já estavam diante do mármore, a besta que estava claramente tentando pegar a coroa para por na cabeça antes de usar o vestido parava a ação para olhar na sua direção, claramente pedindo para que você ajudasse a amada vassala.

O pequeno e maravilhoso barulhinho de Lotte me fazia rir, ainda mais quando a pequena estava tão afoita impedindo nossos filhos de ve-la. Os toques suaves de Lorenz em meus cabelos e seu elogia me deixaram feliz, abraçando-o com carinho eu o apertava apenas para comentar de maneira convencida.

– Eu nasci e fui criada nessas roupas, é claro que ficariam lindas! Mas sinceramente nada supera uma boa calça, ainda mais porque eu posso molhar elas sem que você puxe minhas orelhas!

Rindo de meu comentário meus olhos encontravam o desconforto de Thesa, o claro pedido de minha pequena me fez sorrir, a pequena amava Theresa com tanta intensidade que fazia meu coração doer de tantos cuidados, era como se a pequena soubesse de algo que apenas o futuro nos diria.

Andando até Thesa eu tomava suas mãos para beija-las com carinho, com cuidado tomava sua face encostando minha testa na sua apenas para sorrir.

– Escute bem minha querida, Lena é linda, uma das mulheres mais lindas e seguras que eu já vi, mas ainda é jovem e inexperiente ao contrário de você. Você é linda minha querida, possui uma beleza suave e inspiradora, uma beleza que pode amolecer o mármore que iremos trabalhar.

Tomando Thesa pelas mãos eu a colocava a frente das três pedras, sentando-a na namoradeira para segurar com carinho suas mãos.

– Veja só essas mãos, elas são lindas. São mãos de quem conhece o trabalho e tem força, aos meus olhos isso supera qualquer beleza, por favor me deixe esculpi-las minha querida?

“Lena poderia ter qualquer homem aos seus pés, mas esses olhos, esses olhos domariam um leão se assim quisessem!”

Seu filho concordava com um sorriso na face, controlando a pequena vontade de rir quando você mencionava o cuidado que ele tinha com as próprias criações, algo que todos aprenderam rapidamente a evitar: Danificar uma das obras de Lorenz ou Desorganizar seu ateliê. Todavia a atenção de vocês era conduzida pela besta que reforçava a urgência de dar atenção a Thesa e assim então, você o fazia. A jovem ficava inicialmente parada a sua frente, com uma expressão acanhada e um sorriso curtíssimo nos lábios, aceitando ser conduzida até a namoradeira, para enfim respirar fundo e balançar a cabeça positivamente.

-Obrigada Pita, você é sem dúvida alguma muito especial para mim. Não só pelo sangue que nos une, mas sim pela amizade que sempre me ofereceu e o carinho que nunca antes tive em minha vida. Será uma alegria poder ser a sua inspiração para o retorno depois de tantos anos ao mármore... Sim, eu adoraria!

Os olhos dela brilhavam em uma emoção muito forte e ela logo te abraçava. Lotte ficava totalmente admirada pela cena enquanto Lorenz suavemente ia até a sua pequena afim de ajudá-la a vestir-se. Enfim, após o abraço que acalmava a sua querida vassala e amiga, Lotte também ajudava o irmão a preparar a convidada de honra enquanto você tinha total liberdade de escolher a posição em que Thesa ficaria.

-Prontinho mãe!

Dizia Lorenz, abrindo espaço para que a pequena fizesse um pequeno desfile com a coroa sobre os cabelos e o lindíssimo vestido branco. Até sapatinhos de cristal ela estava a usar! E ali ela andava como uma verdadeira princesa até sentar-se na cadeira a ela reservada, empinar o nariz e bater duas palminhas. Exatamente como os nobres da antiga florença faziam quando davam permissão para os artistas começarem seus serviços.

Rindo com suavidade da pequena brincadeira com Lorenz, minha atenção era chamada pela pequena para Thesa, e ali eu demonstrava todo o carinho que tinha pela jovem de olhos tão belos e mãos fortes.

Com delicadeza eu a acalmava e nutria seu coração, haviam feridas ali, feridas que precisavam de atenção e ao mesmo tempo de espaço para se esporem, abraçando-a com carinho eu beijava as faces de Thesa, suas palavras me faziam sorrir de alegria, eu conhecia bem os efeitos que o laço entre vassalo e senhor criavam, mas de alguma forma aquelas palavras eram sinceras e isso me alegrava.

– Sempre serás minha amiga querida, sempre. Isso é acima de tudo o cerne de nossa relação. Agora eu prometo que vou fazer valer a pena esse retorno ao mármore, minha querida. Vamos achar uma posição confortável sim!

Escolhendo uma pose confortável para Thesa, a colocava deitada e com as mãos em destaque, elas seriam o cerne de minha escultura, mas ainda assim meus filhos poderiam escolher seus próprios moldes a vontade.

Virando-me para ver minha pequena já arrumada, a risada que me escapou dos lábios era um indicio claro que de ela a pequena estava a se aproveitar da brincadeira, ainda mais quando os tapinhas eram dados como uma permissão a iniciar os trabalhos.

– Bom, vamos começar então! Quando esculpimos o fazemos por camadas, é um trabalho lento mas que tem de ser feito para aproveitar cada pedaço da pedra. Quero que vocês dois esbocem com carvão uma forma básica nos quatro lados do bloco, a partir disso iremos começar a talhar.

Virando-me para Thesa eu sorria para então beijar sua testa e comentar de maneira breve.

– Tente se lembrar dessa pose, quando você se sentir cansada fique a vontade para se mover, ainda vamos demorar um pouco para chegar nos detalhes.

Andando até meu bloco de mármore eu procurava pelo carvão afim de riscar a pedra e marcar os esboços.

“Eles já tem uma boa base, mas não custa realçar!”

-Claro vamos sim, obrigada querida!

Respondia Thesa que estava agora claramente mais calma e alegre, as expressões mais tensas de antes pareciam ter sido bem amenizadas e ela até respirava com mais naturalidade ali junto de ti enquanto vocês encontravam a pose. Enfim, você chegava junto do mármore onde seus filhos estavam, ao lado de cada bloco havia uma pequenina mesa improvisada com ferramentas necessárias para o trabalho.

-Certo, carvão primeiro... Camadas, dimensões e proporções. Vamos lá, não vale rir de mim viu Renz!

Lorenz olhava para a irmã e dizia brincando:

-A culpa não é minha se Deus lhe deu o corpo de uma moça e mãos de um homem zarro.

Lotte protestava com um som manhoso, para mostrar o dedo do meio ao irmão e arrancar risadas dele. A besta logo batia palmas chamando atenção e balançava a cabeça negativamente, indicando que não iria tolerar barulhos, ela estava simplesmente adorando ser a princesa naquela situação.

A calma de Thesa me deixava relaxada, era importante que ela estivesse bem consigo mesma, assim seria possível encontrar detalhes despercebidos, detalhes que marcariam o mármore de maneira única.

A frente do meu bloco eu o contemplava por alguns instantes, instantes suficientes para reconhecer a imagem ali presa, sorrindo eu acompanhava a pequena briga e implicância de meus filhos, a força de Lotte ainda era um problema, algo que a jovem estava aprendendo a conter.

Mas a pequena parecia disposta a roubar a cena, as palmas e a clara feição de desgosto me fez rir, ainda mais porque eu sabia bem que ela estava gostando daquilo.

– Vocês dois criaram um monstrinho, sabem disso né?

Eu perguntava ao me aproximar de Lotte e lhe beijar a fronte com carinho, colocando a mão sobre seu ombro eu a abraçava para só então tomar uma de suas mãos e estuda-la com atenção.

– Você deve estar usando potência sem saber, pense em coisas macias, o mármore só é duro por fora, mas quando se trabalha nele ele é macio e moldável, por isso seus pulsos tem que ser suaves.

Comentava ao massagear a mão e pulso de Lotte enquanto lhe explicava como agir.

“Ela domina bem a potência, mas tem que aprender a desliga-la, as pias do castelo agradecem!”

-Mas ela é tão fofinha mãe! É difícil sabe?!

Confessava Lorenz com uma expressão de culpa na face, mas tentando ser o mais sutil possível com o assunto. A pequena claramente adorava ouvir aquelas falas e já se aproveitava para sinalizar à Lorenz que estava com fome, apontando para a própria boca e depois fazendo com as mãos uma concha, como se estivesse a segurar uma maçã. O rapaz não a atendia de imediato, mas você via nos olhos dele a vontade que sentia de simplesmente acatar a todos os desejos da sua pequena.

Sua filha não resistia ao seu abraço e se ajeitava dentro do mesmo para então olhar as próprias mãos e posteriormente o mármore.

-Coisas macias, tipo a face do Renz?!

Ela ria com a própria brincadeira e depois balançava a cabeça positivamente.

-Entendi, bem, obrigada pela ajuda mãe. Eu preciso conseguir entender que não é tudo uma questão de força, por sorte a nossa modelo é lindíssima! Só preciso lembrar dos olhos dela...

O elogio deixava a face de Thesa totalmente vermelho e a mesma desviava o olho por alguns instantes de vocês, sorrindo feliz por ter recebido aquele elogio.

As palavras de Renz sobre a pequena me fizeram concordar com o mesmo, isso é claro a pequena não deixava passar nenhum detalhe e já tratava de pedir uma maçã ao seu adorado Lorenz.

– Eu sei, mas ela gosto de abusar disso, eu sei que vai!

Voltando meus olhos para a pequena eu levantava os três dedos indicando que ela só teria três pedidos a Lorenz, era o mesmo aceno que fazia quando ela estava a pedir coisas demais a Cesco.

“Eles querem esculpir, vão te mimar sempre sua boba!

Deixando Lorenz desvendar o pedido da pequena eu sorria ao lado de Lotte, o carinho de minha filha me enchia o coração de amor, ainda mais quando suas palavras pareciam compreender bem o que eu havia dito.

– Sim com toda a certeza minha querida, Thesa tem olhos lindos não é?! Lembre-se precisamos da força para quebrar as camadas mais duras, mas durante o trabalho aprendemos a controlar ela, e com o tempo nossos movimentos se tornam mais leves e fluidos.

Comentava ao depositar o carvão sobre as mãos de Lotte, o tempo daria segurança as mãos de minha filha e eu estaria ali para ajudar a cuidar da força necessária para moldar o mármore.

-Por sorte eu já preparei tudo!

Afirmava seu filho com um sorriso divertido na face, abaixando-se para puxar uma cesta que estava escondida debaixo da mesa de ferramentas dele e dali tirar uma maçã, para então levá-la até a sua pequena que gemia alegre por ter tido o pedido atendido. A mesma mordicava a maçã quando notava a sua indicação e lhe mostrava a língua como resposta.

-Ela tem os olhos mais lindos que eu já vi, quer dizer, depois dos seus é claro né mãe! Mas você tem razão, o tempo irá me auxiliar e agora contigo ao meu lado eu me sinto ainda mais segura!

Lotte respondia firmando o carvão nas mãos e sorrindo confiante, para então começar a fazer cuidadosamente os pequenos esboços. Renz enfim retornava e já dava inicio também aos trabalhos, ali você notava que a percepção das formas de Lorenz eram impecáveis e extremamente realistas, já Lotte conseguia captar mesmo nos rascunhos a essência da figura de Thesa, alcançando traços bem bonitos e expressivos mas pouco realistas e muito mais idealizados.

A pequena surpresa de Lorenz para minha pequena me fez rir, meu filho havia pensado em tudo e isso era uma alegria, ainda mais para a pequena que recebia sua maça e mostrava sua língua em resposta aos meus dedos, algo que me fazia ter vontade de morde-la.

“Não abuse da sorte pequena!”

As palavras de Lotte me deixavam feliz, passando as mãos por seus cabelos negros eu os beijava para então comentar.

– Ainda está cedo, mas haverá um momento em que estarás esculpindo com o auxilio de rapidez, quando isso acontecer seus traços já estarão firmes e suas mãos conheceram a resistência do mármore. E o mais importante, estarei ao seu lado minha querida.

Dando espaço para que Lorenz e Lotte pudessem desenhar em suas pedras eu observava seus traços com carinho e orgulho, as formas idealizadas de Lotte eram um contraste impressionante com as realistas de Lorenz.

“Eles já tem estilo próprio, será lindo ver como se especializam neles!”

Tomando o carvão eu fazia o mesmo processo, desenhando de maneira simples as formas nos quatro lados da pedra, apenas quando terminava é que voltava a passar instruções.

– Agora começa a parte delicada, limpar o excesso da pedra até chegar na parte dos detalhes, nesse momento é importante deixar uma margem de pedra para concertar possíveis erros, por isso o fazemos por partes, primeiro a cabeça, depois o tronco e os braços, entendem?

Havia um lindo sorriso na face de Lotte que realmente adorava receber aqueles pequenos elogios, sua filha tinha uma personalidade forte e você a via crescer a cada noite, especialmente agora que pertencia a um bando junto a espada. Alguns minutos se passavam, com Thesa ali sentada de maneira confortável e a besta fazendo pequenas interrupções para receber furtas de Lorenz e criticar a os traços do mesmo sem nenhuma razão aparente, apenas para manter a personagem que ela estava amando interpretar. Era curioso como ela imitava uma das antigas Toreadores de Florença, Lady Montpellier, sempre muito exigente e de uma personalidade chata que incomodava profundamente Elonzo e arrancava sempre expressões exaustas de Alfonsus.

-Bem, acredito que entendemos não é mesmo irmã?

Questionava Lorenz, a jovem respondia o irmão com um sorriso e um balançar de cabeça. E o mesmo prosseguia falando:

-Pietra, digo...Er...

O rapaz parava um pouco de desenhar, depositando o carvão sobre a mesa e esfregando as mãos. O nervosismo começava a nascer nas expressões corporais do mesmo e ele enfim tomava coragem para falar:

-Mãe, eu gostaria de fazer parte da Camarilla. É algo que eu tenho pensado com bastante calma através dos anos e venho conversando e estudando bastante sobre a sociedade a qual pertenço agora... Isso seria desrespeitá-la? Porque eu nunca, em hipótese alguma faria ou pensaria algo nesse sentido!

O sorriso de Lotte enchia meu coração de alegria, minha rosa era forte e a cada nova noite sua força crescia de forma explendorosa, sua participação no bando porem lhe servia bem como um canal de aprendizado.

A pequena cena que ali se montava deixava claro o quão bem estava minha família, a pequena porem parecia incapaz de abandonar seu apreciado papel fazendo com que eu a olhasse volta e meia e risse disso, afinal ela havia encarnado uma das toreadores mais complicadas que eu já havia conhecido.

“Espero que Lady Montpellier esteja bem, afinal eu não me lembrava dela ser tão impertinente.”

As palavras e a tensão de Lorenz me chamaram a atenção, o pedido de meu filho era curioso, ainda mais a forma que ele o fazia. Soltando o carvão sobre o mármore eu tomava a iniciativa de andar até Lorenz para lhe tomar as mãos com carinho e beija-las.

– Ouça bem meu filho, esse pedido não me ofende em nada! És minha rosa branca, meu legado para com a arte de nosso clã, assim como Lotte é meu legado com a Espada, mas o mais importante, quero que vocês sejam livres para escolherem seus caminhos! É isso o que mais quero!

Respondia com carinho, tomando as faces de meu filho eu o beijava com ternura na testa, Lorenz era acima de tudo meu herdeiro, aquele que tomaria conta de tudo quando eu por fim adormecesse.

– Não sai da Torre porque quis, isso me foi imposto. Jurei na noite em que o criei que não imporia nada a vocês dois, mas lhe peço cuidado meu querido, cuidado porque muitos se lembram de minha face, muitos acreditam que não sou digna do que conquistei e eles estão errados. Falarás com Elza e pedirás a benção dela, posso lhe garantir que ela cuidará de você como um filho, e quando Violetta acordar pedirás sua tutelagem, assim eu sei que nenhum mal lhe acometerá, não sem que garras peguem o culpado. Mas faça aquilo que lhe fizer feliz meu querido Renz!

Lorenz tinha os olhos totalmente tomados por uma onda avermelhada, os lábios do seu filho e herdeiro tremiam suavemente enquanto ele esforçava-se para não chorar copiosamente em sua frente. Não por receio de demonstrar fraqueza, mas sim para também não provocar o teu choro. Lotte por outro lado os olhava com um sorriso leve e pequeno nos lábios, comentando de maneira divertida apenas para tirar um pouco do peso da cena:

-Você fica fofinho com essas manchas escuras nas bochechas irmão!

Lorenz deixava uma risada incontrolável escapar-lhe os lábios e o mesmo prontamente a puxava para um abraço apertadíssimo, era a primeira vez que o rapaz deliberadamente sujava uma da próprias obras e ele o fazia exclusivamente para abraçá-la com todo o amor que possuía.

-É uma enorme honra ter sido seu primeiro vassalo e ser hoje teu filho, minha amada mãe, minha constante inspiração e eterna luz! Meu maior sonho é simplesmente fazê-la sentir-se orgulhosa de tudo que eu sou e represento, sei que muitas más línguas tentarão erguer mal dizeres, sei que muitos irão levantar seus narizes. Mas eu aprendi de perto, olhando-a com atenção, como tecer as teias necessárias e o momento exato de mostrar meus espinhos! Pois sou o filho de Pietra Rafaldini e carrego dentro de mim com muito orgulho toda sua herança. Obrigado por me dar esta permissão mãe e saiba que irei pedir a benção de Elsa e irei fazer tudo que for necessário para conquistar a dádiva de ser pupilo de Violetta!

Assim que Lorenz mencionava pela primeira vez o nome de sua mãe em voz alta, um vento forte e quente cruzava a varanda, fazendo os panos se moverem e os vestidos balançarem reféns do mesmo. A besta pulava alegre, pois o vento trazia consigo o perfume favorito de sua mãe. Por alguns instantes seus olhos conseguiam até ver a imagem translucida dela, Violetta, pequenina como sempre e gigantesca em sua presença, a caminhar suavemente por entre os blocos de mármore e sorrir para Lorenz.

Era algo brevíssimo, mas que lhe deixava claro: O despertar de Violetta não iria demorar! E ela estava mais obstinada do que nunca antes esteve, além é claro de estar observando-a de muito perto!

-Vocês são uma família tão maravilhosa, é uma felicidade única poder estar diante de tanto amor!

Comentava Thesa, mas ali você via Violetta olhar na direção da jovem e movimentar os lábios para silenciosamente dizer em francês: "Você também pertence a esta família, minha jovem". Prontamente o vento cessava e com ele a presença temporária de sua mãe também. Seus filhos olhavam confusos para a imagem da pequena que dava tchau bem feliz para o nada.

-Obrigado mãe! E sim, vamos continuar os trabalhos!

Comentava Lorenz com um sorriso empolgado, o jovem então colocava-se a seguir suas instruções, sem se importar com a as manchas que haviam em sua face. Lotte também fazia o mesmo, bem mais segura de si ela começava a usar a força latente a seu favor e não mais como um fator negativo. Já Thesa, apesar do leve avermelhar da face, seguia tranquilamente sentada em sua posição por mais alguns minutos.

O tempo transcorria ali naturalmente, enter pequenos sorrisos e lições que você poderia enfim com seus filhos, era a primeira de muitas aulas e você tinha certeza disso. A sensação de nostalgia no entanto se agravava quando o som de um cello vinha da sacada do andar superior, não era necessariamente um toque cheio de talento, mas sim de alguém aprendendo a tocar o instrumento. Sua besta pulava na cadeira, segurando a coroa para que a mesma não caísse e ria alegre ao apontar pra cima. Afinal, ali dava para ter uma visão parcial da sacada do andar superior e ali você via a figura de Alfonsus de costas, a lecionar música para suas duas rosas. Cada uma com um cello entre as pernas e partituras afrente de si... Seus olhos ainda notavam que os longos cabelos dourados de Eva estavam a aparecer na namoradeira posta lá na sacada onde Alfonsus ensinava as filhas. O relacionamento entre sua musa e o gigante havia se desenvolvido rapidamente, os dois eram como adolescentes apaixonados e desgrudá-los era realmente uma tarefa difícil.

-Mãe, eu devo confessar... Eu não poderia estar mais feliz!

Comentava Lorenz, para ser então acompanhado de Lotte, a jovem dizia fazia uma curta pausa nas milimetricas ações no mármore para apontar para Alfonsus e dizer:

-Mãe! Tive uma ideia, porque não levamos nossa felicidade até eles lá em cima? Podemos entrar jogando um pouco desse pó sobre o Pai, que tal?

Essa era literalmente a primeira vez que Lotte referia-se a Alfonsus como "Pai" o título normalmente pertencia exclusivamente a Freddy e era um passo inusitado dentro da dinâmica que havia na mansão, afinal, Alfonsus já não era mais seu irmão mais velhos a bons anos.